Dicas de Discos do Mês: Março/2025

Em um mês, uma grande quantidade de trabalhos musicais chegam ao mundo. Apesar de todo empenho da equipe do Música Pavê, nunca é possível contemplar tudo. A fim de chamar atenção para a impossibilidade de abraçar o mundo da música, fica aqui a seção Dicas de Discos do Mês, com álbuns que não deu tempo de comentar no momento exato de seu lançamento.
Os pavezeiros indicam obras que não podem ficar de fora dos seus dias. Se deparar com um trabalho musical que mexe com você é muito prazeroso, então fica o incentivo de experimentar esses sons e ir além, se atentando às recomendações de outros veículos e até mesmo às sugestões de algoritmos. Nunca se sabe de onde pode surgir seu próximo disco favorito.
Eis as dicas de março de 2025.
Arnaldo Antunes – Novo Mundo
Surpreendendo ao escancarar o atual mundo em cima de drill, na parceria com Vandal “Mundo Novo”, Arnaldo mostra o tema principal; ainda assim, também também traz o acolhimento em meio ao caos, fazendo imergir em suas experimentações e ganhar um abraço depois de levar um tapa – seja por letra, seja por melodia. Com parcerias bem pensadas (Byrne, Marisa Monte e Ana Frango Elétrico), se mostra ainda capaz de fazer um álbum que foge do esperado e que cresce a cada escuta. (Giovana Bonfim)
Men I Trust – Equus Asinus
Prepare seu chazinho e encontre um cantinho confortável para contemplar a amplitude de novas formas de existir — ou de ouvir. O título Equus Asinus vem do latim, algo como “jumento”, talvez para relembrar a insignificância do todo. Logo de entrada, somos apresentados à faixa I Come With Mud, que nos recorda que todos vamos para o mesmo lugar: Viemos da terra, e a ela retornaremos. Quieto, mas profundo, é cheio de uma nostalgia por algo que talvez ainda não tenhamos vivido — se é que isso é possível. É um alívio perceber que ainda se arriscam musicalidades tão atmosféricas. (Leticia Stradiotto)
terraplana – natural
O quarteto curitibano pode ser associado ao shoegaze mas, para sermos justos, há mais elementos no som da banda do que o rótulo entrega: em seu segundo álbum, a expansão sônica abarca de forma mais clara o rock alternativo dos anos 90. Dessa forma, os efeitos lisérgicos e pedais de efeito são elementos típicos do gênero que não limitam, mas expandem a concepção artística do trabalho. Discão. (Eduardo Yukio Araujo)
Far From Alaska – 3
3 não é tanto o álbum em que Far From Alaska trocou o rock pela música eletrônica. É uma coletânea de experimentos em que o trio atira em várias direções, retrato de um período que começou na pandemia, de adaptação a novas formas de compor. Na média, soa industrial, mas também agrega o pop escancarado da abertura, dubstep, xote e reggae. Parcerias com Lenine, Medulla e Pato Banton ressaltam o ecletismo, mas, para quem busca boas canções, elas continuam lá. (Roberto Soares Neves)
Mumford & Sons – Rushmere
Conhecida por uma potência sonora que preenche estádios, a banda britânica optou por uma obra de dimensões bem mais modestas, mas ainda imperfeitamente humanas, para este que é seu quinto álbum. A obra coloca o ouvinte no centro da ação, próximo aos instrumentos e à voz ímpar de Marcus Mumford, enquanto ele canta os temas de sempre: Fé, arrependimentos e esperanças. Um tanto menos impactante, mas igualmente bonito aos anteriores. (André Felipe de Medeiros)
Perfume Genius – Glory
Ouvir Perfume Genius, projeto do músico Mike Hadreas, é testemunhar uma honestidade emocional intensa. As múltiplas camadas de seu pop rock barroco e suntuoso revelam um espírito inquieto que faz confissões em vocais sussurrados, dança envolto por guitarras ruidosas e mergulha em pianos tristes e sonhos sombrios. Ao mesmo tempo em que celebra sua individualidade, Hadreas nunca deixa de soar acolhedor. (Bruno Takaoka Pugliese)
Lady Gaga – Mayhem
Depois de tantos anos sumida, Lady Gaga voltou com tudo! O novo projeto da cantora, MAYHEM, foi lançado no início de março, e trouxe todo o ânimo que precisávamos para seguir o ano. Carregado de um pop oitentista, energético, escancarado — característica padrão da maioria dos trabalhos de Gaga — e obscuro, com os vocais impecáveis, o disco conta com participações dos artistas Bruno Mars, em Die With a Smile, e Gessaffelstein, em Killah. (Lorena Lindenberg)
Flaira Ferro – Afeto Radical
A voz vigorosa de Flaira Ferro é um sopro de vida no cenário brasileiro. Afeto Radical é dinâmica pura. Partindo do seu frevo de origem, ela continua explorando ritmos, que frequentemente nos pegam de surpresa. Percussões, sopros e cordas oscilam entre apoiar os momentos mais calmos e criar texturas em momentos de clímax. O afeto que aparece nas letras é radicalmente positivo, mas Flaira luta por ele com inteligência. Como se fosse pouco, Lenine, Laís de Assis e Elba Ramalho participam. (Roberto Soares Neves)
Marina Sena – Coisas Naturais
Marina Sena celebra a alegria brasileira em mais um álbum de sacudir o pó. A artista equilibra, com gingado, três dos nossos maiores patrimônios: o pop, o samba e o funk. Entre amores e desamores, Coisas Naturais desmistifica esses sentimentos com leveza e os entrega em meio a uma produção contagiante. Talvez essa tenha sido a oportunidade perfeita para a mineira se mostrar mais honesta com a própria arte — sem filtros, sem pressa, mas com muito suingue. (Leticia Stradiotto)