Dicas de Discos do Mês: Novembro/2024
Em um mês, uma grande quantidade de trabalhos musicais chegam ao mundo. Apesar de todo empenho da equipe do Música Pavê, nunca é possível contemplar tudo. A fim de chamar atenção para a impossibilidade de abraçar o mundo da música, fica aqui a seção Dicas de Discos do Mês, com álbuns que não deu tempo de comentar no momento exato de seu lançamento.
Os pavezeiros indicam obras que não podem ficar de fora dos seus dias. Se deparar com um trabalho musical que mexe com você é muito prazeroso, então fica o incentivo de experimentar esses sons e ir além, se atentando às recomendações de outros veículos e até mesmo às sugestões de algoritmos. Nunca se sabe de onde pode surgir seu próximo disco favorito.
Eis as dicas de novembro de 2024.
Kendrick Lamar – GNX
Por um lado, GNX pode parecer uma obra de proporções um pouco menores dentro da discografia do rapper. Sem os grandes instrumentais jazzísticos de um passado relativamente distante, o álbum tem momentos quase minimalistas, com faixas de relativamente poucos elementos. Mas é aí que o disco mostra seu tamanho, com a força dos versos de Kendrick sempre em primeiríssimo plano (e ter duas parcerias com SZA ajuda na grandiosidade da obra). Saiu do nada, sem qualquer aviso prévio, e consegue ter cara de surpresa toda vez que você dá o play. (André Felipe de Medeiros)
RIMON – Children of The Night
Nascida na Eritreia e radicada na Holanda, Children of The Night é o primeiro long-play da cantora. Pop r&b carregado de flows impressionantemente melódicos, e de melodias que, muito coesas entre si, parecem contar uma história dentro de si mesmas – o que dá uma solidez ainda maior para o trabalho. (Vítor Henrique Guimarães)
Juliane Gamboa – JAZZWOMAN
O nome do álbum cai como uma luva: A cantora carioca realmente comanda um espetáculo instrumental e vocal, com ótimas composições, bastante orientada pelo espírito errante e improvisacional do jazz, em alguns momentos até ousando bastante nas suas experimentações. Um álbum que se destaca por sua autenticidade na cena e que conta ainda com a participação especial da moçambicana Natalie Greffel e do trombonista fluminense Josiel Konrad. (Vítor Henrique Guimarães)
Giovani Cidreira – Carnaval Eu Chego Lá
Tem artista que nunca é o mesmo, e a mudança acaba sendo um elemento essencial de sua identidade. Escutar este seu terceiro álbum é um exercício de conhecer um novo Giovani Cidreira, embora esteja sempre claro que é aquele cara que conhecemos bem. Tem a ver com sua voz, mas também com a maneira que ele trata arranjos e letras. Muito prazer. Céu, Josyara, Alice e Danilo Caymmi e VANDAL são seus convidados na exploração de sua musicalidade de hoje, na excelência de sempre. (André Felipe de Medeiros)
Carlita – Sentimental
Carlita é uma DJ e produtora ítalo-turca que acaba de lançar seu primeiro álbum, fortemente alusivo ao deep house e lounge que fez presença em variadas coletâneas lançadas nos anos 2000 – e em passarelas de desfiles de moda das marcas mais celebradas, ou que alternava com aquelas específicas cinco músicas de David Guetta e Bob Sinclair que tocavam na C&A quando você ia provar alguma roupa – o que eu juro pra você que não é exatamente algo ruim. Pelo contrário: a essa altura do campeonato, bate até uma nostalgia boa, ainda mais sendo um álbum genuinamente bom e bem produzido, bem pop, mesmo priorizando o house. (Vítor Henrique Guimarães)
Tomin – A Willed and Concious Balance
Divido com vocês, leitores, que esse talvez seja o texto mais difícil que escrevi nesses anos de Música Pavê. Foram algumas versões. Explico: de primeira, achei esse disco apenas legal. Num segundo play, ele cresceu bastante em mim, me colocando em cenários cada vez mais interessantes, indo da novidade ao nostálgico. Vieram outras audições e, em cada uma delas, uma nova música me chamava atenção, um novo cenário se pintava, um novo sentimento surgia e, mais uma vez, o texto mudava. Ora festivo, ora aventureiro, ora fúnebre – sempre épico e enfático no que se propõe, como pés marcando os passos da marcha, como a percussão marcando o ritmo da marcha. Sigo sem saber muito bem como falar desse álbum, mas certo de que não poderia deixar de dedicar-lhe alguns pensamentos nessa secção. (Vítor Henrique Guimarães)
Boogarins – Bacuri
Em minha primeira vez neste novo disco, lembrei com um sorriso quando o Música Pavê colocou Boogarins como uma das melhores bandas brasileiras desta geração – e olha que nós nem levamos essas listas tão a sério. Mas é isso, do alto da vida pós-jovem, o quarteto quis fazer uma música condizente com o momento que seus integrantes vivem, sem nunca deixar de lado sua essência. O processo, então, foi repetir o que nos deu seu primeiro álbum há mais de década: Gravação em casa, só composição e vontade de fazer. O resultado é uma preciosidade que nos deu pérolas como Corpo Asa e Deixa, canções que fazem por merecer um dia o título de “clássicas” pelas próximas gerações. (André Felipe de Medeiros)
Yndi – Memoria
Desde seu primeiro trabalho, Noir Brésil, a cantora franco-brasileira testa suas proximidades com suas raízes brasileiras. A segunda metade de seu lançamento é praticamente toda dedicada a essa aproximação. Em seu segundo trabalho, ela parece ter um pouco mais de ciência do caminho que quer explorar: flerta mais com a bossa, se apropria mais do toque percussivo em instrumentos de cordas, refletindo não só um domínio maior de seu talento técnico, como também uma maturidade maior enquanto se vê como artista. (Vítor Henrique Guimarães)
Thatta – Out of Frame
Não deixo de me impressionar com o quanto artistas japoneses sabem explorar bem gêneros musicais que não são originários de lá, como se aquilo sempre tivesse sido deles. Certamente, o progressismo do krautrock alemão é um dos melhores exemplos disso. Especialmente aqui, por ser o lançamento deste mês, eu deixo o registro do EP Out of Frame, que tem três músicas alucinantes que servem de exemplo de excelência do que estou querendo dizer. (Vítor Henrique Guimarães)