Dicas de Discos do Mês: Janeiro/2023
Em um mês, uma grande quantidade de trabalhos musicais chegam ao mundo. Apesar de todo empenho da equipe do Música Pavê, nunca é possível contemplar tudo. A fim de chamar atenção para a impossibilidade de abraçar o mundo da música, fica aqui a seção Dicas de Discos do Mês, com álbuns que não deu tempo de comentar no momento exato de seu lançamento.
Os pavezeiros indicam obras que não podem ficar de fora dos seus dias. Se deparar com um trabalho musical que mexe com você é muito prazeroso, então fica o incentivo de experimentar esses sons e ir além, se atentando às recomendações de outros veículos e até mesmo às sugestões de algoritmos. Nunca se sabe de onde pode surgir seu próximo disco favorito.
Eis as dicas de janeiro de 2023.
Jonathan Ferr – Liberdade
Partindo das possibilidades do piano como instrumento ora central, ora periférico dentro das canções, Ferr assume de forma mais evidente a paixão pelas possibilidades múltiplas do afro futurismo em seu novo trabalho. As parcerias vocais aqui são muito mais do que adornos às tramas instrumentais, e de fato fazem parte indissociável do arcabouço criativo das canções. Jazz, eletrônica, hip hop e filtro definitivamente brasileiro: Um verdadeiro deleite. (Eduardo Yukio Araujo)
Jonah Yano – portrait of a dog
Depois de uma estreia um tanto morna e pouco marcante, o cantor nipo-canadense lança seu segundo álbum pela Innovative Leisure (por onde também lançou seu debute, souvenir, em 2020) volta com vocais amadurecidos e arranjos e produção (que ficou por conta de BadBadNotGood, talvez o principal nome do selo) mais arrojados e inventivos, possibilitando uma experiência de jazz e pop sutil, emocionante e consistente. (Vítor Henrique Guimarães)
Gaz Coombes – Turn the Car Around
De todas as coisas que podem ser ditas sobre este que é o quarto disco do cara que conhecemos um dia na banda Supergrass (lembra?), a que mais dá prazer de falar é que é uma obra que justifica nossa atenção apenas pela enorme qualidade de suas músicas. Todos os argumentos vêm em segundo plano. O que importa é que podemos desfrutar da maestria de um músico mais do que experiente, e que sabe entregar um trabalho tão caprichado quanto prazeroso. (André Felipe de Medeiros)
José James – On & On
O que o cantor estadunidense José James faz em seu novo álbum (o décimo solo) é trazer alguns clássicos de Erykah Badu em visões que tornam o r&b e o jazz uma coisa só. Se a ideia por si só soa como algo incrível, a execução supera as expectativas e te faz imaginar os cenários mais deliciosos possíveis pra dançar tanto na vertical quanto na horizontal. Inspirado também pelo profissionalismo de Badu, ele dá destaque a Ebban Dorsey e Diana Dzhabar, duas jovens e talentosas instrumentistas. (Vítor Henrique Guimarães)
Ivete Sangalo – Chega Mais (Ao Vivo)
Ivete Sangalo apresentou em janeiro um EP com cinco faixas que marcam o retorno do carnaval. Gravado em um show em Salvador, Chega Mais se propõe a comemorar o verão e a volta da artista aos trios elétricos, após dois anos de ausência da folia tão amada. O destaque é Cria da Ivete, faixa que abre o EP, embora as demais não ficam atrás e embalam nossa espera como os axés de antigamente, mas ainda muito atuais. (Rafaela Valverde)
Slipmami – Malvatrem
A Malvadeza de Duque de Caxias (RJ) já havia desbravado o universo viral do Tik Tok com o hit Acha que a Vida É um Morango e consolidado sua verve lírica no EP Gostosa Posturada (2021). Seu primeiro álbum é um apanhado das qualidades já apresentadas: Trabalhando em vertentes do hip hop, trap, eletrônica e até mesmo rock, a MC fluminense embala as letras quentes e marrentas com sua levada fluida e sem engasgos. A produção apurada encabeçada por Leo Justi é a cereja desse delicioso bolo. (Eduardo Yukio Araujo)
Biig Piig – Bubblegum
Às vezes apaixonado, às vezes dançante, às vezes sussurrado, Bubblegum, de Biig Piig, é difícil de definir, mas fácil de ouvir. Na mixtape de estreia, a irlandesa entrega um trabalho que mostra várias faces do pop alternativo. Biig Piig se mostra cheia de ideias, mas não se perde, e tem um resultado que é simplesmente divertido. Apesar da curta duração, a qualidade das sete faixas é um ótimo sinal do que deve estar por vir. Os destaques aqui ficam para a canção Kerosene e para a colaboração com Deb Never, na faixa Picking Up. (Guilherme Gurgel)
The Arcs – Electrophonic Chronic
Em 2015, Dan Auerbach (The Black Keys) reuniu os amigos para um projeto solo que virou uma banda. Naquele mesmo ano, saiu seu disco de estreia (Yours, Dreamily,) e o grupo perdeu um de seus membros em 2018, o que fez com que o projeto entrasse em pausa. Com o isolamento da pandemia, Auerbach e Leon Michels reviraram seus arquivos e encontraram as demos gravadas, de músicas inéditas, antes do primeiro disco. O resultado? Um baita de um álbum que, felizmente, viu a luz do dia. (André Felipe de Medeiros)
Doom Flower – Limestone Ritual
Não existe nada exatamente novo no segundo álbum da banda estadunidense composta por Jess Price (Campdogzz), Bobby Burg (Joan of Arc, Beauty Pegeant), Matt Lemke (Wedding Dress) e Areif Sless-Kitain – ainda que este não tenha participado das gravações e tenha sido substituído por um gravações pré-gravadas. É um álbum tridimensionado pelos ruídos do shoegaze em doses domesticáveis, pelo mistério do trip-hop e um vocal familiar aos ouvidos amantes de bedroom pop. Chega a ser nostálgico, o que é lindo. (Vítor Henrique Guimarães)
MC Rogerinho – Pode Crê (Ao Vivo)
Fenômeno no TikTok, o cearense MC Rogerinho apresenta muito bem a Bregadeira para o Brasil através do álbum Pode Crê. Com intenção de trabalhar a faixa Lapadona, o artista se surpreendeu com 085, sucesso orgânico que tem projetado o ritmo para além da Internet. Se você não conhece o artista ou ritmo, recomendo que escute, porque é gostoso aproveitar o verão suingando com esse som. (Rafaela Valverde)
Enny Man Da Guitar – The Legacy EP: The Rise of a Legend
O ritmo sul-africano do amapiano tá rolando e não duvido muito que chegue por aqui com força. Aos poucos, toma até o TikTok. As nove músicas desse lançamento exemplificam bem o transe provocado pelo gênero: Inspiração no deep house e no miami bass, coesão e corpos se movendo naturalmente de uma forma que você ainda não sabia que podia fazer. Abra alas ou seja atropelado – elegantemente, mas atropelado. (Vítor Henrique Guimarães)