Dicas de Discos: Maio/2022
Em um mês, uma grande quantidade de trabalhos musicais chegam ao mundo. Apesar de todo empenho da equipe do Música Pavê, nunca é possível contemplar tudo. A fim de chamar atenção para a impossibilidade de abraçar o mundo da música, fica aqui a seção Dicas de Discos do Mês, com álbuns que não deu tempo de comentar no momento exato de seu lançamento.
Os pavezeiros indicam obras que não podem ficar de fora dos seus dias. Se deparar com um trabalho musical que mexe com você é muito prazeroso, então fica o incentivo de experimentar esses sons e ir além, se atentando às recomendações de outros veículos e até mesmo às sugestões de algoritmos. Nunca se sabe de onde pode surgir seu próximo disco favorito.
Eis as dicas de maio de 2022.
Kendrick Lamar – Mr. Morale & The Big Steppers
Quando o maior rapper do cenário relativamente recente resolve retornar, o mundo pop fica paralisado por algumas horas; O escrutínio da obra pode ajudar a entender o que virá a seguir. Kendrick olhou pra dentro de si mesmo e contrastou sua visão com o mundo exterior: Enquanto combate o cinismo estadunidense, reflete sobre sua posição no mundo. É complexo e desafiador, mas a monotonia conformista inexiste aqui. (Eduardo Yukio Araujo)
VHOOR – Baile & Bass
Depois da pedrada que foi Baile, com FBC, o produtor mineiro se aprofunda ainda mais no miami bass e joga a gente numa fritação em fogo baixo que serve de fim perfeito pra qualquer noite de festa. Não existe nenhuma mirabolância: As músicas são curtas, os loopings são objetivos e o que poderia soar como vazio é muito bem aproveitado, dando ao gênero uma roupagem moderna, mas sem muitos exageros – tudo no ponto certo. Sobrou até pra uma sonoridade gamer noventista que tá lindona à beça. (Vítor Henrique Guimarães)
Harry Styles – Harry’s House
Em uma atmosfera que leva o ouvinte à glamourosa música dos anos 1980 pelas suas múltiplas referências musicais da época, Harry Styles abre as portas de sua casa e entrega um disco pop sólido — certamente, o mais consistente da carreira até agora. Com uma sonoridade madura, o cantor parece estar finalmente encontrando as peculiaridades da sua identidade sonora, e faz um trabalho intimista e carregado de estilo. (Isabela Guiduci)
Arcade Fire – WE
Cinco anos após o controverso Everything Now (2017) a banda canadense retornou com WE, seu sexto disco. O álbum reúne o que há de mais familiar e admirável no coletivo liderado por Win Butler e Régine Chassagne: Referências literárias (dessa vez, do romancista russo Yevgeny Zamyatin), conceitos tortuosos, temas sensíveis (ansiedade e medo), uma melancolia dançante e uma irresistível energia indie rock dos anos 2000, como ouvimos em Age of Anxiety I e The Lightning II, respectivamente. (Bruno Maroni)
Bruno Capinan – Tara Rara
São alguns os louros que o baiano radicado no Canadá pode colher para o seu sexto álbum: Para além das menções lindíssimas à bossa, ao samba, ao funk e ao pop, as músicas são verdadeiras celebrações do desejo, da entrega e do amor. É calor pra alma, sorriso pro rosto e tudo na forma mais tropical e afro-orientada possível, conectando Jorge Ben e João Gilberto a Linn da Quebrada e Liniker de maneira maravilhosa. (Vítor Henrique Magalhães)
Warpaint – Radiate Like This
Se Heads Up te deixa com vontade de ser o centro das atenções de uma pista de dança, o seu sucessor, Radiate Like This, representa a diminuição progressiva da adrenalina de dançar. Sem perder o magnetismo de sua sonoridade, marca registrada da banda, Warpaint desacelera e experimenta um pouco mais neste trabalho, chegando perto de atingir a sensação etérea transmitida pelas nuvens que estampam a capa do álbum. (Thaís Ferreira)
Alfie Templeman – Mellow Moon
Neste que considera seu primeiro álbum completo, o jovem cantor e compositor britânico mira no groove que vem trabalhando nos últimos anos e acerta no clima funkeado e psicodélico certeiro em colocar um sorriso em nosso rosto e nos chamar pra dançar. O hitzinho Broken exemplifica essa vibe, mas não dá conta de traduzir a experiência do disco – bem mais completa e interessante que o single. (André Felipe de Medeiros)
João Gomes – Digo ou Não Digo
