Dicas de Discos do Mês: Junho/2023
Em um mês, uma grande quantidade de trabalhos musicais chegam ao mundo. Apesar de todo empenho da equipe do Música Pavê, nunca é possível contemplar tudo. A fim de chamar atenção para a impossibilidade de abraçar o mundo da música, fica aqui a seção Dicas de Discos do Mês, com álbuns que não deu tempo de comentar no momento exato de seu lançamento.
Os pavezeiros indicam obras que não podem ficar de fora dos seus dias. Se deparar com um trabalho musical que mexe com você é muito prazeroso, então fica o incentivo de experimentar esses sons e ir além, se atentando às recomendações de outros veículos e até mesmo às sugestões de algoritmos. Nunca se sabe de onde pode surgir seu próximo disco favorito.
Eis as dicas de junho de 2023.
Janelle Monáe – The Age of Pleasure
Janelle Monáe, sempre provocativa e sensual, agora traz inspirações do reggae e do som caribenho, mantendo os pés fincados no afrofuturismo. Em The Age of Pleasure, a multiartista se livrou dos adereços tecnológicos propositalmente exagerados, para se apresentar em um formato mais despojado. Para mim, que ouvi esse álbum em dias frios e nublados em BH, foi quase possível sentir a maresia e até pegar uma marquinha. (Guilherme Gurgel)
Olivia Dean – Messy
A cantora inglesa (fã de música brasileira) de apenas 24 anos lançou seu primeiro disco, e ele surpreende pela qualidade da produção e pela leveza e alegria do som. É um trabalho bem consistente, que nunca deixa o ouvinte na mão; ele passeia muito bem entre Arlo Parks e Lianne La Havas. Aliás, um dos produtores de Messy é Matt Heales, que co-produziu o álbum homônimo de La Havas lançado em 2020. É pra parar tudo o que você está ouvindo pra escutá-lo agora mesmo. (Vítor Henrique Guimarães)
King Krule – Space Heavy
Archy Marshall já se mostrou mestre em reunir e desenvolver ótimas ideias musicais em seus três álbuns anteriores. Neste, o britânico foi movido por questionamentos acerca da relação entre tempo e espaço dentro de uma sonoridade pós-punk, psicodélica e sempre cheia de emoção. Do tipo de trabalho que você terá que escutar mais de uma vez para sacar, mas todas as audições serão ótimas. (André Felipe de Medeiros)
Tomé – Mils de Mim
O carioca quer cantar e tocar o violão dele em paz, quer desejar viver, como se estivesse na rua, na chuva, na fazenda, ou numa casinha de sapê. Ele vai buscando reconhecer o que tem de bom dentro e fora dele – entende que a vida só tem o caminho de adiante. É uma das melhores lições que ele pode compartilhar com o mundo, mas certamente não é a única coisa boa: sua música, sua voz e os sentimentos que ele inspira através delas, seja no samba ou no pop, são lindos e ornam muito bem qualquer momento do dia. (Vítor Henrique Guimarães)
Coruja BC1 – Versão Brasileira Vol. 1
A prova de que o rapper de Osasco é um dos mais versáteis e inquietos MCs da cena brasileira está aqui; após o álbum Brasil Futurista, que apresentava um exercício mais profundo nas várias conexões do rap com vertentes diversas da música brasileira, vem esse EP que condensa uma abordagem bem mais crua e direta, tanto nas letras quanto no som. Juntando elementos do funk, grime e uma visão mais rueira do rap, Coruja criou o disco ideal: sem arestas nem perda de tempo, só uma sequência de músicas impactantes. (Eduardo Yukio Araujo)
WITCH – Zango
“We Intend To Cause Havoc” é a resposta pro acrônimo que marca o nome da lendária banda de (zam)rock de Zâmbia. É o primeiro álbum depois de quase 40 anos lançado pelo grupo, que esteve recentemente no novo álbum da rapper Sampa The Great. A parceria foi retomada neste novo trabalho, além de outras com artistas com Theresa Ng’ambi, Hanna Tembo e Keith Kabwe (da também histórica banda zambiana Amanaz). Antigos e novos talentos preciosos do país que em muito contribuem para o desejo de Sampa The Great: Conhecermos mais artistas africanos. (Vítor Henrique Guimarães)
Myele Manzanza – Focus
Esse aqui é pra dar play e encostar na cadeira de olhos fechados por 25 minutos. Essa é a forma certa de se experienciar o novo trabalho do baterista neo-zelandês (e filho de um percussionista congolês). Ele se juntou ao tecladista Lewis Moody e ao baixista Benjamin Muralt (com quem já havia trabalhado anteriormente em alguns dos volumes de Crisis & Opportunity) e o trio lançou uma verdadeira pedrada onde você não consegue entender direito onde começa o jazz e começa a música eletrônica – e o contrário também. A construção do trabalho termina em uma catarse completa, arrepia todos os pelos do corpo. Focus é fino. (Vítor Henrique Guimarães)
Gustavo Bertoni – I Got My Eyes Fixed
Já é o quarto álbum que Gustavo nos dá, e a obra parece abraçar um sentimento tão crescente quanto constante em sua discografia: Tirar os pés do chão. Isso porque as músicas de I Got My Eyes Fixed estão cercadas de ar, de um volume atmosférico atingido por um trabalho primoroso de produção, para amparar o timbre vocal do músico acompanhado de seu novo melhor amigo, o piano. De uma beleza envolvente e flutuante que ora paira, ora sopra pelas composições. (André Felipe de Medeiros)
Renao – A SPACE BETWEEN ORANGE & BLUE
Eu devo admitir que eu não entendi exatamente o que Renao quis dizer com “um espaço entre o laranja e o azul”, mas eu entendi perfeitamente que ele quis me fazer dançar como se eu fosse o Peter Parker de Tobey Maguire em Homem Aranha 3. É importante pontuar que o também indiano Jitwam já tentava (e conseguiao) isso há um tempo, o que revela que o país está com uma cena soul/r&b que vale a pena ficar de olho. Manda pro contatinho e vê se alguém consegue entender que espaço é esse, ou então simplesmente dá o play e curte juntinho. (Vítor Henrique Guimarães)
Urias – HER MIND
A sensação é que Urias e Pabllo Vittar quiseram gerar em seus fãs uma sensação semelhante em seus novos trabalhos: uma coisa de balada, de fritação, de trip, com a cabeça atordoada com tanta informação. É como se você colocasse uma coisa muito doce e outra muito salgada na boca e a língua fosse superestimulada e o cérebro não conseguisse entender muito bem o que tá rolando – mas você sabe que, acima de qualquer estranheza, a sensação é boa. Não há espaço, não há vazios. Há apenas a ordem de não desacelerar. (Vítor Henrique Guimarães)