Entrevista: Mahmundi + Emerson Leal
Na última quarta-feira, dia 21, pela terceira rodada do Festival BRio, tivemos duas grandes atrações no Centro de Referência da Música Carioca. Uma delas foi a carioca Mahmundi, que já esteve listada com uma das canções mais impactantes de 2013, e o outro foi o cantor baiano Emerson Leal, que tem arrancado inúmeros elogios com seu álbum de estreia.
O Festival Brasil no Rio está ocorrendo toda quarta-feira, desde o dia 7 de maio, no Centro de Referência (Tijuca), e conta com nomes importantes da cena independente brasileira como, Fernando Temporão, César Lacerda, Ventre, Michele Leal, Posada e o Clã e Brunno Monteiro.
Poucos dias depois do show, o Música Pavê conversou um pouco com o Emerson e a Mahmundi e o resultado você pode ver abaixo.
Música Pavê: Como vocês avaliam as diversas cenas de música brasileira atualmente?
Emerson Leal: Há qualidade artística em todas as cenas musicais que quisermos enumerar; Compositores, cantores, instrumentistas de bastante competência não param de brotar no Brasil inteiro. Por outro lado, é visível a necessidade de criação de meios de formação de público para consumo de trabalhos que não contam com grandes investimentos em publicidade comercial ou uma maior penetração nos principais veículos de comunicação. Isso pelo menos nos lugares onde trabalhei mais, que são Rio de Janeiro e Salvador. Em São Paulo a coisa é um pouco diferente: Há um interesse e uma iniciativa maior do próprio cidadão em buscar algo novo. Esse dado é fundamental para que a cena daquela cidade seja mais potente e consistente que outras.
Mahmundi: Sinceramente? Eu estou longe de avaliar cenas. O que vejo são pessoas individualmente existindo com seus trabalhos e suas personas. Assim, podemos enxergar pessoas fazendo suas histórias, construindo suas músicas. O tempo vai dizer o que é uma cena. Ainda é cedo demais. Foquemos, pois, no agora.
MP: Como a mistura de gêneros musicais pode vir a te inspirar numa composição futura?
Emerson: Olha, o tempo em que a gente vive hoje é, em geral, um tempo de fusões às vezes radicais e um tanto inimagináveis há algumas décadas – e as manifestações culturais, é claro, não poderiam escapar disso. A nova canção brasileira é cheia de “sugestões”: uma sugestão de samba associada uma sugestão de rock quase vestido com sugestões eletrônicas, muitas vezes uma sugestão de molho “retrô” nisso tudo… E uma coisa importante: as fusões dessas sugestões tem sido estabelecidas na própria composição, o que é um fato mais radical do que essa ousadia nas instrumentações ou arranjos – e este fato é, para mim, basicamente o traço que diferencia a canção que se desenha hoje das canções da nossa tradicional e amada MPB. Sinto, sim, que temos produzido outra coisa: uma Nova Canção Brasileira, a canção da fusão não de harmonias, melodias e ritmos acabados e característicos, mas de sugestões disso tudo, sugestões de gêneros. E cada cancionista com seus próprios terrenos, seus próprios limites e tendências. E de sugestão em sugestão e de mistura em mistura a gente vai chegando a novas formas.
Mahmundi: Eu sempre ouço, vejo e leio coisas como num todo. Quero tirar dalí algo que toque a minha alma, que movimente a minha vida e reverbere na minha arte. Quando pensamos em gêneros musicais, a gente começa a rotular as coisas. Ouço Calypso com a mesma garra que ouço uma ópera. Quando a coisa é boa ela é inspiradora sempre, sem nomenclaturas.
MP: Como isso pode ajudar na disseminação do seu trabalho?
Emerson Leal: Bom, não tenho isso muito claro, porque tenho visto que determinados graus de disseminação não dependem somente da obra em si. Mas, como falei acima, a partir do momento em que sinto que a humanidade vem tendendo à associação de identidades e comportamentos outrora vistos como incompatíveis, penso que se a minha música alcança esse sentimento e de alguma forma ajuda a desatar algum nó interior de alguém que a ouça, ela está num bom caminho.
Mahmundi: (risos) A regra é clara: a música quando bate, ela bate. E aí o trabalho começa antes, nessas conclusões sobre a obra, sabe? Depois é loteria, não tenho controle mais! Como já diria Forfun: “Longe de toda negatividade, a onda boa se propaga no ar”.
MP: O que o público do Festival BRio e o público de outros estados podem esperar de vocês em um futuro próximo?
Emerson Leal: Antes de tudo, eu sinto que o BRio veio para ficar e gerar uma coisa boa – talvez dar um sentido de forma, consciência e consistência a um movimento que já está aí, ainda que talvez um pouco flutuante. Pra mim é um prazer estar participando disso e dividindo a noite com a Mahmundi. O público vai poder conferir, além das músicas do meu primeiro disco, uma mostra do que vem por aí, inclusive o single que será lançado depois da Copa e que fará parte do próximo álbum.
Mahmundi: Muito trabalho, muita música, muita música, muito trabalho.