Entrevista: Bala Desejo
Quatro amigos que disseram SIM ao convite para passar o isolamento da pandemia juntos, SIM para fazer um show no festival Coala e SIM para, meses antes dessa apresentação, lançar um disco. A origem do grupo Bala Desejo já foi contada no Música Pavê (tanto no site, quanto no podcast) e o lançamento de SIM SIM SIM foi igualmente celebrado. Chegou a hora de entendermos como os quatro personagens têm vivido felizes para sempre após todas essas missões serem cumpridas.
Dora Morelenbaum e Zé Ibarra sentaram com o site mais uma vez, às vésperas da apresentação no Festival Novabrasil – oportunidade na qual eles recebem Duda Beat no show – para falar um pouco sobre como tem sido essa fase de observar esse projeto ganhando grandes proporções – um desenvolvimento de narrativa tão orgânico como a maneira com que suas músicas foram gravadas.
Música Pavê: Como foi poder, enfim, realizar o show no Coala que originou todo o projeto?
Dora Morelenbaum: Em alguns shows que fizemos, passou um filme na minha cabeça de tudo o que a gente viveu, e esse, especialmente, foi assim. Antes do Coala chamar a gente pra fazer um show e, posteriormente, um disco, não tinha Bala Desejo, tinha nós quatro morando juntos só. É muito emocionante ver isso, mas não só: Também o público, com uma resposta daquelas.
Zé Ibarra: É como se eu estivesse sentado num comenta olhando pra trás, tentando ver a cauda dele. Fico pensando nos shows que a gente fez no Nordeste, em Porto Alegre, em Portugal, foi tudo tão rápido. Só dá uma sensação boa. Sinto vontade de tentar me apegar pra não deixar passar essa sensação. E o Coala foi a culminância prevista de tudo isso, mas a gente ainda não sabe o que vem pela frente.
Dora: Agora, a gente pode ir pra vários lugares que a gente nem sabe.
MP: Foi interessante notar como grande parte dos vídeos que vocês lançaram foram clipes ao vivo (Nana del Caballo Grande veio depois deles). Como foi essa experiência de divulgar seu trabalho apenas com esse formato?
Dora: Bala Desejo foi pensado para o ao vivo. Lá atrás, a gente teve uma vontade de lançar o próprio álbum ao vivo. Isso antes mesmo dele ser o álbum, nem lembro direito. Mas tudo foi pensado para o momento do show.
Zé: Tem uma coisa muito legal aí também. Com Dônica, eu já tinha feito uma espécie de turnê com Milton, mas não como Bala tá fazendo, que são muitos shows num período curto de tempo de um projeto que pretende também a ser, por essência, efêmero. É interessante ver a evolução de um trabalho que existe no mundo dessa forma, com essa quantidade de shows. Sempre ouvi Gil falando que o legal é sair em turnê e depois gravar disco, porque é quando a banda está afinada. E é muito legal ver a cola que vai formando na banda [que nos acompanha ao vivo].
Dora: E na gente também né? Várias coisas de arranjo de voz, coisas que a gente conseguiu chegar a um lugar agora que a gente não chegou no disco. Se a gente gravasse agora as vozes, seria totalmente diferente. Porque, no disco, a gente nunca tinha sentado para tocar essas músicas antes da gravação. Agora, tiveram várias vivências das músicas fora do estúdio que deram outras sensações para elas.
MP: Contem mais sobre como têm visto as músicas se desenvolverem no palco? Me chamou muita atenção perceber como Muito Só, por exemplo, tem outra vida no show.
Zé: Muito Só especificamente tem um negócio que… o disco inteiro é muito mais soft que o show. Em Nesse Sofá, no disco, a gente tá fazendo carinho nos instrumentos. No show, é um espancamento total. Muito Só tem isso muito e acho que tem isso, o arranjo foi todo mais pra cima e Dora e Lucas cantam mais pra cima também. Outra coisa muito legal é que, uma semana antes da gravação, ela não era aquele samba, era outra coisa. Um dia muito perto da gravação, a gente tocou o samba e rolou um ‘cara, acho que essa música é sobre isso’.
Dora: Eu acho que [,com o tempo,] muda muito, e ainda mais de estúdio pra palco . A gente tem feito show pra festival, pra um monte de gente, e acho que muda muito a questão do corpo – é um palcão que a gente tem um espaço sonoro e físico totalmente diferente para ocupar.
MP: Outra dinâmica interessante do trabalho de vocês é como muitas das pessoas que estavam ali quando o disco foi produzido são convidadas para seus shows, como Ana Frango Elétrico (produtora do álbum), Rubel e, neste fim de semana, Duda Beat. Como tem sido trazer essas pessoas para o palco?
Dora: É maravilhoso. A gente tem um projeto que é o Bala Baile Show, que a gente fez no Circo Voador e pretende levar pra outros lugares também, mas que é um pedacinho do Bala aberto pra outros lados que, além de ter várias participações, tem também várias versões de Bala Desejo de músicas que a gente curte. É uma super oportunidade da gente chamar essas outras pessoas, que a gente admira à beça, com quem curte tocar e trocar. Bala Desejo é sobre essas trocas e sobre esses encontros, da gente com a plateia, ou entre nós quatro, ou entre nós cinco, seis ou sete. E é delicioso criar essas novas versões com outras pessoas abertas assim também. Duda Beat chegou no estúdio [para ensaiar o show do Novabrasil] e a gente já tinha feito algo meio Bala Desejo para uma de suas músicas (Nota do editor: eles não quiseram dizer qual). Ela achou ótimo. Isso é muito gostoso.
Zé: Duda Beat é uma amiga antiga daqui do Rio. Toda nossa galera é amiga dela antes dela ser a Duda Beat. O motivo principal do convite foi a amizade, mas também uma admiração musical muito que grande que nós temos, tanto pelo primeiro quanto pelo segundo álbum. Muitas das coisas que Bala Desejo se pretende não tem só a ver com Doces Bárbaros e coisas assim, mas com Marina Sena, Duda Beat, essa galera toda que tá fazendo música pop mesmo no Brasil. Bala Desejo não pode ficar restrito a bolha de Zona Sul que curte MPB. A música feita com amor e verdade pega qualquer um.
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