Entrevista: Luiza Brina

Há algo inegavelmente familiar nas músicas que compõem Tenho Saudade Mas Já Passou, disco que Luiza Brina lançou há cerca de uma semana. Ao longo de suas nove faixas, o ouvinte é transportado para um lugar de afeto pela canção popular brasileira.

Falando ao Música Pavê por telefone, Luiza falou sobre a produção da obra e as participações nas músicas – Fernanda Takai e Tuyo.

Música Pavê: Para começar, me conta: Tem saudade que ainda não passou por aí?

Luiza Brina: (Risos) Muito boa essa pergunta. Acho que o disco, direta ou indiretamente, dialoga com a nossa música popular do Brasil. Mais do que uma saudade, é uma reverência, um zêlo, um carinho pela canção que foi produzida até hoje no Brasil. E o “já passou” vem da busca do que a canção vai ser agora, o que a gente pode fazer depois de tudo isso que já foi feito. Tem alguma saudade, mas, mais do que isso, tem um enorme carinho e um desejo de continuar essa história.

MP: Esse carinho está bem comunicado no disco, ao meu ver, e essa busca também. Como você tem se entendidon o papel de poder fazer música no país hoje, dentro dessa tradição, mas sem perder de vista o “hoje” ou mesmo o “amanhã”?

Luiza: Que bom que você sentiu essas questões com o disco. Ele é uma pergunta também sobre tudo isso. Eu não sei o que vai acontecer com a canção e o que seria esse futuro que a gente está apontando. Mas a canção é a grande coisa da minha vida, é o que me move desde criança. Ao meu ver, é uma coisa muito importante para o ser humano, uma tradição de muitos anos, desde os trovadores. Acho que a canção desperta coisas necessárias para cada um individualmente, cada uma tem uma função específica na vida de cada pessoa. Eu acho que é isso, que independente do caminho estético que cada canção vai tomar a partir de agora, ela vai continuar cumprindo essa função de acolhimento, de ajuda, de descobertas íntimas para cada pessoa.

MP: Tive a impressão de que você abraçou a doçura da sua voz neste álbum de uma maneira mais “intencional”. Penso que isso pode ter a ver com a experiência e a maturidade de saber utilizar cada vez melhor o seu vocal para o que quer. Como você vê isso?

Luiza: Bom, esse disco tem direção artística do César Lacerda. Antes e durante o processo do disco, a gente conversou muito sobre o que seria o nosso desejo com ele. Acho que essa doçura que você percebeu tem a ver com um desejo nosso de fazer com que essas canções naturalmente dialogassem generosamente com as pessoas. Acho que diante desse Brasil complicado que a gente está vivendo, a doçura acaba sendo um respiro para a gente tomar fôlego e conseguir enfrentar essas dificuldades.

MP: Sim, dá para notar que o conteúdo das músicas não é apenas romântico, mas até mesmo sonhador.

Luiza: Com certeza. Acho que a música e a arte estão aí para despertar desejo e esperança nas pessoas. Quando escuto música, ou quando assisto a alguma peça ou filme, sinto isso. Quando estou fazendo as canções, também.

MP: Conta um pouco sobre as parcerias e participações no disco? Achei interessante as escolhas de mulheres com vozes muito características.

Luiza: Bom, foi uma honra ter Fernanda Takai e as meninas da Tuyo. Elas (Lay e Lio) participaram de Quero Cantar, uma faixa que a gente tinha gravado e estava sentindo falta de vozes potentes, expansivas. E as duas são muito impressionantes, têm uma formação musical muito consistente e muita facilidade de criar as linhas, de cantar muito afinado, abrindo as vozes, timbrando uma com a outra e com a faixa. Fiquei muito feliz com o resultado. E a faixa que a Fernanda participa é Acorda para Ver o Sol, uma parceria que fiz com Ronaldo Bastos, esse cara tão importante para nossa música popular. E foi isso também, eu já tinha gravado a música e fiquei imaginando a voz dela ali. Admiro muito seu trabalho desde Pato Fu, que ouvi muito na adolescência. E achei que essa gravação teria alguma coisa a ver com o trabalho solo que ela faz na bossa nova, de uma canção mais intimista. 

MP: Você comenta da Fernanda ter seu lado Pato Fu e ter também seu lado carreira solo. Você se sente assim também ao olhar seu trabalho na sua banda, Graveola?

Luiza: Sim, e pra mim é muito importante poder realizar as minhas diversas influências e referências em trabalhos diferentes. Atualmente, acompanho também Castello Branco como violinista e baixista, também Júlia Branco, participei dos arranjos de seu disco mais novo. Com Graveola, eu toco guitarra agora, antes tocava percussão. Gosto muito disso, de ter a minha carreira solo para cantar as minhas canções, mas também ter o lado em que eu faça os arranjos, toque os instrumentos. Gosto de poder estar em lugares diferentes.

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