Entrevista: Scalene
O ano para a banda Scalene iniciou antes mesmo da virada do calendário. O quarteto de Brasília começa a divulgar algumas novidades para 2015, que promete ser tão bom quanto o anterior.
O grupo é formado pelos irmãos Gustavo e Tomás Bertoni (voz e guitarra e guitarra, respectivamente), Lucas Furtado (baixo) e Philipe Nogueira (voz e bateria). Juntos, como uma banda independente, trabalham para tirar do papel todas as suas ideias. Uma delas é a participação no festival South by Southwest (SXSW), um dos eventos mais importantes de música, que ocorre em Março, no Texas (EUA), no qual a banda se apresenta.
Uma semana depois, eles tocam na 4ª edição do Lollapalooza Brasil, em São Paulo. Ainda no primeiro semestre, sai o novo álbum da banda – ainda sem nome -, sucessor de Real/Surreal (2013). Gravado discretamente, sem ser revelado oficialmente, o grupo divulgou apenas algumas imagens de estúdio para causar um burburinho entre os fãs. “A gente não queria gerar expectativas, tínhamos outras coisas acontecendo, como o Lolla e a apresentação no South by Southwest. Queríamos levar a atenção da galera para estas novidades e deixar para avisar sobre o novo disco quando estivesse pronto”, contam.
Em entrevista exclusiva para o Música Pavê, o baixista Lucas Furtado fala como Scalene vem se preparando para encarar 2015.
Música Pavê: Quando começaram as gravações do próximo álbum?
Lucas Furtado, da Scalene: A primeira etapa da gravação foi ano passado, em São Paulo. Gravamos a bateria no estúdio do produtor Lampadinha, que trabalhou com a gente no Real/Surreal. Agora já estamos na pós-produção, finalizando o álbum.
MP: No Real/Surreal vocês gravaram no estúdio da banda. Porque decidiram mudar?
Lucas: Na verdade, apenas o começo foi gravado no estúdio do Lampadinha, mas o restante foi em casa. Preferimos gravar a bateria lá desta vez porque o resultado é melhor. Pensamos no que fazer dentro do orçamento que tínhamos para que o disco soasse melhor que o anterior, e o primeiro ponto foi a bateria. Faz uma grande diferença gravar em bateria orgânica, então investimos nesta parte e fomos para um estúdio separado. As outras partes foram feitas da maneira que sempre fazemos, gravando em casa. Estávamos contentes com o resultado do Real/Surreal e quisemos levar para o próximo disco também.
MP: Vocês têm um produtor no estúdio da banda?
Lucas: Sim, o Diego Marx é o nosso produtor e está com a gente desde o Cromático (2011). Ele também está trabalhando no novo álbum conosco. Ele é praticamente o quinto integrante da banda, viaja junto e faz a mesa de som e luz. Ele opina no que vamos fazer e está envolvido em tudo.
MP: Real/Surreal teve todo um conceito e foi dividido em dois lados. O novo disco tem algo parecido ou segue uma linha de trabalho que foi mostrada anteriormente?
Lucas: Ele não tem um conceito tão denso quanto o outro disco, mas dá para perceber que as temáticas das músicas estão interligadas. Em questões de letras e de harmonias, ele está mais para o lado Surreal do álbum anterior. Esta questão do Real/Surreal era uma fase de transição da banda, do que estávamos fazendo para o som que vislumbramos fazer. E estamos chegando perto, já é um passo mais próximo em direção ao que planejamos.
MP: O que você pode citar de influências para este novo álbum?
Lucas: Ouvimos bastante O’Brother, que também foi uma certa influência para o Real/Surreal, mas que neste está mais presente. Queens of the Stone Age, Radiohead, escutamos várias coisas. Cada um tenta incorporar seu gosto pessoal na sua parte de composição. Temos umas músicas bem diferentes do que já fizemos, músicas até que quando eu escutei pela primeira vez, me deixaram meio surpreso. Com o tempo entendemos e construímos esta nova roupagem que a banda vem assumindo. Agora já acho que tem tudo a ver com o nosso som.
MP: Como funciona o processo de composição da banda?
Lucas: O Gustavo é o principal compositor e já chega com as ideias quase prontas no estúdio. Ele mostra as harmonias e melodias que pensou e a gente desenvolve em cima disso. O Makako cria a levada, eu faço a linha de baixo e assim vai indo. E como o Gustavo e o Tomás moram juntos, para os dois desenvolverem a base da música é muito mais fácil. Claro que tem exceções que surgem no estúdio a partir de apenas um riff. Neste caso é mais colaborativo.
MP: Como aconteceu o convite para tocar no South by Southwest?
Lucas: Curtimos muito a vibe e temos o costume de acompanhar os festivais de fora, sempre mirando participar ou apenas assistir. É algo que gostamos muito. Fomos atrás para ver como funciona, o SXSW leva gente do Brasil inteiro, vários artistas com quem nos relacionamos já tocaram nele. E vimos que é mais fácil do que parece. Não que seja fácil ir lá e tocar, mas qualquer banda pode se inscrever para ter a oportunidade. Fizemos a inscrição com um ano de antecedência, mais ou menos. Até esquecemos, não sabíamos se ia rolar ou não. E aí do nada chegou o convite! É bem legal porque eles analisam bem o seu currículo como banda. Então quer dizer que tudo o que estamos fazendo chamou a atenção da galera do festival. É uma oportunidade bem massa. Eles identificaram um potencial em nós.
