Entrevista: Rael sobre Vinicius
Um ficou conhecido ao cantar sobre a realidade periférica da Zona Sul de São Paulo, o outro é parte integral do imaginário romântico das paisagens da Zona Sul do Rio de Janeiro. Rael cresceu ouvindo Vinicius de Moraes, assim como grande parte dos brasileiros, e promove um encontro no palco da sua voz e atitude com as letras do compositor com o show Rael Canta Vinicius de Moraes, que chega a SP neste sábado, 21, na Casa Natura Musical. Como ele disse ao Música Pavê: “Ele é um cara muito romântico, e eu também falo muito de amor”.
O paulistano explica que o projeto surgiu “por acaso, de um convite de um programa para fazer versões de Vinicius e, quando tava ensaiando, me vi com esse show. A família dele amou, a crítica foi muito bem aceita, então, graças a Deus, rolou muito bem”. “Quando eu fiz o show de estreia, no Rio de Janeiro, o público era de pessoas novas que acompanhavam meu som e falaram ‘meu, preciso conhecer mais de Vinicius, eu tava moscando’, e tinha pessoas mais velhas falando ‘que que você fez com esse arranjo? Teve horas que eu só percebi qual era a música quando chegou no refrão’”, conta ele sobre a resposta positiva e surpresa que o espetáculo tem recebido.
“Acho que o lance de pegar a obra do Vinicius e fazer algo em cima, tem que ter um carinho, uma responsabilidade muito grande”, comenta Rael, “é como fazer um filme biográfico de um artista conhecido, às vezes você pode agradar ou pode sair uma merda (risos), então a gente tem que tomar um cuidado. No caso, são músicas que eu já ouvia, então já conhecia como permear por esse caminho. Trazer pro meu universo foi uma coisa até mais tranquila, acho que o mais difícil foi introduzir versos e poemas que eu faço… (risos) não ficou no nível de Vinicius, mas conseguiu se conectar”.
Rael Canta Vinicius de Moraes começou a acontecer logo após ele ter trabalhado em seu disco solo Coisas do Meu Imaginário (2016) e se via pronto também para novos desafios. Sobre a produção desse álbum, ele conta que foi um processo “introspectivo” de trabalhar a sua mensagem: “É você e você a todo momento, tanto na questão de tom, do que vai ser dito, onde você rima, o que você vai cantar, e também a concepção do álbum, quantas faixas, como que vai ser, se vai ficar repetitivo”. Quase em paralelo, surgiu a oportunidade de gravar Língua Franca (2017) ao lado de Emicida, Capicua e Valete. “Me remeteu à fase do grupo Pentágono, que é a construção coletiva, de escolher as bases em coletivo, de dividir a música por partes, ver quem faz o refrão, quem rima nessa, quem rima naquela”, explica ele sobre o projeto, “e dentro dessa atmosfera, a gente vai se adaptando, cada um com o que se encarregou de fazer”.
Mais do que uma homenagem, o show com as músicas do poeta carioca é também um exercício criativo por parte de Rael para trabalhar ainda mais sua musicalidade depois desses dois processos anteriores (o de álbum solo e o com outros compositores). “Eu fiquei com receio, por Vinicius ser um artista de alto nível, um patrimônio nosso conhecido mundialmente, e você mexer na estrutura da letra, da música, é uma coisa cirúrgica, tem que ser bem feita”, conta ele, “e acho que dei essa sorte aí”.
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