Entrevista: Luccas Carlos
O disco chama Jovem Carlos e sua capa simula uma selfie no espelho. É evidente que Luccas Carlos quer mostrar quem é com este que – pasmem – é seu primeiro álbum. Com uma carreira que há alguns anos o coloca como um dos maiores destaques da música brasileira contemporânea e pop, o carioca deixa claro também que mais do que uma obra de cunho pessoal, ela é também uma coletânea de seu alcance enquanto artista: Um cara com fluência em diversos estilos e boa comunicabilidade entre várias bolhas.
Foi esse o assunto na entrevista com o Música Pavê na véspera do lançamento do disco, em maio, que deu continuidade à conversa em fevereiro registrada no podcast. Na época, ele deu algumas dicas do que o álbum seria, e ele estava certo quando falou que traria várias surpresas – as presenças de Lulu Santos e de Chris, nas parcerias, são apenas duas delas.
Música Pavê: É evidente a sua intenção de mostrar sua versatilidade musical em Jovem Carlos. Do início ao fim do disco, o ouvinte faz um grande passeio por muitas das sonoridades com as quais você se identifica. E a minha primeira pergunta é simples: Por quê? Por que mostrar ao público essa sua pluralidade?
Luccas Carlos: Porque eu senti que era o momento de mostrar isso aí, de assumir essa verdade. Sinto que, mesmo sem um primeiro disco, eu já fiz tanta coisa, já fiz música com muita gente, tanta gente já me viu em várias fases da minha vida, e eu nunca tinha chamado nenhum projeto de “álbum” porque eu sentia que eu já tinha algumas músicas que eram muito diferentes para estarem no meio dos projetos que eu estava fazendo. Então, acho que essa era a forma que eu queria apresentar essas músicas juntas, mesmo sendo diferentes entre si.
MP: “Juntas, mas diferentes”. Na hora de montar o repertório, você se preocupou a dar uma coesão maior à obra?
Luccas: A gente teve que adaptar sim. Teve uma hora que não estava tão a minha cara mais. Não sei, ele estava muito calminho, sabe? (Risos) “Gente, precisa soar mais assim“. E aí, a gente chegou a esse resultado.
MP: Ter tanta gente envolvida na produção foi algo que ajudou ou que foi um desafio para o disco ter a sua cara?
Luccas: Isso ajudou, na real. Sinto que a música, quando ela é colaborativa, ela pode chegar longe, em lugares que ninguém sabe, sacou? Eu queria trazer isso no disco também. Já que eu vou pra outros lugares, posso pedir ajuda dos meus universitários aqui pra contar essas histórias.
MP: Quando conversamos em fevereiro, você mencionou uma naturalidade muito grande no trabalho com outras pessoas – “quando eu via, já estava componto”, “já estava produzindo”. Como foi então trabalhar a intencionalidade de realizar um álbum, direcionar a criatividade na direção de uma obra completa?
Luccas: Acho que eu estava há tanto tempo para fazer que se tornou uma missão. As pessoas já esperavam, eu falava disso há muito tempo, tinha gente que achava que nunca ia sair. Não tinha pressão não, sacou? Mas tinha muita vontade de fazer algo maneiro, e isso motivou mais do que qualquer coisa. A gente vai fazer vários festivais neste ano, [queria produzir] uma música que combinasse com o ambiente que a gente quer permear daqui para frente.
MP: Ia te perguntar isso agora, sobre a retomada dos festivais. Tem sido interessante ver como as programações dos eventos têm sido também bastante plurais. Então, quem entrega um show versátil – por exemplo, Ludmilla, que vai do funk ao pagode no mesmo show -, se encaixa ainda melhor no que se espera de um festival.
Luccas: É, e a minha vontade, desde menorzão, é estar nesses palcos. Tem um lance maneiro em fazer festival, porque tem muita gente para ver outras pessoas, e muitos não te conhecem, tá ligado? Então, você está cantando para um cara que vai passar a te ouvir, aí vai te ver em outro festival e leva um amigo com ele. A coisa só vai aumentando.
MP: Ainda no assunto da versatilidade, seus dois convidados – Lulu Santos e Chris – são também muito distintos entre si. Como foi juntar esses dois ali, ainda por cima em faixas seguidas no disco?
Luccas: Cara, eu quis botar os feats juntos, como se fosse em um show, uma vibe em que eles entram ali naquele momento. Chris é um cara que eu já queria colocar em algum projeto já tinha um tempo – a gente já fez coisa junto, mas não em um projeto meu, então foi muito bom. E Lulu, tenho nem palavras, né? É uma lenda. Para mim, é de muita honra mesmo, cara, ter alguém assim no disco, ele ter acreditado e colado junto. Pô, tô muito feliz com as participações.
MP: Quando esse disco sair amanhã, quais você acha que serão as maiores surpresas para as pessoas que já te acompanham?
Luccas: Acho que o samba, a Marrom, Se Você Deixar também… acho que todas, na real. Tá um disco muito da hora, acho que as pessoas vão ouvir e vão entender, sacou? O pessoal se perguntava muito quem é Luccas Carlos. “Ah, ele só faz refrão” e não sei o quê… não, mano, tá aqui, ó. Olha o que o cara do refrão faz aí (risos).
MP: O disco tem esse nome e tem essa capa. O que você acha que vamos aprender sobre você com essas músicas?
Luccas: Acho que é um disco muito pessoal mesmo: Várias conversas comigo, abordo vários assuntos que eu às vezes nem falei com a pessoa, mas fiz a música. Tá ali o que eu pensava na época, sacou? Acho que sempre tive muito medo de ir para esse lugar, e aí, nesse disco, me soltei desse medo. A gente nunca sabe, quando lança um projeto… Sei lá, tem uma música que você acha que vai acontecer, mas quem decide é a galera. É sempre um alívio ver essa montanha russa. Então, quero só ver como o pessoal vai responder. Falta pouco, são 17h já… daqui a pouco tá na pista (risos).
MP: Já que falamos de festivais, quero fazer aqui uma brincadeira, um faz de conta, com você: Se Luccas Carlos está no line up, quem faz show antes e quem faz o show depois dele?
Luccas: Podia ter um… Tyler, The Creator… e depois… Djavan, vai.
MP: Da mesma forma que o novo disco te permite estar em mais festivais, ele também pode te inserir em diferentes playlists. Em quais delas você acha que poderia estar?
Luccas: Eu queria cair em uma de samba, ou de MPB com Marrom. Acho muito importante falar com a base – eu sou um cara que bato bastante nisso -, eu quero falar com gente que vem de onde eu venho, que escuta o que eu escuto, mas acho muito importante também chegar em outros lugares. Se essa galera do samba me abraçar como abraçou Ludmilla e como abraçou o Chris também, tô felizão. Eu, como carioca, me sinto no direito de, pô… pelo menos tentar (risos).
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