Entrevista: Violins

Uma das bandas independentes mais produtivas do Brasil vem de Goiânia. Desde 2001, o Violins agita o cenário indie do Centro-Oeste com composições sensíveis e um som que sempre chamou a atenção da crítica especializada e do público por onde passa, seja em festivais, rádios ou na Internet, onde eles disponibilizam seus álbuns para download gratuito. O mais recente, Direito de Ser Nada, dá continuidade à boa discografia (já são sete discos ao todo e com mais um a caminho) e pode ser baixado no site oficial da banda. Conversamos com o vocalista e guitarrista Beto Cupertino sobre a carreira do Violins, o hiato em 2009 (anunciado na época como fim da banda), videoclipes e o que mais virá por aí.

Música Pavê: São sete discos feitos em onze anos de Violins – uma proporção de lançamentos que nem sempre a gente vê por aí. Essa é uma das vantagens de ser independente?

Beto Cupertino, da banda Violins: Acho que sim. É difícil fazer comparação porque sempre fomos independentes, nunca tivemos uma gravadora bancando, então não sei dizer se poderíamos ser tão produtivos numa gravadora, mas certamente seriam outras condições. Um dos lados bons de ser independente é poder fazer o que se quer. Apesar disso, creio que há artistas que fazem o que querem também em grandes gravadoras. Isso não chega a ser uma regra: “se você está numa gravadora, não pode fazer o que pensa”. A vantagem de ser independente é que você não tem escolha: você vai fazer o que der na telha, seja isso bom ou ruim (risos).

MP: “Alimentar” uma produção tão frequente também não deve ser fácil. Vocês são do tipo que compõe o tempo todo, daí entram no estúdio e escolhem algumas dentro de um mesmo conceito para um disco, ou vocês escrevem as canções tendo já uma temática ou ideia específica para o álbum?

Beto: Depende muito de fases. Tem hora que estou mais para compor músicas de determinada forma, outras vezes de outras formas, e também tem hora que não consigo compor nada. Os discos nascem nesses momentos em que componho uma certa quantidade de músicas e elas vão ter um mesmo clima, uma mesma atmosfera, então eles acabam refletindo esses momentos. Quando vamos para o estúdio, normalmente já está tudo definido, cada integrante já tem sua parte composta e definida, ficando muito pouca coisa para acertar dentro do estúdio. Fazemos sempre uma pré-produção bem cuidadosa.

MP: Você canta bastante em primeira pessoa. São músicas sobre você mesmo ou sobre histórias que você ouve ou observa, daí prefere passar para essa voz?

Bento: Existe uma ou outra música que pode falar de algo que vivi pessoalmente, que me influenciou, mas a grande maioria das músicas, mesmo as em primeira pessoa, não tratam de relatos pessoais, não falam de algo que aconteceu realmente comigo. Muitas são ficções, podem até ser inspiradas em algo que aconteceu comigo ou que vi/ouvi, mas na hora de fazer a letra sempre surge muito de ficção. Acho mais legal criar personagens e “interpretá-los” em primeira pessoa do que fazer relatos pessoais sobre acontecimentos reais da minha vida.

MP: O Pélico nos contou uma vez que em seu primeiro disco ele notava que as pessoas ficavam impressionadas, enquanto no segundo elas ficam emocionadas. Você consegue distinguir diferentes reações para cada um dos álbuns do Violins também?

Beto: Acho que a atmosfera do disco pode direcionar até certo ponto essa forma como a pessoa ouve a música. Se você faz uma música com a intenção de passar beleza, a reação de quem se identificou com ela é a emoção. Se você faz uma música de protesto, a reação de quem se identifica com essa pode ser a indignação, a concordância. Enfim, acho que a reação das pessoas é muito guiada pelo que a banda quer passar com essa música. Num show, principalmente, dá pra notar essas diferentes reações a uma música, mas acho que isso é uma percepção comum a todos aqueles que fazem música, não é nada especial de uma ou outra banda.

MP: O hiato que vocês tiveram em 2009 foi anunciado como o término das atividades da banda, mas acabou durando apenas um ano. Como foi o processo de “volta” da banda, de anunciar o retorno para público e para a mídia? Houve algum tipo de resistência, alguém que estranhou a notícia?

Beto: Nós montamos uma outra banda com os remanescentes, e estávamos ensaiando com um repertório já bem extenso. Aí o baterista desse novo projeto teve que abandonar a banda para assumir outras ocupações. Foi nesse período que resolvemos ter uma nova conversa com aqueles que tinham saído do Violins e convencê-los a tentar novamente, fazer um novo disco que todos gostassem de tocar e se sentissem satisfeitos com isso. Houve uma concordância e então resolvemos tentar uma vez mais. Agora, sobre a reação do público, foi muito mais legal do que esperávamos, principalmente quando houve o anúncio do término. Recebemos muitas manifestações generosas de muita gente e isso foi a parte positiva desse episódio todo. É normal que haja também críticas, mas somos tranquilos com o fato de que somos instáveis e se isso é motivo de crítica, que seja! De um lado, temos pessoas que nos mandam manifestações de carinho e identificação, e de outro pessoas que nos criticam por ter acabado e voltado, então seria muita insegurança de nossa parte, depois de tantos anos de banda e tantos discos, nos preocupar com quem critica a volta da banda. Isso nunca nos incomodou. Eu acho perigoso dar muita atenção a quem não se identifica com sua música e ficar naquela tentativa de querer agradar também a quem ainda não se identificou com o que você faz. Isso é bobagem. Temos de ter consciência de que toda música que se faz vai invariavelmente tocar algumas pessoas e ser totalmente indiferente para outras. Alguém vai achar massa, alguém vai achar um perfeito lixo. E isso é legal, esteja ok com isso. Parece óbvio, mas nem sempre é, principalmente quando as bandas são novas.

MP: Conta pra gente do clipe Rumo de Tudo. Vocês participaram da concepção toda dele? Quem teve a ideia de gravar à noite, ao vivo, etc?

Beto: Esse clipe foi feito de uma forma assustadoramente rápida, durante nossa passagem por Belo Horizonte em 2011. O Marco Antônio Pereira tinha me pedido uma música para um filme que ele estava filmando e então nos ofereceu como retribuição a gravação de um vídeo. Ele nos apresentou uma idéia e a gente conversou até chegar um denominador comum que a banda também se sentisse satisfeita e foi tudo feito de forma bem simples e ágil. No final, o resultado foi legal, principalmente se considerada a rapidez com que tudo foi feito.

MP: E o que podemos esperar da banda para 2012? Algum novo clipe em mente?

Beto: Estamos começando a filmagem do videoclipe de É Como Está, que deve ser lançado agora no próximo mês. Também já estamos trabalhando na pré-produção de um disco novo, com várias músicas novas, e que será o nosso primeiro disco desde o Grandes Infiéis, de 2005, com a formação de quinteto, com a volta do Léo à banda. Para o início do segundo semestre.

Rumo de Tudo

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4 Comments on “Entrevista: Violins

  1. Yeah! Muito bom, sempre! Desde que comecei a ouvir, nunca enjoei… coisa de 2009 pra cá. Fui descobrindo Violins ao contrário. Dos álbuns mais atuais para os mais antigos. Os shows são sempre muito empolgantes.
    E galera da banda, tudo gente boa… Na faculdade de jornalismo, tivemos o prazer de gravar reportagem (mal feita, mas foi, rs) com o Beto. A atenção e a paciência dele com a gente recebe meus aplausos, rsrs.

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