Dicas de Discos do Mês: Setembro/2023
Em um mês, uma grande quantidade de trabalhos musicais chegam ao mundo. Apesar de todo empenho da equipe do Música Pavê, nunca é possível contemplar tudo. A fim de chamar atenção para a impossibilidade de abraçar o mundo da música, fica aqui a seção Dicas de Discos do Mês, com álbuns que não deu tempo de comentar no momento exato de seu lançamento.
Os pavezeiros indicam obras que não podem ficar de fora dos seus dias. Se deparar com um trabalho musical que mexe com você é muito prazeroso, então fica o incentivo de experimentar esses sons e ir além, se atentando às recomendações de outros veículos e até mesmo às sugestões de algoritmos. Nunca se sabe de onde pode surgir seu próximo disco favorito.
Eis as dicas de setembro de 2023.
Olivia Rodrigo – Guts
O que chama a atenção no segundo álbum da jovem cantora californiana é a objetividade: Sem medo de se repetir, a fórmula da estreia é novamente utilizada, de pop bem construído com letras sinceras. Porém, a aproximação com o indie rock, o punk pop e vertentes traz uma amplitude bem vinda: Guitarras abrasivas em All-American Bitch, um arranjo quase shoegaze em Pretty isn’t Pretty, a melancolia de Making The Bed. Ouvinte atenta, Olivia parece ter absorvido as melhores referências para compor mais um bom trabalho. (Eduardo Yukio Araujo)
Karen Francis – Anos Luz
A cantora amazonense vai em busca da própria história em seu segundo álbum – o primeiro depois de treze anos. Aqui, o pop/r&b está firme, forte e delicioso. E apaixonado. E um pouco cansado, um pouco traumatizado. Mas, também, muito experiente, sensato e com muita vontade de viver, e sem tempo pra perder. É um trabalho que conversa muito com o som de Mahmundi, com umas letras que tão lambendo o funk melody ou a linha mais romântica do trap. De uma forma geral, é um álbum imperdível e carregado de melanina. (Vítor Henrique Guimarães)
Explosions in the Sky – End
End traz o que há de melhor na assinatura sonora de Explosions in the Sky, ícone do post-rock: Guitarras potentes, nuances emocionais ao longo das faixas, que oscilam da penumbra ao clarão, e o típico teor catártico da banda — aquele clima épico irresistível. Há um senso de esperança persistente até nos momentos mais obscuros do disco (gestado entre reflexões sobre finitude) que sela a riqueza da experiência de ouvir o registro do início ao fim. Ouça Ten Billion People e Loved Ones. (Bruno Maroni)
Nihiloxica – Source of Denial
Gravado no quartel general da Nyege Nyege, uma das mais importantes gravadoras de música eletrônica do continente africano, o segundo álbum do grupo parte ugandense e parte britânico é não só um passo na consolidação do trabalho de pesquisa dos caras (uma mistura forte de percussão buganda com o UK bass e às vezes quase metal), como também um passo certeiro na carreira. O trabalho apresenta uma qualidade de produção invejável, onde cada milímetro é intencional. O equilíbrio entre as duas pontas de influência está preciso e a experiência é certamente singular, ainda mais pra quem curte música eletrônica – a faixa Asidi chega a soar absurda. (Vítor Henrique Guimarães)
Rodrigo Ogi – Aleatoriamente
Desde o primeiro disco solo, Ogi se estabeleceu como um cronista ímpar. Em seu novo trabalho desde Pé No Chão, de 2017, a união com o produtor Kiko Dinucci resulta em um disco ousado e coeso: Estimulado a avançar alguns passos para fora de seu habitat, o artista entregou algumas de suas melhores construções líricas. Elas estão inseridas em um ambiente sônico ruidoso e diverso, repleto de nuances que vão desde riffs de guitarra picotados e reprocessados a batidas com timbres peculiares. O melhor álbum dentro de uma discografia já bem rica. Obrigatório. (Eduardo Yukio Araujo)
James Blake – Playing Robots Into Heaven
Com seu sexto álbum em doze anos, o britânico traz consigo muito do estilo que desenvolve desde o início – muitos graves, percussão demarcada e timbres muitos específicos que ele utiliza com frequência – para um disco mais dentro (ainda) do universo eletrônico. É também uma obra que dialoga muito bem com a intenção de liberdade com que ele vem trabalhando, seja ela pra nos fazer dançar ou para levar uma faixa, ou todo o disco, para uma direção inesperada. E tudo incrivelmente bem feito, como de costume. (André Felipe de Medeiros)
Kofi Flexxx – Flowers in The Dark
Ninguém sabe quem é Kofi Flexxx, de onde vem, quantos anos tem. Mas um dos compositores e produtores do álbum é o prolífico Shabaka Hutchings, e o trabalho sai pela sua gravadora, Native Rebel. Estética negra colocada no estalo: Algo que não é exclusivamente técnico, algo que aponta pro espiritual; declames poéticos politicamente firmes e conscientes, nada abala; ora jazz, ora rap, sempre uma porrada. Um álbum certamente intergeracional. (Vítor Henrique Guimarães)
Sophia Chablau e uma Enorme Perda de Tempo – Música do Esquecimento
A inquietude é uma característica de mentes criativas e almas jovens, o que pode resultar em algumas coisas ruins como ansiedade e frustração com o capitalismo tardio. Felizmente, esses indivíduos em particular montaram uma banda e expressam de forma criativa e com vigor jovem as angústias diárias. Uma evolução em relação ao já bem bom disco de estreia, Música do Esquecimento mergulha em arranjos bonitos, guitarras sujinhas, música brasileira antiga e indie rock em uma coleção de ótimas canções. (Eduardo Yukio Araujo)
Slowdive – everything is alive
Sabe aquela vontade que dá de se jogar num embolado de nuvens só pra descobrir a sensação? Nada como o shoegaze para simular essa experiência. O gênero se pauta em camadas sonoras de synths, vocais sutis e cascatas de guitarras com efeito. Uma ótima receita para criar um universo particular que vai da melancolia à ternura em poucos versos e acordes. Slowdive faz isso com maestria, como prova em seu sexto disco, everything is alive. Só põe o fone e vai! Ouça shanty e chained to a cloud. (Bruno Maroni)
Benét – Can I Go Again?
