Entrevista: Quinta Que Vem

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Uma tarde chuvosa de domingo e eu estava sentando em um café esperando pelos dois cabeças por trás do Quinta Que Vem. Eles entraram pela porta e, após alguns acenos da minha parte, me viram no segundo andar e foram ao meu encontro. Logo de cara, dava pra perceber: era a primeira entrevista de uma banda recém-formada sobre um EP recém-gravado. Mas não se engane, André Ribeiro já faz parte da banda Alaska como vocal e guitarra e Guilherme Garofalo é algo como um “faz-tudo” deles – ou seja, eles já começaram essa com experiência.

Quinta Que Vem nasceu de uma forma curiosa:

André – Uma irmã de uma amiga minha faz cinema e precisava de uma trilha sonora para o seu curta. Me juntei com o Guilherme e criamos duas músicas em apenas quatro horas, foi super corrido.
Guilherme – A gente gravando e ela do nosso lado: “Tá pronto? Tá pronto?”.
André – E uma das referências que tínhamos era Roberto Carlos. Pegamos e fizemos o instrumental dela (Pode Ficar – Primeira música do EP) em duas horas e pensamos: “Podíamos incluir uma letras quando terminarmos.”
Guilherme – Quando terminamos, vimos que era muito legal e diferente de tudo que já gravamos.
André – A gente fez a letra no mesmo dia, em cinco minutos. Gravamos a música e foi a que ficou até hoje.
Guilherme – Depois de alguns dias, resolvemos gravar uma outra música. O André fez a letra de Nada Me Cai Bem.
André – O arranjo veio primeiro, eu tinha duas notas no violão que eu achava legais e falei: “Coloca aí o microfone no violão”, um microfone que ele usa para gravar os vídeos dele, e vamos ver. Gravei e improvisei um refrão, que até então eu não sabia que era o que ia ficar, e enquanto ele arrumava, eu fui improvisando a letra que ficou.
Guilherme – O jeito que ele faz as coisas é engraçado, tudo na hora. Ele falava: “Me dá cinco minutos para fazer a letra dessa música”. Ele parava e fazia, nem dava tempo para eu mixar o que estávamos fazendo que ele já tinha três letras novas.
André – São histórias longas reduzidas em músicas curtas.
Guilherme – Daí, depois de uma semana que gravamos Nada Me Cai Bem, falamos: “Vamos fazer uma banda que toca música curta, imbecil e prepotente. Vamos gravar um EP”. Saímos e falamos “vamos decidir um nome”. Antes dos nomes das músicas e da própria banda, já tínhamos o nome do EP (Prato Fundo).
André – O nome da banda foi o mais difícil, ficamos quase um mês decidindo.
Guilherme – Uma noite, saímos de carro e começamos a falar nomes como Próxima Quinta, Quinta Vez. No meio disso eu perguntei pra ele o que ele ia fazer na quinta que vem, pois íamos gravar algumas coisas da outra banda e ele filma. Daí demos um tempo, um silêncio, e falamos: “AÍ”.
André – Acho que é por esse caminho, não pensamos em muita coisa pra fazer o EP.
Guilherme – A gente passou mais tempo fazendo as coisas do que pensando no que estávamos fazendo.
Fica bem claro que o DNA da banda é o improviso.
Guilherme – A parte mais legal é que tudo o que gravamos foi dentro de um armário.
André – Minúsculo.
Guilherme – Estávamos gravando no quarto de hóspedes da casa dele e estava tendo uma festa no vizinho.
André – Tava saindo Rihanna na gravação e tínhamos que dar um jeito. Forramos o armário com cobertores, colocamos uma lâmpada para podermos enxergar. Gravamos nas condições mais precárias possíveis. A gente não tinha um stand para voz, até a última música a gente usou um case de guitarra e um cano preso com esparadrapo no case.
Guilherme – A gente fez com o que tinha na mão. Tudo com apenas um microfone.
André – Ele gravou percussão com um pote de linhaça. A gente ficou na minha cozinha procurando coisa que fazia barulho.
Guilherme – O pai dele chegou com um pote de Nescau, “Não é isso ainda!”. Daí o Pai dele: “Pega esse pote”. Peguei e vi, era aquilo.
André – E o meu pai é advogado.
Guilherme – Contamos ainda com a ajuda do Wallace (baixista do Alaska), que nos ajudou na percussão, mixagem e no baixo.
André – O EP foi gravado em quatro madrugadas seguidas, quatro dias sem dormir, literalmente. Quando estávamos pensando em dormir, o Wallace nos falou que poderíamos gravar a bateria na casa dele, e daí fomos.
Guilherme – A minha namorada fez a capa do EP. Na verdade tentamos fazer duas vezes a capa. Pensamos em fazer uma foto e fomos na casa dele, na sala, e passamos a tarde inteira cortando jornal.
André – Todos os nossos amigos ajudaram, cortando jornal na sala.
Guilherme – Depois de uma hora e meia tentando tirar a foto, não ficou legal.
André – Vimos que a idéia, quando executada, não ficava legal.
Guilherme – Um dia antes de lançar, falamos “Vamos fazer a capa agora!”. Chamamos nossas namoradas e levamos aquarelas e cadernos. Ficamos duas horas tentando desenhar um barco mas ainda não estava legal. Daí minha namorada estava limpando o pincel e eu olhei e falei “Há! É isso.”
quinta que vem
Depois de alguns minutos de conversa eu havia entendido o porquê que aquilo era diferente. É tudo despretensioso e divertido. Só que ainda tinha um fator essencial:
André – Eu nunca vi uma banda que fazia algo tão diferente do que eles estão acostumados a ouvir. Por isso que soou tão natural, porque não ouvimos nada parecido com o que fizemos.

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