Entrevista: André Frateschi

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André Frateschi lançou recentemente seu primeiro álbum autoral, Maximalista, um disco duplo com 15 faixas com um interessante e relevante tom crítico ao nosso tempo, resultado também de sua experiência com o projeto Heroes, que fazia homenagem à obra de David Bowie, e também seu trabalho como ator.

Aproveitando o lançamento, que teve produção de Fábio Pinczowski e o Mauro Motoki (os mesmos que trabalham com Onagra Claudique) e participação do pianista Mike Garson (que toca com Bowie), bati um papo por email com o artista e o resultado você vê aí embaixo, logo após o clipe de A Máquina Preenche.

Música Pavê: André, conta pra gente como foi o processo de composição das músicas de Maximalista. Elas foram escritas com o propósito do disco em mente ou são coisas que você fez por um período maior e que depois foram organizadas para montar o repertório?

André Frateschi: Houve uma mistura dessas coisas. Eu vinha registrando letras e ideias de melodias e riffs há uns anos. Juntei essas ideias e parti junto com o Fabio Pinczowski e o Mauro Motoki pra um retiro na unidade rural do estúdio 12 Dolares. Sem telefones, TV, Internet, levantamos primeiras versões das musicas. Muito do que eu havia pensado em usar acabou ficando de fora. Fui escrevendo outras coisas inspirado pelo processo do disco.

MP: Por ser este seu primeiro álbum, houve algum cuidado especial para que o trabalho mostrasse melhor quem é André Frateschi?

André: Sim, sem dúvida. Esse foi um trabalho que eu planejei todas as etapas. Por ser um disco de certa forma tardio, quis que ele fosse a minha mais completa tradução. Senti que havia chegado a hora de colocar a cara à tapa. Foi importante pra mim como artista me colocar diante das coisas da vida. O disco acabou sendo fiel ao que acredito e gosto.

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MP: Como foi o trabalho com Mike Garson? O que significa pra você ter ele no disco? É mais um passo em busca de firmar sua identidade musical?

André: Meu primeiro contato com Bowie, pré-adolescente ainda, foi ouvindo o Alladin Sane, disco que o Mike Garson conduz. Até hoje, me emociono ao ouvir. Ele é um dos meus heróis, absolutamente técnico e ousado, inventor de um estilo próprio inconfundivel. A primeira vez que ouvi os pianos que ele gravou, eu chorei feito criança. É a realização de um sonho e um aval de um dos meus ídolos. Nossa sintonia foi imediata, rolou desde a primeira troca de emails. Conversamos muito sobre música, humanidade, século 21 e conversamos muito musicalmente também, as melodias das minhas vozes foram complementadas genialmente por ele. Tenho muita consciencia do que gosto e sei o que quero, essa é a vantagem de lançar um disco mais velho. No fim do ano, vou a Los Angeles pra levar o disco pra ele, e quem sabe compormos alguma coisa.

MP: Conte mais sobre o trabalho com Mauro e Fábio? 

André: Esses são, antes de meus produtores, meus grandes amigos. Somos parceiros nas bandas que temos e admiro muito os dois. Foi fundamental tê-los como produtores do Maximalista. Em todos os momentos, eles foram muito abertos para o que eu tinha em mente e a partir disso tiveram grandes ideias. Conversamos muito sobre o disco, isso também foi importante. Além deles dois, quero registrar a grande participação de outro grande amigo e músico, o Piero Damiani. Ele foi meu consultor melódico para as linhas de vocal. Tenho muita identidade com ele também.

MP: Por que dividir Maximalista em lados A e B?

André: Gosto do conceito de álbum. Acho que há uma banalização da música hoje. Você escuta em todo o lugar, mas acaba não ouvindo nada. Gosto de sentar e escutar um disco do começo ao fim, viajar na história que o artista sugere, ou inventar a minha própria. Essa expêriencia é cara pra mim. O disco tem dois momentos e achei que eles deveriam ser separados. É também uma referência a outro grande ídolo, que também lançou o primeiro disco duplo, Frank Zappa.

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MP: Como você vê a influência que sua experiência tem como ator tem sobre seu trabalho como músico (principalmente nas composições, já que não é difícil imaginar o impacto disso no palco)?

André: Sempre ouvi que deveria escolher uma carreira pra não dispersar energia. Depois de anos em conflito, descobri que eu escolho as duas. São muito complementares pra mim. Minha cabeça funciona assim quando ator ou músico. As artes cênicas tem a mediação da razão, se discute, estuda, lê e isso não é muito comum, pelo menos nas bandas que tive. Procurei utilizar disso pra desenvolver o conceito do Maximalista. Mais especificamente, por exemplo, a música Sou Eu que Sou Isso Aqui, foi composta inspirada em Hamlet.

MP: Como foi fazer o clipe de A Máquina Preenche, fazendo o contraste dos robôs com o ultrassom?

André: Aqueles robôs do Ehr, meu cunhado, sempre me chamaram a atenção e traduzem a tristeza e a solidão que a letra de A Máquina Preenche traz. Eles trazem a nostalgia da modernidade do século 20, quando imaginava que o século 21 seria algo próximo aos Jetsons. Sobrou o oco da lata. A música é uma espécie de continuação de Cérebro Eletrônico do Gil. De repente, quando estava editando o vídeo, revi os ultrassons da minha filha Angelina e vi a máquina como a perfeição materna, o milagre da vida que se preenche de vida.

MP: Por último, conta como foi ter Fábio Moon nas ilustrações da arte do disco. Por que convidá-lo para o projeto?

André: Sou fã do Fábio desde os tempos do 10 Pãezinhos, acho o trabalho dele e do Gabriel fora de série. Eles são frequentadores assíduos dos shows do Heroes e sempre trocamos ideias no camarim depois dos shows. Quando o disco foi tomando forma, eu sabia que queria o Moon pra fazer a arte do disco. Tive muito zelo ao convidar os artistas que fizeram parte desse trabalho, todos dialogam muito com o que faço e essa é uma grande conquista pra mim.

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