Você gosta de umas paradas tipo Arlo Parks, Soccer Mommy e Phoebe Bridgers? Então essa aqui super pode ser uma queridinha pra guardar e esquentar seu coração. Desde a primeira faixa, a cantora estadunidense costura muito bem o acústico do violão, do sopro e de pequenos e lindos arranjos de violino com pequenas inserções guitarrísticas e sintetizadores e bateria programada. Não poderia ser mais pop, ao mesmo tempo que soa indie, e esse ponto sonoro é bonito de se aventurar. É isso, é um álbum pra você ouvir quando sai de casa e se sentir num filme onde tanto faz se você é protagonista, coadjuvante ou figurante: o importante é estar no presente. (Vítor Henrique Guimarães)
Haru Nemuri – INSAINT
Quarto EP da cantora e instrumentista japonesa, primeiro depois do ótimo álbum SHUNKA RYOUGEN em 2022, o rock vem forte, psicodélico, louco, no melhor estilo abertura de episódio de anime. Mais um ponto alto no trabalho de uma artista que não cansa e que consegue mediar com maestria a estrutura pop com a intensidade melódica destrutiva de seu trabalho. (Vítor Henrique Guimarães)
Roosevelt – Embrace
Marius Lauber, nome por trás do projeto de indie eletrônico Roosevelt, retorna com o que há de melhor em seu repertório criativo. Embrace, quarto disco do compositor e produtor alemão, chega encharcado de sintetizadores, batidas eletrônicas e grooves dançantes — uma ótima viagem pela música pop dos anos 1970 a 1980, passando pelo funk (Luna), disco (Paralyzed) e techno (Rising). Roosevelt combina agradavelmente nostalgia, romance e uma boa dose de contemplação. (Bruno Maroni)
Lady Donli – Pan-African Rockstar
A cena althé nigeriana é forte e um nome que não pode mesmo passar direto é o de Lady Donli. Dançando entre o rock, o afropop e o amapiano, ela chega a mais um trabalho (seu segundo álbum) repleto de faixas que você não pula – fora a transição da faixa-título pra Your Fantasy, que é de arrepiar. Com um som ótimo, gostoso e dançante, Donli canta sobre buscar forças, peitar figurões e incentivar a auto-validação na própria jornada. Ainda tem participações ótimas de Pierre Kwenders e Obongjayar. All bangers, no fillers, como dizem. (Vítor Henrique Guimarães)
yeule – softscars
Há uma discussão sobre a retroalimentação do pop, que estaria reciclando referências passadas para transmitir sensações contemporâneas desde sempre. Mas também há uma tendência de artistas jovens que cresceram tendo acesso a músicas do passado e ferramentas que simplificam a criação. yeule é um exemplo geracional: Neste novo disco, há guitarras vaporosas do shoegaze, mas servem apenas como elementos para um pop recheado de detritos digitais e não como ideal retrô. (Eduardo Yukio Araujo)
Corinne Bailey Rae – Black Rainbows
Quando você pensa na cantora inglesa, você automaticamente pensa em Put Your Records On e Like A Star, aquelas coisas bem levinhas, os passarinhos voando no maior estilo Cinderela. Pois quem vai esperando algo assim do quarto álbum dela é pego completamente desprevenido. Porque tem suas pitadas de jazz e pop (de Thanya Iyer a Nina Simone), mas também tem aquele rock frenético que tu ouve quando dá play em Yeah Yeah Yeahs. O álbum é um acontecimento e vale os vários elogios que tem recebido. (Vítor Henrique Guimarães)