Dicas de Discos do Mês: Outubro/2021
Em um mês, uma grande quantidade de trabalhos musicais chegam ao mundo. Apesar de todo empenho da equipe do Música Pavê, nunca é possível contemplar tudo. A fim de chamar atenção para a impossibilidade de abraçar o mundo da música, fica aqui a seção Dicas de Discos do Mês, com álbuns que não deu tempo de comentar no momento exato de seu lançamento.
Os pavezeiros indicam obras que não podem ficar de fora dos seus dias. Se deparar com um trabalho musical que mexe com você é muito prazeroso, então fica o incentivo de experimentar esses sons e ir além, se atentando às recomendações de outros veículos e até mesmo às sugestões de algoritmos. Nunca se sabe de onde pode surgir seu próximo disco favorito.
Eis as dicas de outubro de 2021.
Lana Del Rey – Blue Banisters
Na contramão da produção fonográfica atual, com mais singles ou EPs de músicas curtas, Lana Del Rey lança seu segundo disco completo de 2021, com 15 faixas e mais de uma hora de duração. O álbum mescla canções sem nenhuma batida, apenas com voz e violão, ou voz, piano e cordas, com outras contendo beats ou bateria orgânica, mas sem perder a roupagem indie de Lana. A pausa que a musicista deu nas redes sociais surte um efeito maravilhoso, e seu trabalho como compositora está cada vez melhor. Difícil não pensar que uma coisa está diretamente ligada a outra. (Diego Tribuzy)
Márcia Castro – Axé
Na primeira batida, me vi transportada aos anos 90, década da minha infância, que se consagrou como o auge do axé. Saudosismos (e gatilhos de carnaval que não tivemos) à parte, o álbum apresenta de grandes representantes do ritmo (Margareth Menezes, Daniela Mercury e Ivete) a compositores do pop (Nando Reis e Emicida), e também de precursores do axé das antigas (Carlinhos Brown) à nova geração (Russo Passapusso). Um disco diverso, que canta do amor à exaltação do nosso povo e cultura. (Rafaela Valverde)
Quantic + Nidia Góngora – Almas Conectadas
A cantora Nidia Góngora, um dos maiores nomes atuais da música afro-colombiana, e o produtor inglês Quantic chegam ao seu segundo trabalho colaborativo. Depois do ótimo Curao (2017) e sua abordagem bem latinocentrada, Almas Conectadas abre mais espaço para arranjos de cordas e uma estrutura mais pop, mas ainda assim se mantendo fiel às raízes musicais de Nidia. (Vítor Henrique Guimarães)
My Morning Jacket – My Morning Jacket
Depois de The Waterfall II, a banda de Jim Jones retornou com o homônimo My Morning Jacket, uma iniciativa de retomar uma produção e sonoridade mais orgânica, rústica e despojada. O grupo tem costurado sua discografia nos fios do folk rock psicodélico dos anos 60. Com forte potencial pra performances ao vivo, este álbum apresenta bem a identidade do conjunto, trazendo momentos mais leves e dançantes (Love Love Love), amargurados (Never in the Real World) e ruídos de guitarra agressivos (Complex). (Bruno Maroni)
Caetano Veloso – Meu Coco
Atual como sempre, mais moderno que nunca. Produzido por ele e pelo jovem Lucas Nunes, o primeiro álbum de inéditas em quase dez anos traz menções a artistas da velha e nova geração da música brasileira em quase todas as faixas. Destaque para a presença de Carminho, em Você-Você, de Dora Morelenbaum, em GilGal; e para a canção Pardo, conhecida na voz de Céu, que teve arranjo do já saudoso Letieres Leite. (Lili Buarque)
Xenia Rubinos – Una Rosa
Una Rosa é o terceiro álbum da cantora norte-americana, filha de uma mãe porto-riquenha e um pai cubano – dado importante para entender de onde surge a sonoridade latina de seu trabalho. Uma urgência vista no canto mostra a artista equilibrando a vulnerabilidade da emoção em conjunto das suas escolhas estéticas sonoras, que muitas vezes colaboram com nossa sensação de estarmos acompanhando uma obra pujante. (Rômulo Mendes)
Orquesta Akokán – 16 Rayos
O mambo come solto em 16 Rayos, segundo álbum da big band Orquesta Akokán. Após serem indicados ao Grammy de Melhor Álbum Tropical em 2018 com o excelente álbum homônimo, os cubanos voltam um pouco menos enérgicos e mais focados na envolvência, no dançar coladinho, e botam todo mundo pra gingar com dez ótimas faixas. Destaque para a cadência de Guajira Del Mar e à empolgada Llegue Con Mi Rumba. (Vítor Henrique Guimarães)
Francisco, el Hombre – CASA FRANCISCO
CASA FRANCISCO é o terceiro disco da banda, que faz bonito ao jogar vários ritmos latinos no liquidificador e nos entregar dez canções repletas de energia e com refrões grandiosos. É música feita para várias pessoas cantarem juntas, do tipo que faz o ouvinte ficar imaginando a beleza que será assistir ao vivo. O disco tem várias participações de peso como Céu, Rubel, Dona Onete e Josyara, que abrilhantam ainda mais o trabalho. Vale uma menção para a bem pensada capa, com as iniciais F.E.H. formando o desenho de uma casa. (Nuno Nunes)
