Entrevista: The Wombats

Com quinze anos de experiência nas costas, a banda britânica The Wombats lançou em 2018 seu quarto álbum, Beautiful People Will Ruin Your Life. Poucos meses depois, ele está prestes a ganhar uma versão estendida nas plataformas de streaming com novas músicas (incluindo a já lançada Bee-Sting) e versões acústicas.

E depois dessa década e meia ouvindo (e discotecando) The Wombats nas festas (que saudades, Naïve e Funhouse), o Música Pavê falou com o baterista Dan Haggis por telefone. Foram só alguns minutinhos, mas deu para tocar em assuntos pertinentes a todos esses anos – e, principalmente, no que essa experiência toda resultou.

Música Pavê: The Wombats começou em 2003, quando o mercado fonográfico estava em plena crise. Ao longo desses anos, vocês viram muitas transformações, da queda de venda de CDs até as plataformas de streaming. Como é para vocês, “do lado de dentro” da história, testemunhar e participar desse processo?
Dan Haggis, The Wombats: Pois é, nós costumávamos fazer nossos próprios CDs para vender em shows – nós éramos terríveis em business, então nunca vendemos nada, acabávamos dando de graça (risos). Essa era a única maneira que tínhamos de fazer nossa música chegar nas pessoas lá no comecinho. Daí veio Myspace, não sei se você se lembra. Era ótimo, podíamos colocar nossas músicas online sem um contrato com gravadora ou selo. Mas foi justamente isso que nos levou a assinar logo em seguida, porque já estávamos fazendo shows, cada vez mais gente escutava nossas músicas, e perceberam que estávamos fazendo algum barulho. Quando nosso primeiro disco saiu, as vendas de CD já estavam baixas, as questões do streaming ainda estavam engatinhando, porque ainda estavam descobrindo como fazer isso em questões de contratos e direitos etc. Muita coisa acontecia em plataformas ilegais. Sinceramente, para nós, a principal diferença agora é a facilidade de ver como as pessoas reagem a uma música. Você pode ver os números toda a semana, e ainda tem as redes sociais também, com reações imediatas. Sinto que muita gente conheceu nosso som por causa do Spotify, Deezer e serviços assim, em playlists ou onde for. Tem sido muito positivo. Não sei como é no seu país, mas ninguém compra CDs por aqui, virou algo do passado. Fico feliz que as coisas seja assim agora. Essa nova dinâmica não afetou a maneira como enxergamos os álbuns, mas percebo que as pessoas ouvem cada vez mais músicas soltas, se concentram mais no top 5, principalmente se não conhecem direito aquela banda. Não é um problema, é só uma diferença que eu noto. Quando eu era mais novo, comprava um álbum e escutava tudo do começo ao fim, depois ouvia mais uma vez, depois outra vez e assim por diante, porque não era sempre que eu podia comprar um CD. Sinto que a música é muito mais acessível hoje, mais do que nunca.

MP: Dá para notar que The Wombats muda bastante sua sonoridade de uma fase para a outra, sempre acompanhando bem o que está acontecendo no cenário musical daquele tempo. Você também enxerga esse diálogo?
Dan: Acho que sim, às vezes não tem como evitar. Olhando hoje para trás, fica mais fácil ver que tínhamos mais energia no primeiro álbum, aos 20 e poucos anos, com uma atitude mais Punk Rock e músicas irreverentes. Não sei se nos encaixávamos tanto em uma cena específica, mas lembra mesmo mais coisas da época. Isso também porque foi um período quando muitas e muitas bandas novas começaram a surgir no mundo inteiro. No segundo álbum, queríamos explorar mais teclados e synths. Nosso selo nos mandou para Los Angeles para trabalhar com novos produtores, o que ajudou a moldar o som. Não era uma questão de pensarmos o que estava sendo feito na época, mas você se percebe envolvido por algumas tendências, sem querer. É interessante ouvir isso de alguém de fora, que você consegue perceber o tempo passando de um álbum para o outro. É engraçado também como, às vezes, vou mostrar uma música nova para um amigo ou alguém da família e, para mim, é a coisa mais diferente que eu já fiz, mas eles falam “ah, sim, isso é The Wombats clássico, oldschool” (risos). Cada um enxerga as coisas de um jeito, é muito interessante.

MP: Como você disse, vocês eram muito novos quando começaram a banda. Ainda nesse assunto, penso que vocês mudaram muito ao longo dos anos, mas ainda é The Wombats com a mesma formação. Então, não teria como o som não se desenvolver também, não é?
Dan: Sim, com certeza. E, a cada disco, você quer se desafiar e explorar novos sons, seja com teclados ou drum machines. Você quer fazer isso como artista, descobrir coisas novas. Nós fazemos música já há 15 anos juntos, nossa amizade cresceu, mudou. Um teve filho, o outro se casou, cada um mora em um lugar diferente hoje. Não tem como não se deixar influenciar por tudo isso também. Mas se tem algo que nós amamos na música é como ela consegue ser uma fotografia sonora, sabe? Ela registra um tempo e um lugar. Quando você ouve uma faixa, ou mesmo quando está tocando ao vivo, vêm essas cenas muito vívidas da época em que você a escreveu. É legal olhar para uma foto e ver como você mudou, a mesma coisa acontece ao ouvir músicas antigas.

MP: Nesse desejo de querer inovar e explorar novos sons, como vocês escolhem os produtores com que trabalham?
Dan: Em Glitterbug, nós trabalhamos com Mark Crew. Foi um cara do selo que sugeriu, fizemos uma música, Greek Tragedy, com ele e adoramos, decidimos fazer um disco inteiro. Ele tinha nossa idade, mesmos gostos. Não queríamos repetir o processo dos dois anteriores, quando gravamos com alguns produtores ao mesmo tempo – nós co-produzimos tudo, então é gente demais no estúdio, queríamos trabalhar com alguém que nos entendesse bem. Para o novo disco, queríamos trabalhar com ele de novo, mas nosso empresário sugeriu que trabalhássemos com Catherine Marks, e o próprio Mark sugeriu que fizéssemos todos juntos. Nós cinco (os dois produtores e nós três da banda) estávamos em três estúdios ao mesmo tempo, com combinações de pessoas diferentes criando sons ao mesmo tempo, depois mostrando uns aos outros, durante umas cinco ou seis semanas. Foi um jeito divertido de trabalhar. Quando você tem uma ideia muito clara do que quer e comunica para alguém, quase sempre a pessoa modifica na cabeça dela pelo menos um pouco do que você disse. Por isso, é importante trabalhar com produtores que te entendem e sabem traduzir suas ideias do seu jeito.

MP: E sobre a nova versão do disco, com faixas a mais, como vocês decidem trabalhar formatos assim?
Dan: Nós fizemos algo parecido com Glitterbug. Nós tínhamos 13 músicas que queríamos no disco, mas acabamos lançando com 11. Depois, nosso selo sugeriu uma versão deluxe com as outras duas. Desta vez, não tivemos tempo de gravar essas outras duas músicas que acabaram ficando de fora. Quando finalmente conseguimos entrar no estúdio novamente, percebemos que não fazia sentido lançar as das individualmente, porque elas fazem parte do álbum, então uma versão estendida foi a melhor ideia. Tem a ver com sua primeira pergunta, sobre como a música mudou ao longo dos anos. Hoje em dia, podemos incluir mais faixas no disco sem ter que nos preocupar com impressão nem nada. Se as pessoas entenderem que as músicas fazem parte do álbum ou não, nem importa. Só queremos lançar o maior número de músicas possível.

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