Entrevista: Fantastic Negrito

Fantastic Negrito chegou ao Brasil para se apresentar no país pela primeira vez nesta terça, 19 de março, no Cine Joia (São Paulo). Na bagagem, ele trouxe uma musicalidade de personalidade forte, grande carga identitária e um currículo que contém prêmios Grammy e os mais diversos elogios.

Com produção do site Tenho Mais Discos que Amigos, a noite contará com o repertório de discos como o recente Please Don’t Be Dead e sucessos anteriores do músico. Falando ao Música Pavê por email, o músico norte-americano comentou sobre a oportunidade de vir ao país e trazer o seu som, chamado por aí de “blues contemporâneo”.

Música Pavê: Sua música parece ter um elemento muito “cru”, que acredito vir pela maneira com que você dialoga a herança de estilos como o Blues. Ao seu ver, o que faz seu som ser “contemporâneo”?

Fantastic Negrito: Eu cresci em Oakland (Califórnia) durante o nascimento do hip hop e, como produtor, uso algumas de suas técnicas de produção. Mas eu não acredito muito em gêneros. São palavras que a indústria usa para colocar as pessoas em uma caixa. Eu chamo minha música de black roots (“raízes negras”) porque vem da música de nossos ancestrais. Quer você seja rock ou hip hop, estamos todos colhendo da mesma horta – dos grandes artistas de blues, da música que nasceu nos campos durante a escravidão. Isso nem sempre é dito quanto deveria ser, mas os escravos ajudaram a moldar a música contemporânea e a música popular ao redor do mundo.

MP: No fim das contas, talvez o termo que melhor defina seu som seja atemporal, porque ele não só combina diferentes eras como temas universais para pessoas em qualquer época ou lugar. Que você acha disso?

FN: Acho ótimo. Eu só tento fazer música que conecta. Quando eu era mais novo, eu pensava no que a música poderia fazer por mim. Eu queria que coisas viessem da música – dinheiro, carros, mulheres bonitas. Mas quando eu finalmente voltei a produzir sob o nome Fantastic Negrito, eu me concentrei mais no que eu poderia contribuir para a música e para a humanidade.

MP: Um dos discos mais aclamados no Brasil no ano passado foi Bluesman, do rapper Baco Exu do Blues, no qual ele resgatou essa sua herança para trazer luz às lutas dos afrodescendentes pelo mundo. Que papel você acha que os artistas têm de fazer as pessoas refletirem sobre aspectos sociais?
FN: Ele parece ser um artista interessante, adoraria conhecê-lo. Nós vivemos em tempos desafiadores. Eu digo que meu novo disco é um “convite à guerra” para os artistas. Nós estamos na linha de frente. Todos olham para os políticos que nos guiam, mas eles trabalham mais no “toma lá, dá cá” do que em direcionamento. Eles não estão ali lidando com a realidade. É trabalho dos artistas dizer a verdade. E eu sinto que precisamos disso hoje mais do que nunca.
MP: O que muda na carreira de um artista após ganhar um Grammy?
FN: O Grammy é uma honra enorme e a melhor parte é o reconhecimento de seus colegas de trabalho. Mas a primeira coisa que fiz após receber meu primeiro prêmio foi colocá-lo de lado para que ele não influenciasse meu próximo disco. O lugar mais amedrontador para um criador é o estúdio. É onde você precisa estar completamente honesto e aberto, e você não pode ser influenciado pelo seu sucesso passado.
MP: É sua primeira vez no Brasil. Quais suas expectativas do show?
FN: Tento não ter expectativas, a não ser me conectar com as pessoas de uma maneira significativa. Mas há uma enorme tradição musical no Brasil, estou muito animado por estar no país pela primeira vez e conhecer esse povo lindo.
MP: Seus discos têm uma energia muito especial. Como foi transportar isso para o palco?
FN: Se você acha que meus discos têm energia, não vejo a hora de ouvir o que você acha do meu show!

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