Dose Dupla: Papo Rápido com Cymande e com Yazmin Lacey
Ninguém estava exatamente preparado para o que o Queremos! começou a anunciar no line up de seu festival anual. Muito menos para que nomes tão fortes quanto Cymande e Yazmin Lacey estivessem inclusos. E calhou que nesta quinta (13 de abril) eles vão fazer um show juntos lá na Audio, em São Paulo, com discotecagaem da DJ Vivian Marques e do DJ Tamenpi. O festival é logo ali no sábado (15 de abril), na Marina da Glória, Rio de Janeiro. Ambos os eventos ainda estão com ingressos à venda.
O Música Pavê trocou um papo com Yazmin e com oSteve Scipio, baixista do grupo Cymande. Conversamos sobre música e novas tecnologias, cultura do sample, heranças musicais latinas, música brasileira e as expectativas para os shows dessa semana e posso dizer algumas coisas.
Não espere nada menos que uma experiência transcendental para o show de Cymande. A banda, composta por artistas caribenhos que começaram a fazer um som na Inglaterra há mais de 50 anos atrás misturando o calypso com o funk e o soul, volta aos palcos brasileiros depois de sete anos. Muito mudou nesse meio tempo: suas músicas foram sampleadas por rappers nos anos 1980, redescobertas aos poucos na última década.
Mas, segundo o próprio Steve, há também o que não tenha mudado: “A denúncia daquilo de ruim que impacta a vida de pessoas negras”. Agora, ainda que haja esse revés, ele reconhece também uma parte bastante positiva: Artistas e públicos mais jovens vem se interessando pelo trabalho da banda, “não só como um item histórico, mas como algo relevante para suas experiências hoje em dia”. Steve também reconhece a importância e o impacto de artistas brasileiros no trabalho da banda e em outras cenas musicais, e vai além: “A música não tem fronteiras. Música é a mensagem, e a mensagem é a música. Essa é a mensagem que nós gostaríamos de deixar com o público brasileiro”. Se prepare pra quebrar suas fronteiras, suar o corpo e arrepiar a alma a partir das 20h30 lá no Palco Quiosque do festival.
“Provavelmente, vale dizer que o interesse em artistas pretos e na cultura preta sempre existiu, mas o problema, particularmente no Reino Unido e na Europa, é a ausência de uma exposição apropriada, sem o devido reconhecimento para a qualidade e a influência da música, e já tarda uma indenização para nossa criatividade. O benefício que os artistas pretos têm com os recentes desenvolvimentos tecnológicos na música e na arte em geral é que a gravação e a distribuição de música não está mais no controle das grandes empresas e dos magnatas. Os músicos têm agora meios acessíveis para produzir suas músicas e direcioná-las a um público que pode estar interessado naquele som, sem ter que passar pelas grandes gravadoras às quais éramos forçados no passado. Em outras palavras, o processo de fazer e distribuir música tornou-se mais igualitário. Sampling e streaming, sem dúvidas, benficiaram Cymande em relação a novos ouvintes, que podem também ter melhor noção da influência que a banda teve na música que eles ouvem hoje. E também nos deixa orgulhosos ver que nossas músicas, muitas delas escritas há 50 anos, serem apreciadas por um novo público não como algo histórico, mas com relevância para suas experiências hoje”
Já Yazmin Lacey, que é inglesa, filha de pais caribenhos e dona de músicas que carregam uma noção de localização no tempo fora do comum de tão contemporâneas, faz do palco seu playground, ainda que precise de Priscila, sua persona / demônio interior, para se sentir mais à vontade. Nessa troca que tivemos, uma das coisas que ela diz acreditar muito é na força da música pra explorar conexões com o mundo, com as pessoas e com as nossas origens. E, para isso, ela vai usar tanto das músicas presentes no seu ótimo novo álbum, o recém-lançado Voice Notes, quanto de trabalhos lançados nos últimos anos e que já foram apresentados (e bem recebidos) anteriormente em palcos brasileiros.
A cantora, que pretende explorar mais os sons da diáspora futuramente, diz estar aprendendo mais sobre música afrobrasileira e estar bastante disposta a conhecer artistas mais recentes da nossa cena. No Queremos!, ela se apresenta no Palco Quiosque a partir das 18h20. Será um daqueles shows que tomam a galera de surpresa, fazendo todo mundo se apaixonar pela artista ali, no ao vivão.
“Estou muito animada porque Voice Notes já está no mundo! Não vejo a hora de tocar o disco no Brasil e poder me conectar com as pessoas, essas músicas são muito especiais para mim. Já estive no Brasil antes de produzir esse álbum e a recepção foi muito calorosa, não vejo a hora de voltar! (…) Amo artistas brasileiros, sampleamos João Donato no novo disco, na faixa Legacy. Quero fazer algumas jams no país”