Entrevista: César Lacerda + Ventre
Depois do sucesso da primeira semana do Festival BRio, que teve a presença de Brunno Monteiro e Posada e o Clã, chegou a hora da segunda rodada do festival. Dessa vez, quem se apresentou no Palco do Centro de Referência da Música Carioca foi César Lacerda e a banda Ventre, dois artistas com grande presença no Música Pavê e participantes de nosso projeto /remix.
Há muita expectativa nesse encontro pelo fato dos dois polos, das duas bandas, que normalmente teriam um público diferente, confraternizarem o mesmo espaço. O mineiro César Lacerda, radicado no Rio de janeiro, com seu MPB vigoroso e apaixonante, se unirá a um espetáculo com a banda carioca Ventre, munida de seu Overdrive e carisma.
O Festival Brasil no Rio está ocorrendo toda quarta-feira, desde o dia 7 de maio, no Centro de Referência (Tijuca), e contará com nomes importantes da cena independente brasileira como Mahmundi, Fernando Temporão, Emerson Leal, Michele Leal, Posada e o Clã e Brunno Monteiro.
Poucos dias antes do show, o Música Pavê conversou um pouco com os dois (César Lacerda e Gabriel Ventura) e o resultado você pode ver abaixo.
Música Pavê: Lenine, em entrevista na divulgação do álbum Labiada, disse que o silêncio era algo extremamente necessário ao ser humano. O Rappa, por sua vez, no quinto álbum de estúdio, cravou a frase “o silêncio que procede o esporro” que, segundo os integrantes da banda, seria como a calmaria de um Maracanã lotado para a cobrança da falta de Zico, ou seja, um estado de êxtase. Vocês acham que a apresentação no Festival BRio de vocês seria um pouco isso – O silêncio fluídico e necessário da MPB e um êxtase catártico do rock? Qual é a expectativa para o show e o que vocês acham de dividir o mesmo palco com uma banda com um estilo diferente?
César Lacerda: Quando me mudei para o Rio de Janeiro, há sete anos, tive uma banda com o Hugo Noguchi (baixista da Ventre), com o Leo Justi (hoje DJ) e o Jonas Cáffaro (baterista do Matanza). Foi nessa época também que conheci o Gabriel Ventura e a Larissa Conforto (guitarra e bateria da Ventre). Estivemos, desde então, em muitas ocasiões juntos. E somos amigos. Prestigiamos e enaltecemos muito o trabalho uns dos outros e comungamos de uma linguagem e um quadro de referências afetivas e musicais muito próximas. Para mim, soa como um reencontro o concerto de quarta-feira. Um reencontro de amigos.
Gabriel Ventura (Ventre): Não só a apresentação em si, acho que nossas músicas tem mesmo esse clima montanha-russa, então melodia e letra tem que se completar, cada uma precisa no momento certo abrir espaço pra outra ou explodir juntas. E tocar com o César será lindo, ele é amigo de todos nós, vai ser uma festa só. E também não nos vejo assim tão diferentes sabe? Acho que nossos caminhos muitas vezes se cruzam na composição.
MP: O que essa integralidade, essa união de gêneros, pode ajudar na disseminação de estilos?
César: Eu confio muito pouco na divergência dos estilos e não acredito nessa imagem pragmática da escuta. Por ter clara em mim esta noção, acredito na curadoria do BRio. Adoro enxergar com naturalidade estes encontros e tenho certeza que o público também vê desta mesma forma. Somos uma geração shuffle. Nossos HDs comportam uma infinidade de tags. Portanto, o que o festival pretende é justamente isso, trazer para o palco o que nos nossos fones de ouvido já é uma realidade.
Gabriel: É exatamente essa união de vários gêneros que provoca a disseminação, ela só não ajuda como é também uma das causas. O que fazemos é resultado da soma de tudo o que vivemos e ouvimos. E sempre se aprende vendo alguém fazer diferente de você, isso é ótimo pra todo mundo, pra Ventre e pro César que vão se apresentar e pro público.
MP: O que o público do Festival BRio e o público de outros estados podem esperar de vocês em um futuro próximo?
César: Será um enorme prazer me apresentar no festival. Levarei para o palco do CRMC o show do meu disco Porquê da Voz e mais algumas novidades que não estão presentes no disco. Preparo-me agora para minha primeira tour na Europa que começa no fim de junho. De volta ao Brasil em julho, tenho apresentações na Bahia, Minas e Rio de Janeiro.
Gabriel: Já viu Pink e o Cérebro? (risos). A princípio, só queremos terminar e lançar o nosso disco, ver o que acontece, ler as críticas e ouvir o que as pessoas acharam, depois é canalizar tudo da melhor maneira e sair por aí espalhando o que fazemos.
MP: O que representa para a música independente a movimentação da própria classe de músicos para a divulgação dos próprios artistas?
César: Como disse anteriormente, somos amigos. É natural que sejamos também plateia e divulgadores dos trabalhos alheios. Essa rede afetiva da música independente criou um laço muito forte que é o que, em grande parte, sustenta a propagação desta música. Mais até do que sustentar, esse laço criou um modelo que surpreende o grande mercado e torna a música independente uma forma de relacionamento executivo muito potente e de lastro promissor. Um mercado da amizade, da afetividade, do BRio pela comunidade.
Gabriel: É mais um passo para completa autonomia, para os que a desejam, claro, tem gente que não quer isso, ainda se sente mais seguro com uma gravadora dando suporte e tudo mais. Mas penso que, de qualquer maneira, essa movimentação é muito importante, desmistifica e tira desse altar horrível que os astros da música vivem. Eu sou músico, cara, faço música do mesmo jeito que o padeiro faz pão e somos igualmente importantes.
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