Entrevista: Projota
(fotos de Rafael Kent)
Projota é um nome presente no rap brasileiro há quase uma década e, após muita luta, lançou recentemente Foco, Força e Fé, seu primeiro álbum completo, pela Universal Music – um trabalho que se destaca tanto pelos nomes nas participações, quanto por trabalhar diferentes nuances do estilo, fugindo de seus lugares comuns. São músicas sobre situações sentimentais nas relações interpessoais e sobre a vida em si, tudo condensado na força da combinação rimas e batidas.
Por email, conversamos com o rapper sobre o disco, a carreira e fazer música no Brasil hoje.
Música Pavê: Este é seu primeiro álbum em nove anos na ativa. Batizá-lo de Foco, Força e Fé é uma maneira de revelar sua atitude para marcar a sua carreira?
Projota: São os pilares da minha vida, minha ideologia, e refletem exatamente o momento que estou vivendo, demonstrando o sentimento que carrego ao realizar esse feito hoje.
MP: Na faixa-título, você cita Elis Regina, Renato Russo e Kurt Cobain como influências. Na sua perspectiva, existe algum tipo de preconceito no meio musical sobre ouvir sons fora de seu “nicho”? Quais outros sons te inspiram?
Projota: Em todos os estilos musicais isso ocorre, o fã espera que você seja idêntico a ele. Mas isso é impossível, e o fato que deve ser exaltado é o quanto é especial sermos diferentes, mas, mesmo assim, termos muito em comum e sermos unidos através da música que canto e eles escutam. Cresci ouvindo rock, samba e MPB, mais tarde chegou o rap. Mas eu escuto de tudo um pouco.
MP: Além de citar Renato Russo, o próprio Dado Villa-Lobos toca Tempo Perdido na base de Carta aos Meus. Como foi poder gravar com alguém que você ouviu tanto, a ponto de citá-lo como influência?
Projota: Sou um fã daqueles que conhecem praticamente todas as músicas e cresci ouvindo os discos do Legião influenciado por meu irmão mais velho. Foi com certeza um dos maiores sonhos que já realizei.
MP: Como foi trabalhar também com Marcelo D2 e Negra Li? Quanto eles adicionaram às composições no estúdio?
Projota: Eu tenho a necessidade diária de agradecer a Deus por ter sido abençoado com essas duas pessoas no meu disco. Sou fã dos dois há muitos anos e foi especial tê-los participando deste projeto. As músicas não seriam nada sem eles, foram essenciais nas suas respectivas participações.
MP: Existe uma boa variedade de temas dentro do disco, de músicas mais críticas sociais e outras mais românticas. Essa foi uma decisão consciente para o repertório do disco, essa intenção da diversidade nas letras, ou veio naturalmente conforme você escolhia quais gravar?
Projota: Eu tentei fazer com que, dentro do disco, estivessem presentes todos os principais temas que eu abordei ao longo dos anos, quero dizer, temas sociais, temas românticos, temas abordando a autoestima do indivíduo e, com certeza, as músicas românticas.
MP: Há também uma diversidade sonora, com J Balvin trazendo seu reggaeton pro álbum. Em uma época em que Criolo, por exemplo, promove tanto a intersecção de gêneros na música, como você vê essas outras referências entrando no mundo do Rap e Hip Hop?
Projota: O rap e o reggaeton tem tantas coisas similares. Acho que é algo necessário para a expansão da nossa arte, nossa cultura. Cada um deve buscar seu caminho e tenho seguido o meu, fazendo música com quem eu admiro, e recebo isso com reciprocidade. Fazer música é algo especial e poder fazer com outros grandes nomes é mais especial ainda.
MP: Estar assinado com uma major e lançar um álbum com uma produção dessas é uma realidade bem diferente do início da sua carreira. Como você faz para manter os pés no chão e não se perder de suas raízes?
Projota: Sabe, isso é algo que vem de berço. Ou você tem os pés no chão, ou não tem. Eu não tive dinheiro de berço, não tive escola particular, mas ganhei em troca a simplicidade e a capacidade de sorrir para quem aperta minha mão e recebi amigos leais e uma família incrível. E é isso tudo que mantém com os pés no chão.
MP: Pra terminar, como você avalia a música feita hoje no Brasil? O que ela tem de melhor e de pior?
Projota: Falta a estrutura que eles tem lá fora, temos muito pra aprender ainda e profissionalizar. Mas nossa essência é muito real. A variedade talvez seja o maior trunfo. Um país gigantesco, com talvez o maior nível de miscigenação do mundo, isso enriquece demais nossa música.
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