The War on Drugs – I Don’t Live Here Anymore
Após o meticuloso A Deeper Understanding (2017), The War on Drugs por fim lançou I Don’t Live Here Anymore, integrando sua consistente discografia. As referências de Adam Granduciel seguem evidentes – Dylan, Springsteen e o rock dos anos 80 -, agora em linhas mais melódicas (e não por isso menos densas), com canções reflexivas (Living Proof), climáticas (I Don’t Wanna Wait) e coros contagiantes (faixa título). Esse é um ótimo disco pra uma caminhada vagarosa num fim de tarde ou pra uma viagem longa na estrada ensolarada. (Bruno Maroni)
BADBADNOTGOOD – Talk Memory
Cinco anos após seu último lançamento, o aclamado IV, a espera por um novo disco do BBNG guardava uma expectativa promissora. Inteiramente instrumental, Talk Memory vê o conjunto canadense indo em direção ao seu passado, deixando de lado os vocais e resgatando as composições mais atmosféricas, ao mesmo tempo em que anuncia novas direções e possibilidades sonoras. Coeso e ousado, o trabalho adquire um sabor especial com as participações especiais de talentos consagrados, como Arthur Verocai, Laraaji e Karriem Riggins. (Matheus Kerr)
Helado Negro – Far In
Far In é a aterrissagem após o alto voo alçado por Roberto Carlos Lange (nome por trás do projeto Helado Negro) com o incrível This Is How You Smile, de 2019. No seu sétimo disco, o cantor e compositor coloca os pés no chão ao longo de 15 faixas que falam de amor e memórias familiares, combinadas com ritmos sensíveis e aconchegantes. É difícil não cantarolar junto com There Must Be a Song Like You e Gemini and Leo. (Thaís Ferreira)
James Blake – Friends that Break Your Heart
A discografia do produtor, compositor e cantor britânico ganha seu quinto volume, o segundo desde que ele se mudou para Los Angeles. Seu estilo espacial, com uma sonoridade eletrônica que se expande por vários cantos do ouvido, encontra canções menos desafiadoras que em seus primeiros discos, mas sem perder o arrojo com que sempre esculpe suas produções. Menos surpreendente, mas ainda deslumbrante. (André Felipe de Medeiros)
Angélica Garcia – Echo Eléctrico
São poucos os elogios que não podem ser feitos a Angélica Garcia, estadunidense de ascendência mexicana e salvadorenha que ano passado lançou Cha Cha Palace, um dos melhores álbuns do ano. Dessa vez ela, veio com um EP experimental, Echo Eléctrico, com cinco faixas predominantemente acapella em que você mal sente a falta dos instrumentos e que soam como um mergulho noturno e entorpecido numa pisicina. (Vítor Henrique Guimarães)
Jennifer Souza – Pacífica Pedra Branca
O segundo álbum solo da cantora, compositora e instrumentista mineira, também integrante das bandas Moons e Transmissor, chega com um requinte de elementos jazzísticos, sem perder seu lado indie e folk. O álbum foi gravado e produzido por Leonardo Marques, na Ilha do Corvo, parceiro antigo de Jennifer. As nove canções são doces e intensas, com synths espessos, mas sem exagero, e se conectam em sua leveza. (Lili Buarque)
Bando de Régia – Forróbook Anastácia
No finzinho de outubro, saiu este álbum incrível que celebra a obra da rainha do forró Anastácia, autora de clássicos como Eu só Quero um Xodó”, trazendo várias influências do jazz, do neosoul e pop para esse trabalho lindíssimo, feito pelo grupo paulistano. A cantora Kely Marques arrasou nas interpretações e nos apresenta tanto obras menos conhecidas, quanto uma música inédita de Anastácia em parceria com a banda. Lindo demais! (André Moraes)
Magdalena Bay – Mercurial World
É estranho pensar em um projeto que começou com referências do rock progressivo produzindo um repertório pegajoso do tipo Britney Spears, pronto pra tocar no Tik Tok, mas é o que Mica Tenenbaum e Matt Lewin fizeram com Magdalena Bay. Criando um universo digno de um videogame retrô, o duo estreou este ano com Mercurial World, apresentando faixas com toques de disco music (Dawning of the Season), sintetizadores que arranham o som industrial (Follow the Leader) e versos pop à espera de festivais lotados (You Lose!). (Bruno Maroni)
Remi Wolf – Juno
Se as músicas têm cores, Juno definitivamente tem todas as cores do arco-íris. O primeiro álbum de estúdio da estadunidense Remi Wolf traz um som eletrizante e bem-humorado. Sem perder o tom dançante, a artista consegue alternar entre canções sobre sua luta contra o alcoolismo e letras totalmente non sense. Remi mostra que sabe brincar com as regras da música pop e apresenta um caos muito bem calculado. (Guilherme Gurgel)