Dicas de Discos do Mês: Março/2022

Em um mês, uma grande quantidade de trabalhos musicais chegam ao mundo. Apesar de todo empenho da equipe do Música Pavê, nunca é possível contemplar tudo. A fim de chamar atenção para a impossibilidade de abraçar o mundo da música, fica aqui a seção Dicas de Discos do Mês, com álbuns que não deu tempo de comentar no momento exato de seu lançamento.

Os pavezeiros indicam obras que não podem ficar de fora dos seus dias. Se deparar com um trabalho musical que mexe com você é muito prazeroso, então fica o incentivo de experimentar esses sons e ir além, se atentando às recomendações de outros veículos e até mesmo às sugestões de algoritmos. Nunca se sabe de onde pode surgir seu próximo disco favorito.

Eis as dicas de março de 2022.

Rosalía – MOTOMAMI

O terceiro álbum da popstar espanhola é uma rara combinação de fatores: uma artista em seu momento mais propício para conquistar o mundo, no ápice criativo e com segurança para experimentar. O que encontramos aqui é uma avalanche de canções que fazem ponte entre um mundo de folclore e tradição e outro de violenta contemporaneidade. Definitivamente, MOTOMAMI estabelece Rosalía como uma das figuras essenciais da música global. (Eduardo Yukio Araújo)

Band of Horses – Things Are Great

O grupo de Seattle liderado por Ben Bridwell surgiu na prolífica cena indie rock dos anos 2000, mas com uma abordagem tipicamente country e folk em suas composições – um som rústico, emotivo e intenso. Décadas depois, Bridwell e seus companheiros retornam com o sexto álbum de estúdio, Things Are Great, confirmando a vocação para boas melodias, melancolia e empatia: ótima combinação para abraçar os ouvintes. Ouça In Need of Repair!. (Bruno Maroni)

Terno Rei – Gêmeos

Após alçar grandes voos e ganhar espaço na cena musical brasileira com o sucesso de Violeta, Terno Rei enfrentou as expectativas do que seria feito no trabalho seguinte, encontrando o equilíbrio em Gêmeos. Este é o álbum mais pop da carreira do quarteto que, por meio das letras de Ale Sater, transita entre a nostalgia e os temas do cotidiano com uma sonoridade que explora novos caminhos para a banda. (Thaís Ferreira)

Nilüfer Yanya – PAINLESS

Existe o poder de uma divindade ancestral morando nas cordas vocais de Nilüfer, mas, em PAINLESS, essa deusa está triste. Sem precisar passar de um tom quase sussurrando ao longo de todo o álbum, a voz da artista é expressiva, em toda a sua potência contida. O destaque é o vocal da cantora, mas o arranjo também tem uma identidade própria, um pop acústico, com uma guitarra sempre presente. O álbum é triste, mas é vibrante. É sutil, mas é enérgico. Enfim, é ambíguo no melhor sentido possível. (Guilherme Gurgel)

Wallows – Tell Me That It’s Over

Mais madura, consciente e entendida em relação à identidade musical, Wallows lançou Tell Me That It’s Over, fortalecendo as faces e propostas da banda. O disco é sustentado pela costumeira sonoridade indie-pop, com os riffs de guitarra guiando grande parte das músicas. Ao longo das dez faixas, as líricas sentimentalistas conseguem ser profundas o suficiente para provocar reflexões. (Isabela Guiduci)

Aline Frazão – Uma Música Angolana

Depois de quatro álbuns de estúdio e da composição pra trilha sonora do elogiado longa Ar Condicionado, a cantora angolana traz jazz, influências do samba, poesia e sobriedade na sua visão das relações e se aproxima ainda mais da música brasileira do que em trabalhos anteriores – o quão linda seria uma colaboração entre Aline e Luedji Luna? Espero que saibamos um dia. (Vítor Henrique Guimarães)

