Entrevista: Marcelo Falcão

foto por jacques dequeker

O que ouvimos no disco Viver (Mais Leve que o Ar) faz ainda mais sentido após alguns minutos com Marcelo Falcão. Ainda que sentado em um ambiente tão diferente do palco, onde conhecemos tão bem sua potência vocal e física, sua fala é inquieta mesmo que em um ritmo desacelerado, com muita informação sendo compartilhada sempre. São experiências que ele passou, comentários detalhados, referências musicais citadas, parágrafos que são pulados e, depois, retomados – tudo reflete a imensidão criativa que acontece na mente do músico.

Aos 45 anos, Falcão lança hoje, 15 de fevereiro, esse seu primeiro álbum solo, no qual ele compôs (compulsivamente), cantou e tocou, já com outros dois discos seguintes em mente. Para isso, ele contou ainda com diversos nomes de diversas áreas da música brasileira, como o lendário maestro e arranjador Arthur Verocai, músicos de bandas como Cidade Negra e até o pessoal do duo Tropkillaz em algumas faixas.

Na véspera do lançamento, ele contou ao Música Pavê sobre a produção e o momento que ela chega tanto em sua carreira, com O Rappa em hiato, quanto no mundo (e no Brasil) de hoje. Além das histórias sobre como conheceu Iza, ou sobre um presente que ganhou de Chris Martin (Coldplay) ou ainda como foi ele quem apresentou Anitta ao presidente da Warner Music, eis o que Marcelo falcão comentou sobre…

… suas intenções por trás do disco

Eu precisava fazer um disco que fosse um desabafo pessoal sendo sempre uma célula d’O Rappa, mas sem ser O Rappa. Precisava cantar, colocar minha voz a serviço do canto.  Eu sou um cara simples na atitude, nas coisas do dia a dia, e queria que o disco fosse altamente direto para atingir as pessoas nessa onda de ‘se estamos do jeito que estamos, continuamos desunidos. Se estivéssemos unidos pelo mesmo propósito, talvez a nossa voz fosse maior’. O único sentido do que existe para a gente aqui é viver. E eu vivi isso muito nos últimos anos com uma tia que está fazendo um tratamento, amigos que se foram e tal. Eu tinha necessidade de continuar sendo o Marcelo Falcão, com algumas pérolas de acidez, porque eu sou um homem muito ligado ao social – mesmo falando de amor, que fosse de um jeito político, plural, que eu conseguisse abraçar as coisas com a mesma vontade que eu sempre fiz. Era o que eu tinha pra dizer agora. Ao invés das perdas, eu quero falar da vida. É para esse lado que eu quero levar as pessoas.

… a escolha do repertório de ‘Viver (Mais Leve que o Ar)’

Eu tinha 600 arquivos gravados em vários iPhones e iPads. Desses, selecionamos 80. Queria estar confortável para contar uma história agora que continua depois. Todas elas têm uma conexão uma com a outra, é como se fosse tudo um grande rolê que eu dou depois que eu falo “eu quero ver o mar”. Do momento em que você entrou no ônibus até você ver o mar, vai passar e ver muita coisa – um assalto, um acidente, o ônibus que tá demorando, a enchente – e, no fim, tem um sorriso, tem o ver o mar para te aliviar.

… trabalhar com tantos músicos neste projeto

Contei com a generosidade de cada um dos músicos que está comigo, é um disco solo feito por muitas mãos. Marcelo Falcão veio com muitas ideias, elas estão 80% ali dentro – como linhas de baixo e arranjos. Era minha oportunidade de exercitar o que eu vi muito os outros fazerem e aprendi a fazer. Com ajuda de todo mundo, consegui fazer esse disco que, para mim, ainda é uma história a ser contada depois, mas já dá um início ao Falcão que está mesmo “mais leve que o ar”.

… o que significa neste momento da carreira ter um primeiro álbum solo

Significa continuar o que eu acredito, com as coisas que são importantes para mim. Eu sempre subi no palco achando que era meu último dia, falava ‘não vou voltar com nada para casa não, sem economia’. É ter orgulho de onde eu vim, do subúrbio do Rio, onde encontrei com uns caras que também tinham muito a dizer e gritamos da maneira que eu acho correta – não xingando, não sendo chulo, sempre tendo a leveza de escrever ou de cantar com a propriedade de ser do todo, de brigar pelo melhor. Tenho propriedade sobre assuntos que eu vi muita gente parar de cantar e de dizer pra ser só diversão. Quero poder ser diversão musicalmente também, mas quero levar algo que mexa com o coração, que mexa com o íntimo da pessoa. Nessa viagem, eu sinto ter só esse compromisso, que vou carregar pra sempre. Gosto que minha música chegue na pessoa e cause alguma coisa nela. 

fotos por música pavê

… sobre o momento em que o disco chega ao mundo

Eu queria fazer nesse momento, quando tem muita gente vivendo só Internet e deixando de dar um abraço, um bom dia, um boa noite, não veem o show porque estão no celular e deixam de viver aquele momento. As pessoas querem saciar seu desejo de imediato, mas não conseguem ver que, se elas tivessem um pouco mais de paciência, se fossem um pouquinho mais tranquilas em relação a tudo e a todos, as coisas poderiam ser melhores. Você quer que as coisas mudem, mas, se você mudar você, já desencadeou uma coisa gigantesca. Hoje, no mundo do fake news, essas coisas só pioram. Eu só tenho tempo agora para minha vibe sonora, eu só tô focado em trazer através do som coisas que sejam melhores para os outros também.

… os próximos passos nessa jornada solo

Quero fazer um disco de remixes com o álbum inteiro e quero contar com quem não pôde estar nesse porque estava ocupado, fazendo shows e tal, como Iza. E quando estiver com seis meses de estrada, volto pro estúdio de novo. Ainda vou estar na pegada de apertar os botõezinhos (risos).

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