Dicas de Discos do Mês: Novembro/2021

Em um mês, uma grande quantidade de trabalhos musicais chegam ao mundo. Apesar de todo empenho da equipe do Música Pavê, nunca é possível contemplar tudo. A fim de chamar atenção para a impossibilidade de abraçar o mundo da música, fica aqui a seção Dicas de Discos do Mês, com álbuns que não deu tempo de comentar no momento exato de seu lançamento.

Os pavezeiros indicam obras que não podem ficar de fora dos seus dias. Se deparar com um trabalho musical que mexe com você é muito prazeroso, então fica o incentivo de experimentar esses sons e ir além, se atentando às recomendações de outros veículos e até mesmo às sugestões de algoritmos. Nunca se sabe de onde pode surgir seu próximo disco favorito.

Eis as dicas de novembro de 2021.

Don L – Roteiro para Aïnouz (Vol. 2)

Segundo volume da trilogia reversa é o trabalho mais completo da carreira do MC de Fortaleza (“lenda”, como versou Matuê), referência para artistas do gênero há pelo menos uma década. Trabalhando uma visão anticapitalista e revolucionária da história brasileira, Don exercita o imagético, a plurissignificação da nossa ancestralidade e propõe uma visão de futuro de reconquista do país pelas mãos do povo. A ambição da proposta encontra resposta em todos os aspectos do álbum: lírica, levada, arranjos, beats, participações (de Giovani Cidreira a Rael) e produção (do premiado Nave). Pode chamar de obra prima sem medo. (Eduardo Yukio Araujo)

Duda Brack – Caco de Vidro

Depois de lançar alguns singles mostrando o que vinha por aí, Duda Brack nos presenteia com seu segundo álbum completo. Um disco plural, com muitas referências, que vão do funk carioca ao grunge, e que traz grandes colaborações, de nomes como Ney Matogrosso, BaianaSystem e Lúcio Maia. Canções com belas poesias, melodias e harmonias que consolidam Duda como um dos grandes nomes da música brasileira contemporânea.  (Diego Tribuzy)

Silk Sonic (Bruno Mars + Anderson .Paak) – An Evening with Silk Sonic

O encontro de dois gigantes não poderia resultar em algo diferente de uma obra monumental. A dupla mergulhou no soul e na black music dos anos 1970 para criar um clássico instantâneo do R&B, com vocais afiadíssimos, percussão impecável, arranjos grandiosos e bom humor. Talvez o maior feito foi reviver a sonoridade orgânica dos anos 70 em uma época em que a música pop é dominada pela estética oitentista. A ansiedade causada pelos oito meses de espera desde o lançamento do primeiro single foi recompensada. (Nuno Nunes)

Jaffar Bambirra – o menino que nunca amou

A sensibilidade lírica de Jaffar Bambirra transborda suavidades e é brilhantemente exposta no disco de estreia do carioca. Sons convidativos e afáveis, inspirados em brasilidades, guiam as oito músicas do álbum – dos ritmos acústicos aos enérgicos. A construção afetiva é completada por uma voz igualmente delicada que leva o ouvinte para uma atmosfera encoberta de sensações. (Isabela Guiduci)

César Lacerda – Nações, Homens ou Leões

Seu novo trabalho tem um título muito interessante, não é homônimo a nenhuma das canções do álbum. As faixas Parque das Nações (com participação de Aline Frazão), Antropoceno e Desejos de um Leão (com Marcelo Jeneci) fazem menção direta aos temas, mas, ao ouvirmos com atenção, todas as faixas vão desenrolando esse enredo. Ele transita entre beats e ambiências eletrônicas – como Mudar a Vida – a músicas com banda em vibe mais oitentista, como O sol que Tudo Sente (com Malvina Lacerda). Vale a escuta! (André Moraes)

Courtney Barnett – Things Take Time, Take Time

Em seu terceiro álbum solo, Courtney Barnett mostra mais uma vez que é ótima em dar conselhos, principalmente aqueles que você não sabia que precisava. Apesar do álbum não ser muito longo e apresentar uma simplicidade instrumental, Things Take Time, Take Time se sobressai pelas composições, que te abraçam com o cuidado e com a sabedoria de uma irmã mais velha. (Thaís Ferreira)

Melanie Charles – Y’all Don’t (Really) Care About Black Women

A multiartista e multi-instrumentista, nascida e criada no Brooklyn e com ascendência haitiana, expande de forma ainda mais criativa e preciosa suas experimentações com jazz e dessa vez reimagina algumas músicas já conhecidas nas vozes de cantoras negras consagradas como Nina Simone, Betty Carter e Ella Fitzgerald. O resultado é um som que chama atenção pela originalidade e ambição. (Vítor Henrique Guimarães)

Céu – Um Gosto de Sol

2021 trouxe uma Céu refletindo sobre suas composições e também suas influências. Ela lançou em junho o álbum Acústico, um apanhado do repertório de seus discos autorais em releitura intimista. Um Gosto de Sol vai além e mostra a compositora como intérprete de um amálgama das memórias musicais de sua formação, de João Gilberto a Beastie Boys, passando por Fiona Apple e Milton Nascimento. O maior mérito aqui é revelar que a artista possui reverência suficiente para acenar para os compositores dessas canções, mas, ao mesmo tempo, as reinterpreta com personalidade e talento. (Eduardo Yukio Araujo)

Parcels – Day/Night

A capa do segundo LP do quinteto alemão-australiano traz um clima de jornada. O álbum transita entre momentos descontraídos e dançantes, contemplativos e épicos. Congas, naipes de cordas, linhas de piano detalhadas e as deliciosas harmonias vocais da banda fazem toda a diferença aqui. O Parcels usou o tempo de reclusão preparando uma história reflexiva, sobre como a dualidade dia-noite reflete a nossa condição. (Bruno Maroni)

