Entrevista: O Terno

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O Terno fez por merecer estar constantemente citada como uma das bandas mais admiradas de sua geração no Brasil, seja pela sonoridade rica e caprichada, ou pelas letras honestas e até bem humoradas – uma carreira na qual o videoclipe veio como uma de suas principais ferramentas de divulgação e solidificação de imagem.

Nos bastidores do m-v-f- 2016, Tim Bernardes, Guilherme D’Almeida e Gabriel Basile sentaram-se com o Música Pavê para discutir um pouco esse histórico e comentar seu novo álbum, Melhor do que Parece (um dos mais aguardados da temporada), que sai nesta sexta, 26 de agosto.

Música Pavê: Dá para observar como o videoclipe sempre fez parte da carreira de vocês, desde 66. Como vocês acham que o formato participa da maneira que vocês se mostram como banda?

Tim Bernardes: Acho que o 66 foi um marco para a banda, porque a gente já tinha gravado o disco, já estava para lançar, aí o pessoal da Alaska veio falar de fazer o vídeo dessa música, que eles tinham uma ideia e tal. E quando a gente soltou esse clipe, antes do disco, acho que ele teve um alcance muito maior do que a gente esperava. Muito mais que o álbum, o vídeo foi a apresentação d’O Terno para o público em geral. Teve o lance dele ganhar dois prêmios – o do último VMB e do Multishow – e acho que isso também chamou muita atenção. E como ele é muito legal, também criou uma “obrigação” de não fazer clipes que não fossem tão legais, tinha um pouco dessa pressão. O Tic Tac também é meio megalomaníaco, o Ai Ai, que eles também fizeram, foi o maior de todos, levou quase dois anos para ficar pronto. Eu gosto de conhecer banda pelo clipe, é uma amostra completa de qual é o som, a estética, o visual, a atitude, o jeito que os caras são… É o melhor convite para conhecer um som novo.

MP: Como foi a decisão de mostrar Culpa pela primeira vez já com videoclipe?

Gabriel Basile: Não acho que uma coisa é por causa da outra, as duas estão atreladas, mas é que hoje em dia se ouve música no YouTube pra caramba, ainda ganha de qualquer outra plataforma de streaming, então também é uma coisa de poder colocar um clipe ao invés de uma foto parada. Lançar uma música com um vídeo é uma coisa muito mais sólida.

Tim: E tem os compartilhamenos, ele espalha muito mais rápido do que um áudio.

Guilherme D’Almeida: As pessoas querem mostrar pras outras, “olha que vídeo da hora”.

Gabriel: E é mais interessante como produto também, né? Se a pessoa quer só ouvir o áudio, tudo bem, mas se quiser ver o clipe junto, ele tá lá.

Tim: Acho que o Culpa tem também uma coisa, que acho que a gente conseguiu fazer também no disco musicalmente pela primeira vez, que é ser um clipe chique, mas simples. Não é megalomaníaco, consegue ser direto ao ponto, tudo na medida. É pop sem precisar exagerar a esquisitice.

MP: Como vocês enxergam a maturidade de vocês como fazedores de vídeos? Imagino que tenham aprendido bastante sobre como lidar com orçamentos, tempo de produção etc.

Tim: A gente ficou traumatizado (risos). Não, a gente ficou mais pé no chão para conseguir fazer as coisas e descobriu novas alternativas. Com o clipe de Ai, Ai, por exemplo, a gente perdeu o timing do lançamento, mas ele acabou saindo para encerrar a divulgação do disco, o que foi muito legal, algo que a gente não tinha pensado antes.

MP: Quanto a isso, vocês sentiram alguma movimentação no público de voltar a ouvir o segundo disco depois que o vídeo saiu?

Gabriel: É louco isso, eu senti que, logo depois que a gente lançou o clipe, a gente começou a ouvir a galera pedir a música nos shows. Deu uma reanimada.

Tim: Não sei se voltaram a ouvir o disco, mas O Terno reapareceu no radar de quem estava ouvindo as coisas. As pessoas observaram um movimento, ficaram abertos ao que ia rolar depois.

MP: Como é sua relação pessoal com videoclipes?

Guilherme: A gente cresceu em uma época em que a MTV ainda estava aí, né? Muitos clipes marcaram a gente, muitas bandas que a gente acabou conhecendo porque tinha um espaço na televisão em que chegava coisas novas. Não tinha YouTube, então você tinha que ficar esperando se queria ouvir uma música. Eu sempre gostei muito de clipes.

Gabriel: Isso é uma coisa que mudou muito, na nossa geração ainda era isso, só se fazia clipe para passar na TV. Então, não era todo mundo que fazia clipe, só quem já tinha uma carreira consolidada, que já tinha espaço na grande mídia. E é isso que ele falou, se eu gostasse de um que passava no Disk MTV, nem tinha como procurar pra ver de novo.

Tim: 66 me mostrou uma relação com o clipe de hoje em dia que é muito diferente, é outra coisa dos que víamos na TV. Naquela época, o clipe era uma coisa cara, os gringos tinham uns clipes foda e no Brasil, só quem já tinha uma grana que fazia um clipão. Essa coisa de dois moleques, como os Alaska, fazerem um clipe animal só os dois, e com muita ideia maluca, sem ter aquele diretor de gravadora falando “não, vamos fazer assim e assim”, acho que entendi ali pela primeira vez e vejo cada vez mais, vídeos feitos “na mão” com uma qualidade absurda.

MP: Qual a participação de vocês criativamente nos vídeos?

Tim: Varia bastante em cada um dos clipes. Culpa foi um em que a ideia a gente teve em um brainstorming com o Shitate. O Como Eu Me Iludo foi o contrário, os Alaska vieram com uma ideia pronta e a gente falou “manda ver”.

MP: Como vocês trabalham o sentido da música com a narrativa que o clipe mostra, talvez um terceiro significado que é a junção dos dois?

Gabriel: O produto do vídeo não restringe a ideia da letra, parece que ele espande. Mesmo no Ai, Ai, a letra é uma história de amor e o clipe também. No Culpa, acho que tem um lance legal de você aumentar as possibilidades de interpretação da letra, acho que até por ela não ter uma história.

Tim: A gente quis fugir do literal, o clipe fica mais um cartão de visita do disco novo. Essa é a vibe da banda, essa é a sonoridade. O clipe não tem que ser fiel à letra, ele tem que ser fiel ao momento da banda.

MP: Então,  vendo Culpa, o que a gente pode suspeitar do disco novo, Melhor do que Parece?

Tim: O disco tem extremos, a gente já lançou os dois extremos, que é a primeira (Culpa) e a última (a faixa-título). Uma é super pop pé no chão e a outra é mais profunda, expansiva. Acho que o disco viaja por esses dois lados. Tem justamente essa coisa de simplificar e ser um tipo de pop comunicativo e, ao mesmo tempo, fazer um pop de maneira esquisita, experimentar.

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