Em algumas ocasiões, percebemos estar diante de um artista com uma capacidade e talento acima da média. Ouvir o novo trabalho do cantor cearense é uma oportunidade de testemunhar algo do tipo. investindo em interpretações de hits recentes e composições de outros autores, Gomes brilha ao criar uma força pop embebida em variações do piseiro, arrastando para cantos mais sinuosos o que poderia ser apenas uma fórmula. (Eduardo Yukio Araujo)
Alaíde Costa – O que Meus Calos Falam sobre Mim
“Uma preciosidade” – gostaria de descrever este disco assim. A junção de Pupillo e Marcus Preto já é conhecida e querida, mas aqui eles se associam também a Emicida – o combo dos sonhos para qualquer músico. E Alaíde, ah, essa é uma relíquia que devemos manter sempre próxima aos ouvidos. Depois de mais de 20 discos lançados, ela ainda consegue surpreender. O que Meus Calos Dizem sobre Mim é um disco de bossa nova elegante, com uma voz que traduz com perfeição as dores e as alegrias que são cantadas. Destaque para a canção Pessoa-Ilha, de autoria de Ivan Lins e Emicida. (Lili Buarque)
Wilma Vritra – Grotto
Mesmo com um oceano separando o produtor inglês Will Archer (aka Wilma Archer, cujo último álbum teve participações que foram de Sudan Archives a MF DOOM) e o rapper americano VRITRA (que já colaborou com Pink Siifu e até Matt Martians, do The Internet), saiu o segundo álbum do projeto que carrega a essência dos dois artistas: Sonoridade que flerta com o trip-hop e com o chill-hop e a voz leve do rapper trazendo ainda mais leveza pras músicas. Puro encanto. (Vítor Henrique Guimarães)
Kevin Morby – This Is a Photograph
This Is a Photograph mescla um som selvagem e despojado, sutil e delicado, com espaço para orquestrações e guitarras arranhadas. Um épico empoeirado. Instigado por sua ida a Memphis (a Meca de grandes nomes do folk), Kevin reflete sobre amor, família e memórias. Bem, a paisagem por aqui não é o Delta do Mississipi, mas o álbum funciona como uma janela que une o horizonte do artista ao nosso, como sugere a faixa-título. (Bruno Maroni)
MC Dricka – Rainha
Embora a elite da crítica musical brasileira ainda não reconheça, o funk possui subgêneros e elementos composicionais compatíveis com a complexidade de qualquer outro gênero. Em seu primeiro álbum, a MC paulistana demonstra a mesma assertividade nas rimas sobre a liberdade feminina de outrora, porém a rainha dos fluxos escreveu um álbum de separação amorosa de tom mais desalentador do que festivo. Mas dá pra descer até o chão com lágrimas nos olhos. (Eduardo Yukio Araujo)
Gabi da Pele Preta – Gabi da Pele Preta
O EP de estreia de uma artista que já faz música há muito tempo, em paralelo ao trabalho nas artes cênicas. O “disco manifesto”, como ela explica, traz composições feitas por mulheres e uma ambientação contemporânea em diálogo com o melhor da música brasileira de hoje. Acima de tudo, é um trabalho impressionantemente bonito do início ao fim. (André Felipe de Medeiros)
Obongjayar – SOME NIGHTS I DREAM OF DOORS
O nigeriano que já vinha chamando atenção pelo menos desde a colab com Little Simz em Point and Kill lança seu primeiro álbum que aproxima singularmente o afropop com elementos do dream pop, do neo-soul e do hypnagogic pop. Uma experiência quase etérea e muito sincera, uma estreia que abre um horizonte muito interessante pro futuro artístico do cantor, e que ao mesmo tempo é bem satisfatório pro presente. (Vitor Henrique Guimarães)
Florence + The Machine – Dance Fever
“Coreomania” é um fenômeno associado à Idade Média, quando centenas de pessoas dançavam juntas até a exaustão. Essa curiosa história inspirou o álbum Dance Fever. Para Florence, dor e euforia colidem na dança, dualidade tão comum à obra da cantora britânica, que mais uma vez entrega um disco intenso, musicalmente luxuoso e cada vez mais pop. Afinal, como ela canta em Free: “Por um momento, quando estou dançando/Eu sou livre”. (Bruno Maroni)
Shabaka – Afrikan Culture
O primeiro trabalho solo do incansável produtor e multi-instrumentista inglês (por trás de nomes como Sons of Kemet, Shabaka and The Ancestors e The Comet is Coming) traz realmente um estudo dos caminhos e tradições africanas que ele já vinha apresentando há tempos, mas agora de uma forma mais sensorial do que nunca: Com flauta, clarinete, kora, mbira e até shakuhachi (instrumento similar à flauta de origem japonesa), há algo quase místico e meditativo que proporciona uma experiência diferenciada para o ouvinte. (Vítor Henrique Guimarães)