Adele – 30

Quem acompanha Adele e tem quase a mesma faixa etária se viu em cada álbum. Em 30, consegui me ver exatamente da maneira que cheguei aos trinta anos. Tudo muda, inclusive a visão sobre nós mesmas. Nos vemos e ao mundo com outros olhos. Reconhecemos nossos erros, e que é o momento de começar a mudar. Com uma boa dose de desalento, resignação e vinho, Adele segue esperando o amor em 30. (Rafaela Valverde)

Aminé – TWOPOINTFIVE

Em sua nova mixtape, Aminé dá sequência à experimentação que iniciou em 2018, com ONEPOINTFIVE. Depois de tocar em temas mais pesados no ano passado, com o álbum Limbo, o rapper volta a se divertir com a própria música. Com uma produção mais pop, Aminé é afiado e irônico em suas rimas. O destaque fica para a faixa Charmander, que resume o tom vibrante e descompromissado do disco. (Guilherme Gurgel)

BADSISTA – Gueto Elegance

A pluralidade da liberdade feminina poucas vezes foi apresentada de forma tão espontânea e honesta quanto no álbum de estreia da produtora paulista, que vem se consolidando como um dos nomes mais importantes da música brasileira. Com participações que vão das conterrâneas Jup do Bairro e Ventura Profana à ugandense MC Yallah e uma paleta de referências bem colorida, o álbum vem coeso e delicioso. (Vítor Henrique Guimarães)

IDLES – CRAWLER

Em seu quarto álbum de estúdio, a banda de “pós-pós-punk” IDLES experimenta novos ares para além de seu som caracteristicamente feroz e explosivo. CRAWLER preserva a crueza e brutalidade de seus antecessores, mas introduz uma atmosfera sombria e introspectiva ao repertório da banda, fruto das experimentações sonoras e das letras pessoais do vocalista Joe Talbot. (Marília Ferruzzi)

Daparte – Fugadoce

Imersa nos mares de amores e relacionamentos, Daparte lançou o segundo álbum da carreira. Com o novo projeto, a banda mineira apresenta o melhor da discografia até aqui, especialmente pela consistência admirável, estabelecida ao longo das treze canções, que reforça a identidade pop leve e bem construída. Em uma mescla de pulsações, o disco brinca com sonoridades dançantes e desaceleradas. (Isabela Guiduci)

FBC & VHOOR – Baile

Inquieto, o rapper mineiro FBC segue explorando possibilidades em seu novo álbum em parceria com o produtor VHOOR: Baile revive a estética do Miami Bass e sua vertente mais frutífera, o funk carioca. Muito mais que um exercício revivalista, a dupla atualiza elementos do som de outrora sem nunca descaracterizar a fonte. No universo de Baile, está presente a multitude de aspectos da vida na favela, encapsulada em 27 minutos de música construída com esmero de artesão. (Eduardo Yukio Araujo)

Malcolm Jiyane Tree-O – UMDALI

O jazz sul-africano é uma das cenas mais injustamente subestimadas da música e a beleza desse álbum é apenas uma das tantas provas lançadas nos últimos anos. Da capa aos caminhos abertos na mente por cada solo, o disco às vezes soa como um charme, uma brincadeira muito pessoal e convincente, de um artista que de inocente não tem nada e de uma banda que sabe muito bem o que quer passar. (Vítor Henrique Guimarães)

Nation of Language – A Way Forward 

Nostálgico de imediato. No segundo disco da carreira, o trio nova-iorquino não poupa os recursos disponíveis pra criar um mundo retro futurista. As referências à new wave e ao synth-pop dos anos 80 são claríssimas, mas a boa execução, com abordagem contemporânea, livra o álbum da sensação de ter parado no tempo. Destaque para os tecidos densos de sintetizadores e baixos. (Bruno Maroni)

Castello Branco – Niska: Uma Mensagem para os Tempos de Emergência

Com elementos eletrônicos e sem perder o lirismo de suas canções, Castello Branco traz o melhor da sua sonoridade para esse novo trabalho. O título é uma menção a um livro que foi marcante em sua infância. Esse álbum convida Duda Beat, Mahmundi, Lazúli e Rubel para esse universo particular. A experiência desse som fica completa com o papo com o artista no Podcast Música Pavê. (André Moraes)

Coruja BC1 – Brasil Futurista

Brasil Futurista passeia por signos e sonoridades brasileiras, um registro importante para o seu tempo, e mostra a versatilidade de Coruja BC1, que ressignifica seu flow e os versos agressivos de outrora, os adaptando às tonalidades que a proposta sonora do disco solicita. Outro ponto favorável do trabalho é a diversidade das participações, como Margareth Menezes, Jonathan Ferr, Larissa Luz e Salgadinho, passando por Lino Krizz, Anchietx e Lúcio Maia, além de Jair Oliveira, RDD e Ed City. (Rômulo Mendes)

Myele Manzanza – Crisis & Opportunity, Vol. 2 – Peaks

No segundo volume de seu projeto de aprimoramento artístico durante a pandemia (quase todo gravado numa jam session), o baterista, beatmaker e produtor neozelandês seleciona outro time de instrumentista pra tornar quase microscópica a fronteira entre jazz e música eletrônica, trazendo inspirações até da bossa nova – Eumir Deodato ficaria orgulhoso ouvindo a faixa When We Could Dance Together. (Vítor Henrique Guimarães)

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