Entrevista: Rubel
Rubel é coisa nossa; o Música Pavê deu a dica de Pearl há um bom tempo e a história que acompanhamos em três anos – que incluiu a primeira edição do Música Pavê Apresenta – nos ensina a força que um disco sincero, que sabe comunicar emocionalmente às pessoas, pode ter com apenas seis músicas.
Na semana em que foi anunciado o resultado da votação que contemplou o financiamento de seu próximo disco pelo projeto Natura Musical, Rubel Brisolla falou ao site por telefone em meio à turnê Valeu, Pearl, que se despede com orgulho e gratidão dessa fase da carreira para iniciar a próxima nesse mesmo espírito.
Música Pavê: Vamos começar pelo que é mais recente, que é o resultado do Natura Musical. Como foi essa pequena jornada da votação?
Rubel: Foi surpreendentemente boa, porque eu acho que foi uma chance que eu tive de contar para as pessoas a visão que eu tenho para o próximo disco. É muito bom poder já explicar o que eu imagino, que tipo de som eu quero fazer, que tipo de história eu quero contar. No primeiro post da campanha, eu fiz um texto bem grande explicando isso, que esse é o sonho da minha vida já faz muito tempo. Foi de certa forma até libertador colocar isso no mundo, sabe? E a reação das pessoas foi incrível, de abraçar e falar “também quero ouvir isso, também quero que esse sonho aconteça”, foi uma energia muito genuína das pessoas verdadeiramente engajadas – não porque eu estava lá todo dia pedindo, mas porque elas também querem que isso aconteça. É muito incrível ver que não só o Pearl tem essa força que as pessoas querem que continue em um outro trabalho, mas saber que as pessoas já compraram a ideia do próximo disco, da mistura com hip hop e da ideia de trazer um pouco do que a gente construiu na turnê com a banda nova para o disco. Foi uma oportunidade de contar o meu sonho e de fazer as pessoas se conectarem com ele, e de ter um diálogo mais próximo com os fãs. Acabou servindo para mais do que eu imaginava. Ao invés de ser uma votação burocrática e chata, foi não só divertido, mas também engrandecedor para mim e para o disco, ele vai nascer com muito mais energia.
MP: Existe aquele papo manjado, mas bastante verdadeiro, de que, quando você lança um disco, ele não é mais seu, agora é do mundo. Quando você realiza um financiamento coletivo ou uma votação como essa, com as pessoas já engajadas, parece até que as músicas já são de todo mundo mesmo antes delas saírem, né?
Rubel: Sim, isso é muito louco. É justamente isso que eu tô falando, é como se o disco já fosse das pessoas, antes mesmo dele nascer. As pessoas já abraçaram, ele já aconteceu de certa forma. Essa é a mágica de qualquer projeto que faça o público participar da construção. O disco já é deles, eles concretamente fizeram ele acontecer.
MP: Nesses últimos três anos, o que você aprendeu sobre seu público?
Rubel: (risos) Aprendi que eles são incríveis. Aprendi que eles são muito dedicados. Eu não me canso de me surpreender com o carinho que as pessoas têm pelas músicas, é uma coisa que parece que não se desgasta. O tempo passa e, mesmo as pessoas que conheceram o disco lá atrás, há três anos, e hoje em dia poderiam estar de saco cheio dessas músicas, elas continuam mantendo um carinho muito grande, muito especial, como se fosse parte da vida delas mesmo. A impressão que eu tenho, que é a maior onda pra mim, é que não são músicas que passam batidas, elas de fato interferem na vida das pessoas que gostam. Eu vejo que várias músicas ajudam as pessoas a se relacionarem, a namorarem, a transarem, a beijarem na boca, a fazerem amizades. Eu recebo muito relato disso, “eu fiz um amigo ouvindo a sua música”, “eu fiz um namorado ouvindo sua música”, “eu comecei um namoro”, “eu terminei um namoro” – é como se você acompanhasse a vida das pessoas, sabe? Aprendi que o público tem uma relação muito pessoal, muito forte, e isso se reflete nos shows. Acho que, quando elas estão cantando, elas colocam a vida delas ali, e isso gera muita força na hora de tocar ao vivo, de compartilhar. É como se o disco se ressignificasse toda vez que a gente toca, porque não é mais a minha vida, a minha história que eu tô contando ali. Cada pessoa que tá ali conectada de verdade tá contando a história dela. É muito forte isso.
