Entrevista: Pitty
“Ela gosta de escrever” – é interessante como uma frase pequena consegue adicionar tanto significado à imagem que temos de uma pessoa. No caso, ela surgiu na hora em que o Música Pavê marcava a entrevista com ninguém menos que Pitty, uma artista que, depois de tantos discos e clipes na última década e meia, nós sentimos que já conhecemos tão bem. Ela tem atitude, tem opinião, tem aquele olhar sempre atento e tem, acima de tudo, aquele talento todo para fazer músicas que sabem reunir uma postura crítica sem perder seu lado mais sensível. Estava bem na nossa cara desde sempre, mas foi preciso alguém dizer usando todas as palavras para entendermos melhor: Ela gosta de escrever.
Sendo assim, Pitty Leone respondeu as perguntas por email entre os ensaios e preparativos pra estreia da turnê Matriz nesta sexta, 21, em São Paulo (mais informações abaixo). Como ela mesma explica, “a ideia é descobrir coisas que estão na matriz sonora, estética e musical, e como isso se comporta nos dias de hoje. Com um conceito simples, baseado na experiência com a música. Após uma turnê super tecnológica, quero experimentar uma coisa mais intimista, mais humana”.
Estão no repertório seus singles mais recentes – Contramão e Te Conecta -, ao lado de músicas inéditas que estarão em seu próximo disco (que deve sair ainda neste ano). É mais uma oportunidade de observarmos as nuances e características de uma artista que seguimos há tanto tempo, descobrindo e redescobrindo nuances de sua personalidade musical a partir de um novo contato com suas composições.
Música Pavê: Conta um pouco sobre a escolha de repertório da turnê? Esse processo de analisar sua obra, de encontrar os pontos em comum entre todos os discos etc., ele é algo que você faz naturalmente ao longo do tempo?
Pitty: Sim, é algo que vem naturalmente ao longo dos tempos. A cada turnê, a cada disco lançado, esse processo é refeito, revisto, questionado. E a cada conceito de show também. Nesse caso, minha ideia para esta turnê é ir mostrando músicas inéditas nos shows, ao mesmo tempo em que tenho um setlist base com músicas conhecidas e de todos os discos. Releituras dessas músicas antigas, novos arranjos, adição de beats. E esse conceito de Matriz foi surgindo pra mim, de também querer mostrar o poder de uma banda no palco para além da pirotecnia. De querer mostrar como essas canções foram concebidas, muita vezes na simplicidade e intimidade do violão de nylon dentro de um quarto.
MP: “Quero experimentar uma coisa mais humana” – Você observa que existe um movimento hoje em dia de, em um mundo tão maluco como está, uma maior valorização ou até mesmo resgate dessas qualidades?
Pitty: Não sei, mas é uma experiência que me interessa. Na verdade minha pesquisa é pelo híbrido; é o humano dentro da tecnologia e vice-versa.
MP: Quando ouvimos Contramão ou Te Conecta, é fácil notar que você está em um momento diferente de Equalize ou Me Adora. Com tantos fãs reunidos ao longo do tempo de carreira, você sente algum tipo de expectativa para que faça mais músicas parecidas com as que já fez no passado?
Pitty: Na verdade não, pelo contrário. Eu fui procurando construir um caminho que cada vez mais me desse liberdade de exercer o que tenho vontade artisticamente, e sinto que as pessoas que curtem meu som também sentem isso e dropam essa onda. É engraçado ler isso que você escreveu, porque, lá atrás, quando lancei Equalize e Me Adora, eu escutei exatamente a mesma coisa sobre as músicas que eu tinha lançado antes.
MP: Ainda com essas duas músicas como exemplo, não é difícil afirmar que o sucesso delas está ligado também ao conteúdo romântico que apresentam. Mas sua carreira sempre teve esse viés mais crítico – Admirável Chip Novo é uma grande prova disso. Ao longo desses anos todos, como você acha que as pessoas têm entendido a sua identidade como artista? Como essa percepção chega até você?
Pitty: Acho que a resposta anterior tem um pouco a ver com isso. Eu não acho que a construção de uma carreira está dissociada da construção de um público, e uma coisa retroalimenta a outra. Nunca me conformei em fazer o que esperavam ou queriam que fosse feito. Nessa trajetória, muita gente achou muita coisa: uns, que eu tinha me perdido; outras, que eu tinha me achado cada vez mais. O que sinto é que meu público fiel compreende e assimila minhas necessidades e movimentos artísticos, porque eles também se sentem assim e foram crescendo juntos. Outros novos chegam, outros velhos vão para outros caminhos, e a vida é isso aí.
MP: Nós temos entrevistado várias artistas que afirmam que ser mulher na música, ainda mais no Brasil de hoje, é sempre um ato político. No seu caso, para além da música, você se tornou uma personalidade conhecida, com presença também na televisão. Olhando hoje para o passado, como se desenvolveu seu senso de “responsabilidade” – algo do qual você me parece sempre ter sido consciente – sobre ser uma figura que está em exposição e tem uma voz?
Pitty: A busca desde muito nova foi por ter uma voz. Primeiro, dentro da minha comunidade, da minha turma, sendo mulher. Depois, sendo roqueira, mulher, em Salvador. Depois sendo roqueira, mulher, nordestina, no Brasil. E a coisa vai se ampliando, a busca por essa voz vai se intensificando e se somando a outras vozes afins. Encontrando ecos no caminho.
MP: Vamos falar um pouco sobre videoclipes? Você sempre utilizou muito dessa linguagem a seu favor, sabendo escolher diretores e propostas que te deram uma videografia muito interessante. Qual é o seu envolvimento com as produções?
Pitty: Meu envolvimento é total e irrestrito a qualquer coisa que tenha meu nome. É uma questão de coerência e responsabilidade; e de vontade, lógico, porque eu amo fazer videoclipe. Acho uma puta ferramenta de comunicação, sempre apostei nisso, desde o começo da carreira. Eu acho a fusão do áudio com o visual um negócio realmente poderoso.
MP: Para terminar, se você tivesse que escolher um clipe seu que defina quem é Pitty, tipo “toda sua carreira resumida em um só vídeo”, qual seria?
Pitty: Putz, impossível… mas, geralmente o mais recente, por ser a ideia mais fresca. No caso, Te Conecta.
Curta mais de Pitty e de outras entrevistas exclusivas no Música Pavê
Estreia da turnê ‘Matriz’ (SP)
21 de setembro (sexta-feira), às 22h
Audio (Av. Francisco Matarazzo, 694 – Barra Funda)
Ingressos: A partir de R$70,00 (meia entrada para pista)
Venda de Ingressos: Bilheteria da Audio (de segunda a sábado das 13h às 20h)
Venda online: Ticket360
Classificação: 18 anos
Próximas datas da turnê
29/09 – Shopping Riomar Fortaleza – Fortaleza (CE)
12/10 – M.A.D.A – Natal (RN)
20/10 – Fundição Progresso – Rio de Janeiro (RJ)
26/10 – City Hall – Belo Horizonte (MG)
10/11 – Teatro Positivo – Curitiba (PR)
24/11 – AFPSBC – São Bernardo (SP)
01/12 – Fábrica Festival – Sorocaba (SP)