MP: Como vai ser tocar para um público que não fala português?
Lucas: Sinceramente, a gente não sabe o que esperar. Não sabemos se tocamos um cover que gostamos ou só música nossa. Sabemos que não vamos para lá tocar para um grupo de fãs, estamos indo para mostrar nosso trabalho. Vamos escolher as músicas que mostram mais a nossa cara e fazer o melhor show possível dentro destas condições. Se a galera vai entender ou não, depois a gente se preocupa. Embora, o público deste tipo de festival tenha a noção de que eles vão ver bandas cantando em português, em francês etc.
MP: Eles vão para conhecer bandas novas.
Lucas: Pois é, já faz parte do festival. Então acredito que independente do que a gente tocar vai ser muito legal. Se fizermos um show bem feito, que é o que pretendemos, a recepção vai ser boa.
MP: E como surgiu o convite do Lollapalooza?
Lucas: Foi através do Lampadinha. O pessoal do festival viu que trabalhamos juntos no Real/Surreal e entrou em contato com ele perguntando se a gente iria querer tocar. Lógico! Na hora ele falou com a gente. Isso só aconteceu por causa da grande exposição que tivemos em São Paulo. Estamos tocando na Rádio Rock, fazendo shows com as bandas daí etc, isso chama a atenção. São Paulo é meio que um termômetro complicado, porque tem muita gente e eventos acontecendo. Pelo Brasil, todo lugar que nós vamos temos um feedback muito forte. Se em São Paulo é legal, no Nordeste é absurdo. E esse respaldo que conquistamos acabou levando a galera do Lollapalooza a considerar que estamos prontos para tocar. Vamos fazer valer a oportunidade.
MP: É diferente tocar em um palco grande como o do Lollapalooza?
Lucas: É bem diferente, a gente nunca tocou em um festival do tamanho do Lolla, em termos de estrutura e palco, mas já tivemos a oportunidade de tocar em festivais nacionais muito legais, como o Porão do Rock, em Brasília. Estamos habituados a subir em palcos gigantes. É claro que cada show tem a sua particularidade. A vibe de festival é diferente, você está distante do público e tem que transmitir, de alguma forma, a energia da banda. Este tipo de show dá a possibilidade de fazermos algo visualmente mais interessante. É ao mesmo tempo desafiador e confortável.
MP: Estão preparando algo especial para o setlist dos festivais?
Lucas: Nós pretendemos tocar músicas novas, pelo menos uma. Mas, para fazer um algo muito diferente, ainda não sabemos se vai rolar. Estamos nos preocupando em ensaiar e chegar afiado para fazer um show com músicas que impressionem a galera, para o pessoal que não conhece o Scalene curtir o show e ir atrás da banda!
MP: Desde o lançamento do último álbum, vocês tiveram uma visibilidade muito grande. A que vocês atribuem este crescimento?
Lucas: Uma série de fatores, mas, principalmente, muito trabalho. O pessoal acha que é só fazer shows. Não é bem assim que funciona, tem todo um trabalho interno, de buscar parcerias, lançar material de qualidade – que é algo que focamos muito –, um clipe bem feito, compor de forma consciente do produto que queremos ter. Não damos nem um passo sem saber o que queremos, pensamos nos prós e nos contras, em quanto vamos gastar e em quanto vamos ganhar. É um trabalho diário. Ano passado foi loucura, nos envolvemos com todo tipo de projeto possível, fizemos financiamento com o governo do Distrito Federal para nos ajudar a tocar em lugares que não tínhamos ido, fizemos eventos privados, bancamos investimentos para tocar em uma cidade e formar público. E agora estamos apostando nas coisas que vimos que dão certo.
MP: Qual é a estrutura ao redor da banda?
Lucas: Em questão de estrutura formal, não temos nada. Nós mesmos agendamos os shows, contratamos quem vai fazer o clipe etc., temos funções separadas na banda, mas organizadas. Tudo que a gente ganha vai para o caixa da banda, convertemos vendas de camiseta, de CDs etc. E tudo o que fazemos, sai do caixa. Porém, não diria que não temos ajuda. Várias pessoas que acreditam na banda fazem trabalhos de graça, por exemplo. Mas é sem o apoio de gravadora ou selo. É na cara e na coragem. Isso nos motiva a fazer tudo bem feito porque nós temos total responsabilidade pelo resultado.
MP: Muitas bandas de outros estados firmam base em São Paulo. Vocês sentem esta necessidade?
Lucas: Pouco antes de lançar o Real/Surreal, nós quase mudamos para São Paulo, chegamos até a ver apartamento. Mas colocamos na ponta da caneta o custo-benefício e vimos que está funcionando conosco em Brasília. Entendo porque as bandas vão para São Paulo, as oportunidades e o networking são maiores. Mas a gente está sempre em São Paulo para tocar ou só para cumprir compromissos de networking. Por enquanto está dando certo. Quando sentirmos a necessidade de ir, nós vamos.
MP: No fim do ano, vocês lançaram um single com Supercombo. Veremos outras parcerias como esta em 2015?
Lucas: Sim, já estamos planejando outras parcerias. Neste último ano e meio conhecemos várias bandas muito boas que estão em evidência no cenário nacional e tivemos a sorte de criar um laço de amizade. Então vai rolar sim, não posso adiantar nada ainda, mas pretendemos ter mais parcerias.
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