Crime Caqui – Atenta

É natural que o primeiro álbum de uma banda apresente uma visão ainda crua dos caminhos desejados. A crítica costumeiramente aborda esses casos dando ênfase a características como vigor e espontaneidade e permitindo que maturidade, coesão e cuidado estético fiquem em segundo plano. O quarteto de Sorocaba subverte essa lógica ao apresentar um disco que soa como resultado de um processo mais minucioso: aglutinando referências de indie rock sinuoso, dream pop e folk sem se apegar demais a clichês. (Eduardo Yukio Araújo)

COIN – Uncanny Valley

COIN se diverte na estética bedroom pop e bebe referências do indie pop, indie rock e rock ao criar o reflexivo e agradável Uncanny Valley [“Vale estranho”, em tradução livre]. O título, assim como todo o disco, retrata a confusão entre o mundo humano e o universo das máquinas. Como uma viagem de emoções, as canções questionam os significados das relações e humanidade em meio ao excesso da tecnologia. (Isabela Guiduci)

Stromae – Multitude

Mesmo sem entender o idioma de Stromae, quem ouve Multitude pode sentir que uma história está sendo contada nesse álbum. Quase dez anos depois do ótimo racine carrée, o artista belgo não perdeu o toque inteligente e irônico, que é sua marca. Em alguns momentos, as batidas extravagantes dão lugar a um ambiente mais intimista, mas, os fãs de hits como Papaoutai também são contemplados com faixas mais dançantes. Em Multitude, o artista avança na fórmula que ele mesmo criou e o resultado é tão bom quanto no álbum antecessor, o que é um baita elogio. (Guilherme Gurgel)

Scalene – LABIRINTO

Os títulos – do disco e das faixas – em maiúsculo dão pista do que a banda aprontou após seu Respiro (2019). Fãs dos momentos mais nervosos que Scalene trabalhou no passado são contemplados com grande volume sonoro, sem perder a liberdade estética que o grupo desenvolveu nos últimos anos – e que se tornou, por fim, sua principal característica. (André Felipe de Medeiros)

Bruno Morais – Poder Supremo

A espera pode ter sido longa, mas o novo álbum do compositor nascido em Londrina é uma obra marcante. Uma imersão despida de medo a música feita essencialmente de alma e suor, seja uma psicodelia setentista, jazz, soul, afro ritmos, funk e samba. Tal abordagem exige não apenas pesquisa e afinco, mas criação e execução, esmero sônico e detalhista. Sem nenhum segundo sonoro desperdiçado, a busca de elevação e sublimação é bem sucedida. (Eduardo Yukio Araújo)

Koffee – Gifted

Com influências fortes do afropop do Oeste africano e do reggae (tendo inclusive já levado um Grammy em 2019 com seu EP de estreia), a cantora jamaicana lança seu primeiro LP, que celebra origens e o que de bom podemos viver para além dos males que nos cercam. (Vítor Henrique Guimarães)

Charli XCX – Crash

Charli XCX transita naturalmente entre nuances do pop, entre fases mais experimentais e outras definitivamente mainstream. É essa versatilidade que encontramos no álbum Crash. O repertório parece simular uma viagem no tempo entre o pop dos anos 80 e o que há de mais atual no gênero.  Notamos isso, por exemplo, em New Shapes e … Beg For You, que contam com participações de Christine and the Queens e Caroline Polachek (na primeira) e Rina Sawayama. (Bruno Maroni)

Zudizilla – Zulu vol. 2 – De César a Cristo

Não é de hoje que o rapper gaúcho se destaca com seu flow peculiar, samples incríveis e canetadas ásperas e cheias de referências. O que acontece em seu novo trabalho é apenas um aprimoramento em todas as dimensões possíveis, deixando em evidência que o caminho que ele constrói é apenas de ascensão profissional e de sua autoestima consciente frente aos meios em que vivemos. (Vítor Henrique Guimarães)

Jovem Dionisio – Acorda, Pedrinho

Cada vez mais consolidada como um dos principais nomes do bedroom pop, Jovem Dionisio estreou a discografia com o exuberante Acorda, Pedrinho. Explorando brasilidades e as diversas possibilidades do pop, com apoio principal nos sintetizadores, a banda curitibana construiu um disco de estreia original e excêntrico, que representa a identidade jovem e contemporânea trazida pelo grupo. (Isabela Guiduci)

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