MP: E o que você aprendeu sobre sua música nesse tempo?
Rubel: Cara, essa pergunta é muito boa. Eu tenho uma relação parecida, eu acho, com as músicas. Elas também fazem parte da minha vida de uma forma muito concreta. Elas ainda afetam minha vida, elas ainda me transformam. Em um texto que eu fiz na despedida do Pearl eu falei isso: “Por mudar minha vida e por não me fazer esquecer das coisas que realmente importam: Valeu, Pearl“. Várias vezes eu me pego redescobrindo uma música do disco, um significado que eu nem lembrava que tinha quando eu compus, e parece que ele sempre me coloca no eixo de quem eu sou mais essencialmente. Acho que o disco fala muito sobre isso, sobre encontrar uma verdade interna, e parece que, toda vez que eu toco de verdade essas músicas, elas me colocam no lugar de novo – “Esse aqui é quem você é, esse é seu caminho, essa é sua verdade, essa é sua voz”. E é muito forte isso, eu não cansei dessas músicas ainda, eu achava que eu já estaria de saco cheio, mas é isso, elas vão ganhando mais força, eu acho, porque parece que aquela pequena verdade que eu descobri naquele momento é uma grande verdade, porque continua fazendo muito sentido.
MP: Pearl é um disco muito pequeno, de curta duração, e olha o quanto ele já trouxe. Como é pensar o que um disco maior pode causar para você?
Rubel: Eu vou enlouquecer se eu ficar pensando nisso (risos), e eu já enlouqueci pensando nisso. Porque, se for tentar prever o que a música vai causar nas pessoas, acho que isso atrapalha muito o processo. O que eu tenho que focar é na música, como as pessoas vão receber não cabe a mim.
MP: Isso também é reflexo do que você aprendeu nessa caminhada, né? É conclusão depois desse tempo.
Rubel: Sim, não só com o disco, mas tudo o que eu já fiz na vida cai nesse lugar. Quando você faz uma coisa com um propósito muito claro, muito definido, perde um pouco a graça do fazer por fazer, sabe? Da coisa pela coisa, da arte pela arte, da experiência pela experiência. Porque eu acho que a música, essencialmente, não tem propósito. Você não faz uma música boa porque quer fazer sucesso, ou porque quer atingir o público, ou porque quer tocar alguém. Você faz uma música boa porque você precisa falar aquele negócio, ou porque é essencialmente divertido. E eu tô tentando muito com esse disco manter esse espírito de diversão, de experimentação, de brincadeira, e de sempre ter o foco em me expressar – como que eu quero me expressar, como eu me expresso com verdade, de uma forma interessante, que me desafie, que me surpreenda. E o que eu sempre penso, pra não pirar nessa história de como o público vai reagir, sempre tento me colocar no lugar dele. Quero fazer um disco que eu fale “caramba, não imaginava que eu poderia fazer isso”. Acho que, se eu conseguir chegar nesse ponto em que eu me surpreenda com o que eu fiz, acho que as pessoas vão se surpreender também.
MP: Ainda sobre a produção do novo álbum, a gente sabe que eles está vindo em um contexto muito diferente do que Pearl veio. Olhando para ele, que ainda nem saiu, você já tem ideias para videoclipes, já sabe como vai trabalhar as músicas nesse formato?
Rubel: Não tem nada muito concreto ainda. A minha ideia é, sem dúvida, trabalhar intensamente a linguagem cinematográfica, audiovisual, com as músicas. Quero fazer pelo menos três clipes e quero que eles dialoguem entre si e com o disco. Acho que não tem nada concreto para além disso, a gente não chegou a conceber nenhum vídeo ainda. Mas o disco vai ser pensado como uma peça musical e audiovisual, sem dúvida.
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