Dicas de Discos do Mês: Junho/2025

Em um mês, uma grande quantidade de trabalhos musicais chegam ao mundo. Apesar de todo empenho da equipe do Música Pavê, nunca é possível contemplar tudo. A fim de chamar atenção para a impossibilidade de abraçar o mundo da música, fica aqui a seção Dicas de Discos do Mês, com álbuns que não deu tempo de comentar no momento exato de seu lançamento.
Os pavezeiros indicam obras que não podem ficar de fora dos seus dias. Se deparar com um trabalho musical que mexe com você é muito prazeroso, então fica o incentivo de experimentar esses sons e ir além, se atentando às recomendações de outros veículos e até mesmo às sugestões de algoritmos. Nunca se sabe de onde pode surgir seu próximo disco favorito.
Eis as dicas de junho de 2025.
Little Simz – Lotus
Como se fosse um tipo específico de flor de lótus que se abre na escuridão, Little Simz emerge em meio à “guerra lá fora” e à “guerra aqui dentro”, sendo banhada pela raiva, mas alimentada pelo brilho da reflexão e da escrita. Miles Clinton James assume a produção do disco nesta nova parceria de Simz, na qual a bateria divide a força da música com as belas intervenções vocais melódicas, continuando uma sonoridade que já era muito boa com Inflo (produtor), mas o que grita, emerge, brilha na música, apesar de tudo, são as letras incríveis da rapper. (Nina Veras)
FBC – ASSALTOS E BATIDAS
Entre os anos 80 e 90, uma das principais vertentes do rap retratava uma realidade sinistra nas periferias com um som agressivo e intenções revolucionárias. Para recriar essa atmosfera, FBC mobiliza referências históricas, de Racionais ao hino A Internacional, e atualiza com BaianaSystem e a crítica à escala 6×1. Mas o que torna Assaltos e Batidas irresistível é o tempero de sarcasmo do cantor e as batidas a cargo de nomes como Coyote Beatz e Pepito. Ideal para ouvir no transporte coletivo, indo para o trabalho. (Roberto Soares Neves)
Lorde – Virgin
Virgin resgata a vulnerabilidade que sempre habitou Lorde, mas agora se expressa com mais força. É um processo de redescoberta que revela uma artista mais livre, explorando novos caminhos e encarando o desejo sem filtros. Ao falar abertamente sobre sexualidade, ela amplia o espaço para que outras mulheres façam o mesmo. (Letícia Stradiotto)
Addison Rae – Addison
A ironia e a autoconsciência são recursos utilizados na música pop há décadas como forma de mostrar que, mesmo naquele projeto fabricado, há um tantinho de humanidade. Addison é uma TikToker e, quando sua ambição de ser cantora apareceu, não faltaram acusações de “fabricação da indústria”. A boa notícia é que a garota entrega mais do que apenas bom gosto musical nesse seu debut: Sua personalidade sagaz alia a velha dicotomia inocência/ousadia a uma coleção de sons cativantes. (Eduardo Yukio Araujo)
Zé Ibarra – AFIM
O flerte perfeito entre a MPB e o Jazz. AFIM traz arranjos lindíssimos e complexos que complementam o vocal delicado de Zé Ibarra. Com um estilo similar a artistas como Djavan, Milton Nascimento e Ney Matogrosso, o disco tem vários elementos que remetem à MPB dos anos 1070 e 80, ao mesmo tempo que fala sobre a vida e o amor de uma maneira atual, sem perder seu frescor e originalidade. Outra parte interessante do álbum são as versões de canções de outros artistas, que nos fazem refletir que Zé Ibarra talvez seja uma espécie de Kelly Clarkson da MPB. Segredo, originalmente de Sofia Chablau e Uma Enorme Perda De Tempo, é um destaque pelo seu arranjo viciante e cheio de nuances. (Clara Portilho)
Alberto Continentino – Cabeça a Mil e o Corpo Lento
O charme de um “disco de produtor” com a pessoalidade de um repertório autoral: Alberto Continentino comprovou que seu melhor trabalho é sempre o próximo. Com Ana Frango Elétrico, Dora Morelenbaum e Nina Becker entre as vozes convidadas, o músico entrega uma obra com cara de “menu degustação” das sonoridades que ele desenvolve com maestria. Mas a digestão é fácil, com sabores sofisticados e texturas surpreendentes. (André Felipe de Medeiros)
Don L – CARO Vapor II – qual a forma de pagamento?
Dizer que a sequência de Caro Vapor (estreia solo do rapper cearense em 2013) é o melhor trabalho do rap brasileiro dos últimos tempos é uma verdade e uma redução: Aqui, o rap é o ponto primordial da arquitetura sonora rica e permeada por décadas de música brasileira em que se baseia o álbum. A produção de Iuri Rio Branco e do próprio Don amarra samples, instrumentação hábil e participações ricas. Nos escombros da sociedade capitalista digital, humanos ainda sonham, vivem, sofrem; Qual a forma de pagamento? (Eduardo Yukio Araujo)
Haim – I Quit
É um alívio para nós, mulheres mais esquisitinhas, vermos que ainda existem outras que tocam guitarra e transmitem essa vontade imensa que a gente tem de viver e desistir de tudo ao mesmo tempo. As irmãs Haim são as incompreendidas que não serão entendidas tão cedo, e isso é ótimo – porque nos faz sentir parte de algo. (Letícia Stradiotto)
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