Entrevista: Metronomy
Bom humor, sucessos atemporais e musicalidade caprichada foram alguns dos itens que Metronomy trouxe ao Brasil em dezembro/2022, quando apresentou o show de seu mais recente disco, Small World.
A obra, lançada em fevereiro daquele ano, misturou as qualidades de sempre da banda britânica com uma sensibilidade extra, visto que suas músicas foram escritas na – e inspiradas pela – pandemia. Meses após seu lançamento, Small World ganhou uma “edição especial”, que nada mais é do que um segundo disco com remixes e regravações para as faixas do álbum feitas por artistas convidados.
Um dia após o show em São Paulo, Joseph Mount – que ocupa funções de compositor, vocalista, produtor e multi-instrumentista, falou ao Música Pavê sobre esta fase que Metronomy vive hoje.
Música Pavê: (Parafraseando a letra Good to Be Back) Joseh, eu não sei se nosso amor se foi, ou se esta é minha música favorita, mas me conta: É bom estar de volta?
Joseph Mount, Metronomy: (Risos) É maravilhoso. Tocamos ontem em São Paulo… Há alguns shows e alguns países que você fica mais animado para tocar durante a turnê, e foi ótimo poder voltar.
MP: Small World é evidentemente um “disco de pandemia”, você nunca escondeu isso de ninguém e as músicas são bastante claras sobre seu conteúdo. Como você percebe que as pessoas se identificam com esse disco?
Joseph: Acho que o que eu tentei fazer foi um disco que fosse influenciado pela pandemia, mas não algo que só fosse relevante durante essa época. Seria muito triste trabalhar tanto em um álbum que não dissesse mais nada depois da reabertura. Tentei usar essa inspiração para criar algo que existisse para além [da pandemia].
MP: Agora que você pode estar em turnê, tocando estas músicas pessoalmente para o público, você acha que essas letras são sobre um momento que já passou ou elas ainda descrevem o que estamos vivendo?
Joseph: Bom, nós não estamos tocando apenas as músicas novas, os shows misturam o repertório novo com o antigo. Por isso, é difícil pensar em como o disco está sendo recebido ao vivo isoladamente. Mas há uma certa reação a músicas como Things Will Be Fine e It’s Good to Be Back que eu acho que tem a ver com [esta época] sim. Elas lembram as pessoas de serem otimistas durante um tempo difícil, eu acho. Mas aí você toca The Bay e todo mundo enlouquece (risos), então é difícil separar uma coisa da outra para analisar.
MP: Mas e você? Quando você ouve os versos que você está cantando, você acha que eles descrevem o que estamos vivendo agora?
Joseph: (Risos) Acho que não. Quando você faz um disco… acho que é como quando você é um artista visual e sua experiência de criação é muito pessoal. Quando eu canto [os versos que escrevi no passado], acaba sendo um ato egoísta, porque eles me lembram mais do que eu estava pensando enquanto compunha (risos). Mas eu, intencionalmente, fiz várias músicas que tivessem alguns versos otimistas mais genéricos. Quando você canta Things Will Be Fine, é como se você fosse um coach, ou um palestrante motivacional (risos), você transmite essa mensagem.
MP: Vamos falar sobre a edição especial de Small World? De onde veio essa ideia e como você soube quem faria parte do disco?
Joseph: Ah, eu cresci acompanhando lançamentos de edições especiais, principalmente perto do Natal, como uma tentativa de dar uma nova embalagem para vender mais cópias. Eu sempre quis fazer algo assim também, mas teria que fazer bem. Quando veio a oportunidade de relançar o disco, dissemos “então, vamos logo fazer todo um novo álbum com remixes e novas versões, para que seja de fato especial” – porque, às vezes, as edições especiais não são lá tão especiais assim (risos), elas trazem só uma capa nova ou algo assim. E sobre os artistas que estão nele, há uma grande mistura. Alguns deles eu já conhecia, mas outros vieram como sugestões. Eu não ando muito por dentro do que acontece na cena de música para dançar, então tive que confiar nas opiniões dos outros. Mas foi uma boa mistura de ideias.
MP: O que você mais gosta em remixes e novas versões de músicas?
Joseph: Acho que, quando você está lidando com artistas jovens, ou de carreiras recentes, eles se esforçam mais para fazer algo que prenda a atenção das pessoas. Quando eu remixava, no início da carreira, era isso que eu fazia, eu tentava fazer as pessoas mais interessadas em mim do que no artista que eu remixava (risos). Acho que o que eu mais gosto é isso, é quando as pessoas se envolvem com a versão que estão realizando.
MP: Você tocou nesse assunto, mas quero ouvir mais sobre isso: Como é criar os repertórios para os shows, agora que Metronomy já tem sete álbuns lançados?
Joseph: É mais difícil do que se imagina… É complicado, porque tem aquelas músicas que você gosta de tocar, mas, na hora do show, não tem aquela reação [do público] que você queria. Às vezes, nós amarelamos de tocar alguma música porque imaginamos que as pessoas não vão curtir tanto. Mas, ao mesmo tempo, quando você toca só aquelas que a plateia pede, é um pouco triste. É importante encontrar um meio termo saudável entre o que você e o que as pessoas querem ouvir. Mas, sei lá, tem shows de uma hora e meia de duração que vamos fazer e temos dificuldade em completar o repertório. Nós deveríamos só tocar cada vez mais músicas, para ser honesto (risos).
Joseph: Você já veio ao Brasil várias vezes. Quando você está por aqui, você tem a oportunidade de conhecer mais música brasileira?
Joseph: Hmm mais ou menos. Eu não sou tão inteirado em música brasileira, ou ao menos em música nova. Sei que é um país com uma cena musical muito vibrante. Quando viemos pela primeira vez, foi porque todos usavam MySpace, e muitos brasileiros usavam a plataforma e mandavam as mensagens de come to Brazil (risos), e eu lembro de pensar “como é que essas pessoas sabem que eu sou?”, mas é porque há muita paixão por música por aqui.
MP: Se um artista brasileiro quisesse remixar Metronomy, o que essa pessoa deveria ter, ou ser, para conseguir esse privilégio?
Joseph: (Risos) Acho que entusiasmo, sinceramente. É engraçado, porque, quando você é um músico jovem, é muito difícil conseguir um contrato em uma gravadora ou mesmo conhecer gente que se importe com seu som. Mas, no meio musical, todos querem genuinamente escutar música nova. Eu estou muito interessado em qualquer um que seja… bom (risos), que tenha algo novo, que tenha entusiasmo, porque, quando você envelhece… (risos) você perde um pouco desse entusiasmo. Então, acho que é isso, eu escutaria qualquer bom artista entusiasmado.
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