Entrevista: McFly

Quem acompanhou o rock mainstream, de cunho adolescente e moderninho, do início do século/milênio via o nome McFly pipocar por todos os lados, da mídia aos grandes festivais ao redor do mundo, incluindo as mais variadas premiações (do celebrado Brit Awards aos da Nickelodeon). Após muitas turnês e lançamentos, o quarteto inglês precisou de um hiato criativo para, agora, retornar com o álbum Young Dumb Thrills, com lançamento confirmado para o 13 de novembro.

Semanas antes, metade da banda – o vocalista Tom Fletcher e o baixista Dougie Poynter – conversaram com o Música Pavê por uma chamada no Zoom para conversar sobre a produção do disco e os singles já lançados, incluindo um inspirado no Brasil. “Alguns de nossos maiores shows foram aí”, comentou Dougie, “tenho só lembranças boas do país”.

Música Pavê: Sendo brasileiro, me sinto na obrigação de começar perguntando sobre Happiness, que ouvi dizer ter sido inspirada no Brasil. Contem mais sobre isso?

Dougie Poynter: O cara com quem compomos essas músicas, chamado Rat Boy, trazia experimentos seus todos os dias para o estúdio. Ele tinha um HD cheio de ideias e ele nos mostrou um sample de uma banda brasileira… esqueci o nome, e mesmo se eu lembrasse, não saberia pronunciar (risos). Quisemos usá-lo porque ele tem a ver com a conexão que temos com o Brasil. Sabíamos na hora que tínhamos que escrever a faixa em cima daquele sample.

Tom Fletcher: Era um daqueles sons que, assim que começa a tocar, você já fica feliz, com vontade de levantar e lançar. Tem aquela vibe brasileira festiva. E também tinha muito a ver com a banda, porque estávamos naquele momento tentando entender que som que McFly teria nesta nova fase. Uma das coisas que eu mais gosto na nossa banda é que ela tem uma essência pop, o poder de te deixar feliz por alguns instantes. E é isso o que essa música faz.

MP: Na sequência, vocês lançaram Growing Up, com Mark Hoppus. Como foi trabalhar com ele?

Dougie: Foi muito legal, ele é nosso amigo há muito tempo. E ele é incrivelmente talentoso, um grande compositor e um cara muito mão na massa, que investiu muito tempo nessa música. Quando ele mandou sua parte da música, eu surtei (risos). Ele colocou uma seção de guitarra ali que eu nunca teria pensado em fazer.

Tom: Foi legal também trabalhar em uma faixa chamada Growing Up sobre não querer envelhecer com um cara que ouvíamos muito quando éramos novos. Ele é um cara fundamental na nossa história musical, do que nos inspirou a formar uma banda.

Dougie: Sim! E, por causa disso, virou uma música de grande valor sentimental para mim.

MP: Por falar em “growing up” (amadurecer), eu achei interessante a escolha de, depois de todo esse tempo, com tanta vida tendo acontecido, seu novo disco chegar com juventude até no título (Young Dumb Thrills significa algo como “emoções jovens e imbecis”). Como foi a escolha desse tema?

Dougie: É o título de uma das músicas. Quando estávamos trabalhando na arte do disco, já em quarentena, depois de todas as músicas já terem sido gravadas, eu estava tentando visualizar o álbum como um todo. Deixei as músicas no repeat pensando “que que a gente vai fazer com isso?” (risos). E um dos temas mais frequentes nas músicas era o de ser jovem, ou relembrar o passado. Achei interessante ver que mesmo as faixas que iam em direções diferentes acabavam retornando a esse ponto. E Young Dumb Thrills pode significar qualquer coisa, pode ser uma sensação mais sinistra, algo que você não deveria ter feito e hoje acha engraçado, ou aquelas coisas que ainda fazem parte da nossa vida, como videogame, sorvete, ir ao cinema e estar com os amigos, essas coisas mais inocentes.

Tom: De certa forma, eu acho que a banda é a nossa “young dumb thrill”. Eu tenho três filhos e grande parte da minha vida acaba sendo tediosa… não que meus filhos sejam chatos (risos), mas você cresce e vira um pai, mas ter uma banda é como ir para a Terra do Nunca. Quando você começa uma banda, você nunca ultrapassa aquela idade mentalmente. Nós ainda achamos que temos 18 anos.

MP: Não sei se isso é algo brasileiro, mas costumamos brincar que, assim que você começa a falar de juventude, você não é mais jovem.

Dougie: (Risos) Sim, provavelmente.

Tom: É, quando você começa a romantizar sua juventude, é porque já está distante dela.

MP: Como foi voltar ao estúdio depois de tanto tempo?

Tom: Foi incrível! Tivemos alguns anos difíceis enquanto banda, não conversamos tanto por um tempo, então esse foi nosso tempo para nos reconectarmos musicalmente. Foi algo fácil, sem ter que forçar nada, sem nenhuma pressão para fazer nada. Só curtimos nosso tempo junto, tomamos muito café e fizemos música.

MP: E qual a diferença para vocês de fazer música hoje em comparação a como era uma década atrás?

Dougie: Uma das maiores diferenças é a tecnologia. Existia uma barreira tão grande entre nós, como banda, e o produtor. Não tinha muito o que podíamos fazer. Agora, Danny virou um cara incrível no estúdio. Não teve nenhum momento em que estávamos sentados esperando o que fazer, todos estávamos mais envolvidos.

Tom: Sim, tínhamos basicamente três estúdios em um só, sempre tinha algo acontecendo, sempre tinha algo para fazer. O movimento é constante.

MP: Quando vemos as paradas de sucesso hoje, ou mesmo os festivais de música, sabemos que o momento é muito diferente daquele em que McFly surgiu. Dito isso, para quem vocês fizeram esse disco?

Tom: Nós mesmos, para ninguém mais. Sabemos que você nunca vai agradar a todos. Você pode tentar escrever para os fãs, mas tem aqueles que preferem o primeiro álbum, outros gostam mais de Radio:Active. E eu penso que, enquanto banda, é você quem precisa ditar o que vai fazer, não seguir uma direção que te dão. Às vezes, você acertará mais e, em outras, alguns não vão gostar. Mas, se você curtir o que fez, é isso o que importa.

MP: Para acabar, eu preciso perguntar: Como tem sido trabalhar o lançamento deste disco durante uma pandemia?

Tom: Acho que, de diversas formas, tem sido o que nos salvou mentalmente da pandemia, porque nos deu algo para ficarmos empolgados. Obviamente, é a coisa mais difícil que já vivemos, com o mundo inteiro em transformação. Mas termos algo assim acontecendo nos manteve sãos durante todo esse tempo.

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