Entrevista: Bruno Major
Um mês após Bruno Major ser uma dica de som novo aqui no site, ele sentou com o Música Pavê (por ligação, obviamente, direto de sua casa na Inglaterra) para contar um pouco sobre o lançamento de seu segundo álbum, o maravilhoso To Let a Good Thing Die.
E que mês foi esse. Enquanto o mundo segue lidando com a pandemia do coronavírus, o disco coincidiu seu lançamento com as paralisações e protestos antirracistas ao redor do globo. No tempo da entrevista, ele contou sobre como tem observado esse momento e a jornada que o levou até o álbum.
Música Pavê: Para começar, queria ouvir de você como tem sido a experiência de lançar o álbum não apenas durante uma pandemia, mas no meio de um momento global de luta e revolta.
Bruno Major: Tenho muita consciência de que há coisas mais importantes no mundo hoje do que o lançamento do meu álbum. Preciso colocar isso em perspectiva. Passei quase dois anos trabalhando nesse álbum, era a primeira coisa que eu pensava pela manhã e a última que estava na minha cabeça quando ia dormir. Era o que tinha de mais importante no mundo e, de repente, não é a coisa mais importante do mundo. Você pode olhar para isso de duas maneiras. Como um artista independente, minhas duas principais formas de promoção são turnês e redes sociais. O coronavírus mudou toda minha agenda de shows e esse movimento global aconteceu e as redes sociais agora estão sendo usadas para isso. Mudou a forma com que eu vi esse lançamento.
MP: Imagino também que o disco reflita bastante do que temos vivido nesses últimos meses, quando parece que há um limite muito bem definido do quanto podemos ser felizes. Até o título é melancólico, penso que ele contempla como muita gente tem se sentido – o que obviamente não foi planejado.
Bruno: A felicidade é sempre versátil, né? Sou muito grato por ter saúde e por ter minha família e quem eu amo por perto, e por poder andar pela minha casa sem levar um tiro da polícia. Mas é uma questão de perspectiva.
MP: Você já declarou que lançou este disco para seus fãs. Qual papel que você entende que sua música tem, ou pode ter, para os seus ouvintes?
Bruno: Muita gente me disse que minha música acalma e ajuda com ansiedade, ou durante momentos de términos de namoro, ou perdas pessoais, ou o que quer que as pessoas estejam passando. Eu considerei por um tempo ser um musicoterapeuta, antes de querer trabalhar como artista, e fico feliz de ouvir sobre esses efeitos. Eu não faço música por qualquer motivo que não seja uma catarse pessoal e uma visão artística honesta. Não faço músicas para tocar no rádio, ou em um certo ritmo para tentar ser cool ou entrar em uma playlist. Espero que as pessoas vejam isso e percebam um senso de intenção sincera.
MP: Me surpreendeu como cada música no disco parece ser seu próprio universo sônico, elas ocupam lugares diferentes dos ouvidos e da cabeça. Ainda assim, é um trabalho muito coeso. Como foram feitas essas decisões de produção?
Bruno: Obrigado! Acho que eu sou, essencialmente, um compositor. Então, tudo pra mim tem a ver com a composição. Quando estou no estúdio, nunca penso ‘como essa música vai melhorar o álbum?’, ou ‘como fazemos para esta canção se encaixar neste propósito?’. O que eu penso é ‘o que esta música precisa?’, e às vezes isso é uma percussão eletrônica feita de samples de um Casio, ou pode ser que ela peça cordas refinadas, ou ainda harmonias vocais suaves do jazz. Eu quero servir a cada necessidade específica de cada faixa e confio que, dentro dos meus próprios contextos e limitações, a estética delas como um todo estará, de alguma forma, evidente.
MP: Era o que eu ia te perguntar agora, sobre encontrar sua própria estética. Como foi esse processo?
Bruno: Cara, foi longo. Eu só fui lançar meu primeiro álbum aos 27 anos, mas dediquei toda minha vida à música – toco desde os sete anos. Foi como virar um médico (risos), aprendi meu instrumento, me mudei para Londres aos 20 anos e comecei a aprender como virar músico. Comecei a compor aos 22 e passei dois anos aprendendo como ser um compositor, quando fui então aprender como produzir. Trabalhei muito durante todo esse tempo, e não acho que eu seria capaz de lançar um álbum antes dos 27 porque eu queria ser capaz de fazer tudo sozinho, como um artista completo e musicalmente independente. As escolhas estéticas aparecem como aquilo que você acumulou ao longo de toda a vida, seu ambiente enriquece a tapeçaria das suas influências.
MP: Como foi a experiência de produzir seu segundo álbum, em relação a gravar seu disco de estreia?
Bruno: Foi mais fácil em alguns aspectos e mais difícil em outros. Passei por uma separação bastante traumática de uma grande gravadora, e o álbum que fiz com eles nunca saiu. Isso maculou a ideia do disco que eu queria fazer, como se o que eu quisesse fosse inatingível. Foi isso que me levou a produzir A Song for Every Moon, com uma música sendo lançada por mês. Trabalhar em proporções menores assim tornou o trabalho possível. Quando ele saiu, vi que eu conseguia produzir um disco e que daria para fazer To Let a Good Thing Die, dando continuidade àquela estética. Mas, ao mesmo tempo, foi mais difícil porque agora eu tinha que equilibrar toda a produção com o fato de ser um artista em turnê. E viajar para fazer os shows me requer uma mentalidade diferente. É como se eu transitasse entre duas personas. Uma delas é um soldado que acorda todos os dias, faz os shows e as entrevistas, sorri e, se estiver cansado ou doente, ainda dá conta de realizar todo o trabalho. Mas, no estúdio, essa pessoa é completamente inútil, porque não dá para fazer música com esse tipo de atitude. Então eu tenho que ser alguém tipo uma borboleta – frágil vulnerável e aberta emocionalmente. Pensando agora, o mais difícil deste álbum foi voltar de um mês de turnê e entrar no estúdio sem ser aquele cara dos shows. E é legal ver que eu dou conta de ser esses dois caras.
MP: Antes de terminar, como foi trabalhar com Finneas? E, aproveitando, como você escolhe as pessoas que estarão com você no estúdio?
Bruno: Trabalhar com Finneas foi ótimo, ele é incrivelmente talentoso e muito inteligente. As músicas fluíram facilmente assim que nos encontramos. Sobre escolher com quem trabalho, é uma questão de ou funciona ou não funciona. Não é assim tão complicado.
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