Entrevista: Sofi Tukker
Uma alemã que se considera brasileira de coração (ela morou no RJ e é fluente em português) e um ex-jogador de basquete norte-americano. Ela cantava bossa nova, ele era DJ. Os dois se juntaram para fazer música juntos e, em pouquíssimo tempo, o nome Sofi Tukker ganhou relevância no cenário da música dançante mundial, com direito a indicação a um Grammy pelo hit Drinkee.
À frente da dupla, vem um grau interessante de autenticidade, já que seu som reúne elementos de diferentes vertentes da eletrônica (do tecno ao house) e conta até com versos de poetas brasileiros (Chacal em Drinkee e Matadora, Leminski em Johny) em suas letras. Eles dizem que “fazemos as músicas que queremos ouvir” e que, por isso, “as novas músicas não têm nada a ver uma com a outra”, nas palavras de Sophie, o que faz Tucker questionar: “Será que dá pra fazer um álbum com elas, porque são tão diferentes?”.
Eles disseram isso ao Música Pavê horas depois de terem aterrissado em São Paulo para seu primeiro show no Brasil (na casa Audio no sábado, 8 de abril), quando nos receberam no hotel para esta entrevista.
Música Pavê: Vocês estão tocando juntos há dois anos e meio, o que é pouco tempo, e já atingiram um sucesso considerável. Como vocês lidam com essas novidades todas?
Tucker Halpern: Para nós, a sensação não é essa, porque trabalhamos muito e não parece que temos tanto sucesso assim. Para quem está de fora e vê algumas coisas que estão acontecendo, pode parecer tudo muito rápido, mas não nos sentimos como se tudo tivesse mudado da noite pro dia. Talvez se estivéssemos tocando há um ano nos palcos onde nos apresentamos hoje, teria sido um baque, mas excursionamos por lugares menores por um bom tempo, o que nos preparou para os próximos passos.
Sophie Hawley-Weld: Quem vê de fora enxerga nossas conquistas, e algumas são bastante grandes, mas ainda somos uma banda pequena tentando se dar bem. Eu não sei o que sucesso significa para nós, mas sei que não sentimos como se tivéssemos chegado lá.
Tucker: Poder tocar no Brasil é um marco significativo, mas, ao mesmo tempo, queremos voltar muitas vezes ainda.
MP: Falando nisso, há muitas bandas que estão trabalhando há mais tempo e sonham em vir tocar por aqui, e vocês já têm essa oportunidade. Se por um lado isso pode parecer surreal, pelo outro faz muito sentido por causa de sua música. Faz sentido vocês virem.
Tucker: (risos) Sempre quisemos vir! Buzinamos muito o nosso agente para conseguir shows por aqui, falávamos “olha quanta gente nas redes sociais dizendo please come to Brazil“, e agora chegamos! (risos)
MP: Tucker, você acha que, agora que está no Brasil, vai conhecer mais sobre Sophie, vai entender um outro lado dela?
Tucker: Hmmm acho que já passei tempo suficiente com ela para conhecê-la bem (risos).
Sophie: Ele não vai querer me conhecer mais ainda (risos).
Tucker: Eu estava falando isso mais cedo, o Brasil se tornou algo grande na minha vida porque é algo grande para Sophie e para o que Sofi Tukker é, e eu nunca tinha vindo para cá. É uma relação estranha que eu tenho com o país, porque há três anos eu não imaginava que eu poderia vir. Eu viajei [antes da banda] para poucos lugares fora dos EUA, então é legal como as coisas acontecerem.
MP: Sobre seus clipes, eu vejo que vocês têm um daqueles casos em que alguém vê algum dos vídeos, de Drinkee a Johny, e logo saca qual é a da dupla. Vocês se envolvem no processo de produção?
Sophie: Cada um deles foi bem diferente do outro, mas somos bastante exigentes, e talvez até difíceis de trabalhar por causa do perfeccionismo – mas eu acho isso bom (risos). Queremos conversar sobre cada um dos detalhes.
Tucker: Eu fico feliz que você saque isso nos vídeos. Nos dois primeiros, quisemos construir mundos que combinassem com as músicas. Já no terceiro, foi diferente, queríamos só dar destaque para umas mulheres fortes, o que faz sentido em um mundo como o que estamos vivendo e com tudo o que está acontecendo nos EUA. Cada um deles tem um significado.
MP: Por falar nisso, poucas semanas antes de Johny sair, vocês lançaram Greed, que é completamente diferente de tudo o que vocês já apresentaram. Como foi a decisão não só de gravar, mas de lançar a música?
Sophie: Há muita raiva e frustração naquela faixa, assim como naquele momento, e eu sou muito grata por poder me expressar tudo isso através da música.
Tucker: A música é nosso saco de pancadas.
Sophie: (risos) Sim, e a satisfação de poder tocar toda noite é muito grande. Eu não sou uma pessoa que costuma andar por aí brava, mas sinto raiva de algumas coisas e é ótimo poder expressar isso ao lado de outras pessoas em volume alto. É catártico.
Tucker: É engraçado tocá-la ao vivo, porque você solta toda essa raiva e essa frustração, mas se sente feliz.
Sophie: É catártico, é isso o que é. Nós começamos a tocá-la ao vivo e ela rolava tão bem que era claro que deveríamos lançá-la, e que ela deveria sair no President’s Day (feriado que honra George Washington, primeiro presidente dos EUA). Nós não estamos separados das coisas que acontecem na política, de tudo o que está rolando no nosso país, então foi bom poder lançá-la.
MP: Eu percebo que vocês têm um público bastante jovem. Lançar Greed tem também a ver com aproveitar a voz que vocês têm com essa geração?
Sophie: Sim. Para mim, é importante que mulheres tenham voz, e que seja uma voz alta, assertiva e raivosa, o que nem sempre foi o caso na minha vida, ou na minha comunidade, não era muito aceitável, feminino, ou apropriado. Poder fazer isso é libertador.
MP: Soft Animals saiu em julho e vocês têm feito muitos shows com esse repertório. Quanto essas músicas estão diferentes agora para vocês?
Tucker: É uma pergunta interessante, porque essas eram as únicas músicas que tínhamos feito antes de fazer shows, e agora compomos já tendo em mente como é apresentá-las ao vivo, como é a reação das pessoas. As faixas de Soft Animals foram feitas no estúdio e nas nossas cabeças sem pensarmos como seria para os outros ouvi-las. Agora, fazemos músicas já tendo em conta que outros vão escutá-las, é um processo diferente. E tem sido uma experiência interessante ver como o EP cresceu, parece que cada música tem uma vida própria. Moon Tattoo é uma música que começou a ter muitos plays recentemente sem que tenhamos feito algum tipo de promoção. É a nossa favorita no disco, mas ela é mais discreta, não sabíamos se os outros iriam gostar.
Sophie: Nós nunca tocávamos essa ao vivo e, agora, é uma das nossas mais populares e temos que tocar sempre.
Tucker: Bem, a gente começou a tocá-la na semana passada…
Sophie: Sim, é verdade.
Tucker: … e você fala como se já fizesse um ano (risos)
Sophie: Tem razão, foi muito recente. Mas eu me empolgo, porque eu amo essa música (risos).
Tucker: Demorou para nós ficarmos à vontade tocando uma música assim no palco.
Sophie: É diferente quando a plateia se mostra aberta ao show, porque sentimos que temos que tocar em um nível muito alto de energia para prender a atenção das pessoas. Mas quando elas vêm para um show já conhecendo nossas músicas, nós podemos fazer uma performance que é mais uma “jornada”, com altos e baixos. E isso vem de um relacionamento que construímos com esse repertório.
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