Entrevista: Selah Sue

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Música feita de corpo e alma – é difícil ouvir Selah Sue e não se impressionar com a verdade de seu trabalho. A cantora belga, que lançou recentemente seu segundo álbum, Reason, faz um som de uma nítida profundidade emocional sem deixar de ser sempre gostoso de ouvir.

Aos 25 anos, com um diploma de psicologia nas costas, ela encontrou o sucesso em 2011 ao conquistar paradas de sucesso e premiações por toda a Europa. E foi de lá, em uma tarde de sol em Lyon, França, que Sanne Putseys (seu verdadeiro nome) conversou ao Música Pavê sobre sua carreira e sua arte, aproveitando o primeiro dia de sol do ano no Velho Mundo e esbanjando a mesma simpatia e sinceridade que notamos em sua música.

Música Pavê: Sua música possui certa espontaneidade ao transitar por tantas referências diferentes, mas sempre resultando em um pop caprichado. Como você compõe?

Selah Sue: Eu nunca penso muito nisso, tudo vem do coração. Acho que o básico é ter músicas boas que funcionam tanto com grande produção, quanto só ao violão ou piano. Eu gosto de tanta coisa – de jazz e eletrônica, de pop, de soul – e eu sempre quero fazer tudo. Há também uma vibe mais trip hop no disco, amo todos esses sons.

MP: O que te inspira para escrever?

Selah Sue: Eu não preciso “viajar” muito, eu encontro inspiração na minha vida emocional. Ela é agitada o suficiente, cheia de altos e baixos. Escrevo de emoções ruins e de emoções boas. Acho que sento e absorvo essas coisas e tudo sai. Acima de tudo, eu encontro tudo em mim mesma, nos meus instintos mais básicos.

MP: Como a expressão “selá” do hebraico casou com sua proposta no projeto artístico, a ponto de servir de nome?

Selah Sue: “Selá” é um convite para a meditação, para pensar e analisar. Eu canto sobre emoções, preciso diariamente visitar o que eu sinto, por isso o conceito combina comigo.

MP: Seus amigos te veem hoje mais como Selah Sue ou como Sanne?

Selah Sue: Ainda tenho muitos amigos de antes de ser famosa, então não mudou nada. E acho que Selah Sue reflete também quem eu sou, mas em um aspecto diferente da minha personalidade. Sabe, no palco, quando sou Selah Sue, tenho mais energia do que quando estou em casa, onde eu não vou estar sorrindo o tempo todo e dançando. Eu não preciso colocar uma máscara, o que é ótimo, porque eu não saberia mantê-la.

MP: Tem uma frase sua muito marcante: “O sucesso não curou minhas feridas”.

Selah Sue: Sabe, eu posso fazer turnê, viajar o mundo todo, e isso é ótimo, mas não quer dizer que vou ser mais feliz por causa disso. Você precisa encontrar sua felicidade na família e nos amigos. Pra mim, isso é bem claro.

MP: Você sabia que teria essa postura na fama?

Selah Sue: Sim, eu sempre tive os pés no chão e nunca desejei ter muito sucesso. Estudei psicologia porque pensei que me tornaria psicóloga, então o que tá acontecendo agora é muito legal e eu curto, é um trabalho que eu espero poder fazer pelo resto da vida, mas não é importante o bastante para eu não conseguir respirar se não pudesse ter mais. A questão é mais poder fazer música, sinceramente. O que eu quero curtir é poder curtir estar em casa com minha família.

MP: E qual a melhor parte do seu trabalho?

Selah Sue: Acho que poder viajar pelo mundo todo, ver tantos lugares. Adoro viajar, estar em um ônibus ou avião vendo tudo. Sabe, o fato de você poder fazer música todo dia é incrível, e ser paga por isso é meio insano (risos). E você é bem cuidada, as pessoas te mimam bastante, você come bem. É uma vida boa

MP: Quando você está em evidência, acaba se tornando um modelo para as pessoas, principalmente as mais novas. Você se preocupa com isso?

Selah Sue: De certa forma, sim. Falo bastante de depressão e de auto-aceitação, e quero deixar claro pras pessoas que, mesmo quando você tem sucesso, a vida pode ser difícil, ainda tem muitos altos e baixos, e eu quero ajudar as meninas a aceitarem quem elas são, porque pra mim isso foi muito difícil. É um papel importante de desempenhar, uma mensagem importante que eu quero espalhar, que tudo começa a partir de aprender e aceitar quem você é.

MP: E como foi trabalhar com Childish Gambino (na faixa Together)?

Selah Sue: Foi muito legal, eu queria uma participação forte naquela música, um bom rapper, e acho ele incrível. Ele veio e tudo ficou pronto em poucas horas. Tivemos uma conexão muito boa.

MP: Ele acabou de tocar no Brasil, no Lollapalooza, o que me traz à última pergunta: Quando você volta ao país?

Selah Sue: Ah, as vezes que tocamos no Brasil foram algumas das melhores experiências das nossas vidas! É um lugar incrível e lindo de tocar, acho que a cena musical é ótima. Eu quero sair em turnê só pra poder tocar no Brasil (risos). Mas eu apenas sigo minha agenda, espero que aconteça ainda neste ano.

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