Dolores Fantasma Tem Muita História para Contar

Discos, às vezes, nascem de histórias que os artistas têm para contar e, não raramente, as etapas de produção dos álbuns deixam também diferentes lembranças, aprendizados e sorrisos afetuosos sobre tudo o que se passou.

Foi o caso dos bastidores de Voto de Silêncio/Horror Vacui, disco de estreia do projeto Dolores Fantasma. Em um faixa a faixa exclusivo, Olavo Rocha relembra um pouco sobre como foi fazer estas músicas, ou mesmo escrevê-las.

Voto de Silêncio (com Umberto Serpieri)
“Aconteceu de verdade. Eu achei que já podia parar com esse negócio de fazer música e escrevi a letra, meio que celebrando a descoberta. Deu errado – eu não parei. A faixa ganhou duas versões, a ‘repete’ e a ‘chuchu’. Gravamos só a ‘chuchu’, que o Umberto preferia (e que era a melhor mesmo). Uma curiosidade: eu e o Umbinha fizemos outra música pro disco, que não deu tempo de gravar. É um tango chamado Elogio ao Desfibrilador ou O Protético Argentino. Vai entrar num próximo álbum ou single, é muito divertida”

Agora (com Marcelo Patu)
“Na ocasião, eu andava sem paciência alguma pra debater com minions,
reacionários, negacionistas, pessoas de bem e afins. Agora, menos ainda. Sobre a música: cada vez que o Pedro chegava com uma ideia pro arranjo eu ficava com uns ‘?!?!?!’ flutuando em cima da cabeça, que era sinal de que ele tinha pirado e eu tinha adorado (a bem da verdade, isso aconteceu com quase todas as faixas do disco)”

De Partida (com Loop B)
“É uma história real, que remete a outra história que já foi contada pelo Cartola, acho que real também. De todo modo, tem uma citação ao mestre na letra. Grande Cartola! Grande Loop B!”

Espelho (com Thomas Pappon)
“Esqueci o sentido original dessa letra. Mas é, sem dúvida alguma, uma canção política. Duas alegrias: quando o Thomas Pappon topou a parceria (eu nunca teria sonhado algo assim) e quando a música ficou pronta. Ah, e quando o Thomas disse que tinha curtido a música. É isso, foram três alegrias. Outras hão de vir”

No Grito (com Loop B)
“1) Se você consegue articular em palavras seus sentimentos em relação ao
que andou rolando no Brasil nos últimos 520 anos, você não tá puto o bastante. 2) Os donos da bola, os que nunca perdem, esses operam nas sombras, silenciosamente. O grito é o patrimônio dos que estão de fora, querendo entrar (ou querendo ver a cidadela queimar)”

O Passado Ataca Por Trás (com Ivan Santos)
“Parafraseando Here, do Pavement: ‘I was dressed for disaster / And disaster eventually came’. Ou, parafraseando meu chapa Oscar Nestarez, ‘a História é um garçom; mais cedo ou mais tarde ela traz a conta”. A conta chegou, folks, e ela é muito, muito salgada”

Mergulho (com Luiz Miranda)
“O Luiz tinha concebido essa música como uma espécie de country & western, acho que ele imaginava uma paisagem bem desértica pra ela, então o título Mergulho causou uma certa decepção. Mas, depois, lendo a letra e ouvindo a melodia, ele viu que se tratava de um mergulho na aridez, por assim dizer, e ficou tudo joia”

Outro Lugar
“Tem certas coisas, certos sentimentos, que as palavras não alcançam nem
iluminam. Ainda assim, vez ou outra a gente tenta realizar essa operação
delicada e, de antemão, fadada ao fracasso: exprimir o inexprimível.
Levou um bom tempo pra que a letra de Outro Lugar, que me dói e me alegra como nenhuma outra, se transformasse em música. Foi difícil gravar a voz, que se interrompia e tropeçava o tempo todo na emoção. Depois, o Pedro reproduziu esse engasgo no instrumental da segunda parte da música, criando uma pausa pra que eu, pra que todos nós pudéssemos recuperar o fôlego”

Horror Vacui (com Rubinho Troll)
“Quando o Rubinho Troll mandou a faixa dele pro disco, a gente já tinha as
letras prontas, e a música não se encaixava em nenhuma delas. Era preciso
escrever outra letra, adicionar algum novo sentido ao que a gente tava dizendo. O disco tinha uma tese, era um voto de silêncio. A música do Rubinho exigia uma antítese. De onde: o meu, o seu, o nosso horror ao vazio. Com Horror Vacui, o disco ficou inteiro. A cobra enfim mordia o pequeno chocalho na ponta da própria cauda”

Jogar os Dados (com Luiz Miranda)
“A ideia inicial era fechar o disco com Horror Vacui. Mas, por acidente,
acabamos ouvindo uma prévia da master com essa música no final. Na mesma hora a gente soube que era isso aí, que Jogar os Dados ia fechar o disco. Como um último comentário. Como um epílogo embaralhando fatalismo e ironia, um tiquinho de amargura, um fiapinho de esperança”

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