Entrevista: Lucas Vasconcellos + Vanessa Longoni
O Festival BRIO trouxe para o palco do “Centro de Referência da Música Carioca” dois nomes muito interessantes da música brasileira. De um lado, o múltiplo Lucas Vasconcellos, um dos nomes por trás da banda Letuce, que lançou um álbum especial que dialoga com o coração, e do outro, Vanessa Longoni, uma gaúcha charmosa, bem enraizada na MPB, que leva consigo uma dose de doçura.
O Festival Brasil no Rio aconteceu toda quarta-feira, desde o dia 7 de maio, no Centro de Referência (Tijuca), e contou com nomes importantes da cena independente brasileira, como Mahmundi, César Lacerda, Emerson Leal, Ventre, Posada e o Clã e Brunno Monteiro, Fernando Temporão e Michele Leal, Lício e Gustavo Macacko, Poucos dias depois do show, o Música Pavê conversou um pouco com Lucas e com Vanessa, e o resultado você pode ver abaixo.
Música Pavê: Como vocês avaliam as diversas cenas de música brasileira atualmente?
Lucas Vasconcellos: Não tenho exatamente uma avaliação. Isso sempre pode soar como um julgamento. Tenho admiração por quem é verdadeiro e tem poder de traçar seu futuro com autonomia. Admiro quem se vale de propostas originais e se desdobra pra fazer acontecer sua música onde quer que seja. Odeio o burburinho reclamatório. Adoro o poder dessa independência radical que promove. Isso é o que faz a música se renovar e existir como arte e como ofício: a reinvenção.
Vanessa Longoni: Diversificada, variada, mistura de tudo pra todos os gostos. Nem tudo é bom, mas tem de tudo.
MP: O mundo se tornou ágil, veloz e intenso. Surgiram plataformas de vídeos (YouTube, Vimeo), redes sociais, likes, compartilhar e até o Hangout. Tudo foi ficando muito mais acessível e ao mesmo tempo cômodo. O que os festivais representam no meio de tanta tecnologia?
Lucas: Eu prefiro não me conectar tão diariamente a essas plataformas. Prefiro trabalhar mais artesanalmente na criação e geração de conteúdo. Meu trabalho demanda um tempo em testes e experiências, demanda ócio e fluidez de idéias ao mesmo tempo. Se me conecto o maior tempo possível com meu trabalho, aí sim esse mundo virtual passa a fazer sentido: pra hospedar meu tempo transmutado em obra de arte. Prefiro deixar essa administração virtual pra quem entende/se diverte com essa parte do processo. E isso faz diferença. Porque aí as pessoas certas se conectam, especialistas fazem suas mágicas e os interesses convergem em torno de um conteúdo. E os festivais representam a fisicalidade desse conto de fadas todo.
Vanessa: Justamente por isso o bom do festival ser o real, concretizar o contato.
MP: Como isso pode ajudar na disseminação do seu trabalho?
Lucas: Materializando-o.
Vanessa: Onde houver divulgação, há disseminação.
MP: Não dá mais para falar de música na atualidade sem citar a Internet em um momento que grandes artistas fazem shows online e baixa-se discos pela Web. Qual a opinião de vocês a sobre a questão dos direitos autorais? E por que cada vez mais músicos estão preferindo ser independente?
Lucas: Direito autoral é questão muito ampla. Grana de Internet é algo que ainda não entendi. Sou de 79. E ser independente não é questão de preferir. Somos independentes porque o mercado formal deixou de fazer sentido e tivemos que nos virar. É uma necessidade.
Vanessa: Direito autoral te garante o que é teu, se não em grana, pelo menos no crédito. Aquela criação é tua, foi você o cara que não dormiu e fez aquilo e isso é o mais importante pra mim, o crédito. “Feito por”, é a assinatura. Do resto, deixa andar, minha música podem ser baixada gratuitamente, prefiro ela andando do que parada, ela vai levar público pro show e lá o ingresso é meu. Ser independente é você ter seu próprio negócio, a gerência é sua. O que entrar e o que sair é sua responsabilidade e isso muitas vezes é vantajoso. Sendo independente, ninguém diz o que ser feito esteticamente e isso pro artista é tudo. Enfim, cada um deve saber o que faz e onde se encaixa.
MP: O que o público do Festival BRio e o público de outros estados podem esperar de vocês em um futuro próximo?
Lucas: Da minha parte, amor máximo à música.
Vanessa: Não sei, tem que prometer algo? (risos). Pro show de agora, garanto boa música. Pro futuro…