Entrevista: Baleia

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Com a experiência acumulada da última turnê do álbum Quebra Azul, é quase imperceptível não perceber a evolução sonora da banda Baleia. É como se, a cada apresentação, os seis músicos atingissem uma maturidade natural que deixa claro que as coisas são mais sutis do que parecem.

Próximo da apresentação no Lollapalloza Brasil, o grupo bate um papo com o Música Pavê revelando como está o processo da criação do próximo álbum, além da expectativa do show no festival, sobrando espaço até para brincarem de faz de conta e escolherem qual artista queriam que fizesse um cover de suas músicas.

Música Pavê:  Ouvir Quebra Azul e agora o EP Ao Vivo no Maravilha8 é entrar em universos cujo sensorial predomina, uma saga densa configurando o ouvinte consigo mesmo. Cinema, literatura, vida – quais são as principais inspirações da banda na hora da criação?

Baleia: Acho que, no caso do Quebra Azul, qualquer coisa das nossas vidas até aquele momento. Foi o nosso primogênito e a maior parte da banda nunca havia lançado um disco. É natural que seja um pout-pourri das nossas experiências e influências de todos os tipos, acumuladas em cada um desde sabe-se lá quando. De qualquer forma, acho que funcionamos como qualquer outra banda saudável, tudo pode ser inspiração. Acho que o que muda é que, com o passar do tempo, a gente vai se conhecendo melhor, como um grupo, e entendendo o que serve e o que não serve ao Baleia.

MP: Dá pra ver que a banda adquiriu a maturidade ao se apresentar ao vivo, é como dizer que hoje vocês não são mais o mesmo que ouvimos no álbum – e o EP ao vivo é um indício disso. Como vocês comparam a banda nos dois lançamentos?

Baleia: Acho que a pergunta se responde! (risos) Maturidade é muito importante. A gente gravou o disco sem se preocupar em como transpor as músicas pro palco. Nossos primeiros shows eram mais nervosos e compenetrados, era muita coisa pra dar conta, muitas dinâmicas, muitas trocas de instrumentos. Ao mesmo tempo, tivemos de descobrir uma outra identidade sonora, uma que servisse aos palcos. Entre o lançamento do álbum e do EP, fomos ganhando experiência e autoconhecimento.

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MP: Vocês são uma banda que chama muita atenção ao vivo, beirando a se reinventar a cada apresentação. Como estão lidando com a expectativa de tocar no Lollapalooza?

Baleia: A gente tá sempre amadurecendo e tentando melhorar nossas apresentações. Pode ser que isso dê a sensação de cada show ser diferente mas, na verdade, é só porque a gente tá tentando tirar o melhor proveito de cada show, dentro das possibilidades e condições. Se o lugar que a gente vai tocar não tem infraestrutura de luz boa, mas tem um projetor, porque não criar projeções? Se a gente vai tocar numa arena com plateia 360º, porque não tentar criar uma experiência que tire proveito disso? Claro, nós temos muita sorte de termos dois produtores incríveis no nosso time, que são parte fundamental da banda. Quanto ao Lolla, a expectativa é grande mas o show é cedo e o tempo é super corrido. Queremos prezar pelo que sabemos fazer melhor.

MP: O repertório do show no Lolla vai seguir à risca o que já estavam fazendo ou vocês estão preparando algumas surpresas?

Baleia: Por mais que tenhamos vontade de mostrar coisas novas, temos que respeitar nosso tempo e aproveitar essa experiência de tocar num festival desse porte da melhor maneira possível. Só faremos alguma surpresa se acharmos que estamos prontos. De toda forma, esses festivais são uma grande festa e possibilitam muita gente de nos conhecer, então o principal é fazer um puta show.

MP: Qual é a atração musical que a banda está mais a fim de ouvir no festival?

Baleia: Estamos bem ansiosos pelo show da St. Vincent! E queremos assistir nossos amigos d’O Terno, porque eles sempre fazem um puta show e no Lolla vai ser especial.

MP: No lançamento do último álbum do Vanguart, a banda comentava que houve a preocupação em deixar as canções mais palpáveis no sentido de ver beleza em sonoridades e letras mais fáceis para assim atingir um público maior. No caso de vocês, como vocês estão trabalhando o novo álbum? Há alguma preocupação específica em mente?

Baleia: Ainda está tudo no ar, mas a maior preocupação é fazer um álbum bonito e energético. Provavelmente, será mais propulsivo e direto. Menos é mais… apesar de, no nosso caso, “menos” ser algo bem subjetivo (risos).

MP: Quebra Azul possui um aspecto narrativo muito grande, com as músicas interligadas. Podemos esperar o mesmo do novo álbum? Aliás, o que podemos esperar dele?

Baleia: Tenho a impressão que é uma coisa meio inevitável pra gente. Esse disco está surgindo aos poucos, com todas as músicas sendo criadas ao mesmo tempo. É bem provável que elas se relacionem.

MP: A gente daqui tem a impressão que as versões que vocês fizeram para as canções de outros artistas são uma grande brincadeira, no sentido de estarem tão à vontade que temos a sensação das músicas serem de vocês mesmo. Como é o processo de fazer versões? É algo que acontece mais naturalmente ou todos entram em acordo em uma única escolha?

Baleia: Das duas formas. Nós começamos a banda fazendo versões, então continua sendo algo prazeroso pra gente, uma oportunidade da gente brincar, mesmo. Mas tiramos muito proveito disso. Muitas das versões que fizemos desde o Quebra Azul nos inspiraram bastante e, inclusive, ajudaram a gente a encontrar a identidade sonora do que está se tornando nosso próximo disco.

MP: A brincadeira é o seguinte: se vocês fossem jornalistas culturais e precisassem indicar a sonoridade que Baleia toca, em qual gênero vocês estariam e por que?

Baleia: De forma rápida e sintética? É por isso que eu não sou jornalista! (risos) Acredito que há bandas que simplesmente não podem ser explicadas por um termo que coloquem eles dentro de um gênero ou um movimento ou uma cena. Toda vez que tento categorizar a gente, sinto que estou mentindo. Parece que estou afastando e podando o entendimento da pessoa. Tomara que as pessoas tenham muita dificuldade em categorizar a gente, gostando ou não do nosso trabalho. Isso quer dizer que estamos no caminho pelo qual sempre quisemos trilhar.

MP:  Ainda no “faz de conta”: Se vocês pudessem escolher uma banda pra fazer um cover de vocês, quem seria? Arriscaria escolher também uma música?

Baleia: Eu gostaria de ver o Chitãozinho e Xororó tocando Jiraiya.

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