Entrevista: Dani Black
Você sabe o que esperar quando é anunciado um projeto no formato (que insistimos em chamar de) DVD: Um músico ou banda registra ao vivo os maiores sucessos da carreira e, com isso, dá novo fôlego a músicas que estavam já um tanto esquecidas. Costuma ser isso, mas não quando o assunto é Dani Black.
Seu recém-lançado Frequência Rara (que teve uma prévia exclusiva no Música Pavê em março) chega na ambição de inverter a ordem dos processos e apresentar composições inéditas ao vivo antes mesmo de conhecermos suas versões em estúdio – o que, em condições convencionais, chamaríamos de “originais”. O show, dirigido por Rafael Kent, celebra a música do cantor e compositor paulistano ao combinar essas novidades com uma ou outra velha conhecida que não pode ficar de fora de seus shows, assim como apresenta convidados especiais.
Para conhecermos mais sobre o projeto, Dani contou ao site por telefone sobre a experiência de produzir e lançar esta primeira parte de Frequência Rara, enquanto o disco de estúdio não vem.
Música Pavê: Estava pensando que é muito interessante você lançar um registro ao vivo agora, justamente em uma época em que estamos com tantas saudades de ir a shows.
Dani Black: É verdade, cara. Sabe que eu não tinha pensado exatamente nisso? Pensei muito sobre como as pessoas iriam receber essas mensagens num período de estarem mais abertas para as coisas, já que são músicas de conteúdos profundos. E, sim, elas matam também saudades de uma vibe de show. Eu sinto que as pessoas estão assistindo ao show inteiro, estão consumindo o vídeo como show mesmo. Tenho muitas saudades do palco, de tocar com meus amigos, é a coisa que eu mais gosto de fazer na vida. Sou apaixonado por fazer show, montar uma egrégora, né? É foda isso. E é louco porque eu fiz uma live de duas horas dia desses e eu me senti no palco.
MP: Vendo Frequência Rara, me chamou atenção como os arranjos mudam bastante de música a música em termos de dimensões mesmo. Alguns são bastante cheios, outros mais minimalistas. Como foi o processo estético do projeto?
Dani: Eu sinto que o DVD foi feito de um jeito bem orgânico. No estúdio, a gente quis criar uma imersão mesmo pras pessoas, toda uma experiência. A ideia do disco era colocar as pessoas em um ambiente textural sonoro para elas terem um contato com as letras de um jeito bem sinestésico. Mas foi tudo muito planejado e discutido. Já o DVD não. A gente se juntava e tocava, sem falar muito. Era o contrário do disco, a gente só chegava no estúdio e começava a tocar. [A estética] apareceu muito de um lugar de som, de tocar junto, de ir construindo junto. A gente nem falou tantas coisas, os timbres iam aparecendo. É lindo ver a música se construindo na sua frente.
MP: Em março, você contou que Ser Amado ganhou a ideia de ter Mariana Nolasco assim que foi composta. Como foi a ideia de ter Fabio Brazza e Maria Gadú no show com você?
Dani: No caso da Mariana, eu fiz a música e ela me veio à mente como um dueto. Com o Brazza, é uma música que eu já tinha há um bom tempo, ela vai estar super cinematográfica no disco de estúdio. Quando a gente foi fazer essa versão de show, ela virou totalmente outra, uma coisa mais power trio. E ficou claro que tinha que acontecer alguma coisa muito foda ali no meio, ai tive a ideia de chamar o Fabio, com um rap. E a Maria Gadú foi uma participação de um universo muito íntimo, minha parceiraça que eu queria muito que estivesse comigo, e ela teria que estar em um momento que representasse nossa intimidade. Então eu decidi que teria que ser a capela. Só depois que a gente decidiu qual seria a música.
MP: Normalmente, quando os músicos e bandas lançam um DVD, é porque eles sentem que está no momento de rever a carreira. Você fez isso combinando o show com composições inéditas. Como foi a escolha de realizar um trabalho assim?
Dani: Isso partiu de um reconhecimento meu que, se eu fosse fazer uma obra ao vivo, seria para incluir as pessoas e celebrar junto delas. E eu tinha a confiança que podia fazer um trabalho de músicas inéditas, sabendo que elas estariam ali vibrando junto, mas também me deu a vontade de colocar coisas no repertório que as pessoas curtissem, porque eu sei que elas se reconhecem nisso. A pessoa te assiste confiante no que ela não conhece, mas a confiança é criada através do que você já construiu. E é muito legal quando você toca e a pessoa fala “ah essa aí, dessa eu gosto muito”.
MP: E o que você aprendeu no meio desse processo de produzir Frequência Rara?
Dani: O que eu aprendi é que eu to mais interessado no fluxo. Eu sinto que nesse tempo o Frequência Rara me trouxe essa lição de que a entrega é mais importante do que a estética, e justamente por isso que, se você coloca ela na frente, fica estético (risos). Você põe como prioridade na sua experiência entregar uma sensação sincera que você tem e a estética se faz sozinha, porque ela é muito verdadeira. É bem esse processo de entrar no estúdio com os músicos, não falar muito, só tocar e o negócio ficar estético, até refinado, sem ter tanto controle da experiência. E isso foi muito legal de sacar, pra mim é uma mudança de ótica bem importante, já que eu sempre fui apaixonado por estética, sempre quis trazer tudo de um jeito que fosse fresco. Acho que Frequência Rara é só fluxo.
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