Dicas de Discos do Mês: Janeiro/2022

Em um mês, uma grande quantidade de trabalhos musicais chegam ao mundo. Apesar de todo empenho da equipe do Música Pavê, nunca é possível contemplar tudo. A fim de chamar atenção para a impossibilidade de abraçar o mundo da música, fica aqui a seção Dicas de Discos do Mês, com álbuns que não deu tempo de comentar no momento exato de seu lançamento.

Os pavezeiros indicam obras que não podem ficar de fora dos seus dias. Se deparar com um trabalho musical que mexe com você é muito prazeroso, então fica o incentivo de experimentar esses sons e ir além, se atentando às recomendações de outros veículos e até mesmo às sugestões de algoritmos. Nunca se sabe de onde pode surgir seu próximo disco favorito.

Eis as dicas de janeiro de 2022.

Baco Exu do Blues – QVVJFA?

Em QVVJFA – Quantas vezes você já foi amado?, Baco desnuda estados de espírito. Repleto de gatilhos, o álbum surge como um fôlego para os fãs do rapper, que morriam de esperar, mas, ao mesmo tempo, faz prender a respiração, só para ouvir avidamente cada palavra, cada nota. Com participações de Glória Groove e samples de Gal Costa e Vinícius de Moraes, traz continuidade, rompimentos e celebra Salvador. (Rafaela Valverde)

Josy.Anne – Mozamba

A diáspora africana durante o período da escravidão mercantil trouxe impactos profundos para a música, cultura e religiosidade brasileira. O álbum da atriz, cantora e percussionista mineira parte do reinado, tradição folclórica do interior daquele estado. Ao ter o canto e o batuque como base para texturas de guitarras, teclados e intervenções eletrônicas, Josy.Anne faz da polifonia uma festa que evoca a própria ancestralidade, rica e complexa. (Eduardo Yukio Araújo)

Panoptique Electrical – Pictoresque Ruins

Dono de uma longa discografia de mais de quinze álbuns nos últimos catorze anos, o australiano Jason Sweeney abre 2022 com algo que a gente torce pra que não seja um prelúdio para o ano, visto ser uma densa coleção de sons que arrepiam e pesam, gerando um desbravamento por paisagens sonoras quase táteis de tão vivas. (Vítor Henrique Guimarães)

Aurora – The Gods We Can Touch

Preservando as idiossincrasias de seu trabalho mesmo no mainstream (no TikTok, por exemplo), a jovem artista norueguesa lança mais uma boa combinação de pop alternativo e folclore nórdico conduzida por sua voz suavemente ardida. Em The Gods We Can Touch, Aurora parece ampliar ainda mais suas referências, mantendo traços sofisticados (como em You Keep Me Crawling), incorporando nuances eletrônicas (Temporary High) e sugerindo um clima épico sutil (em Blood In The Wine). (Bruno Maroni)

Ludmilla – Numanice #2

Após conquistar o pop e o funk, a cantora carioca nos prova que dominou de vez mais um território à sua escolha. Fluente no pagode, Lud traz sua personalidade tão forte como seu vocal a composições com cheiro de churrasco na laje, sem perder o arrojo da (baita) produção de banda cheia no estúdio. É o melhor de vários mundos que estão hoje sob império de nossa Rainha da Favela. (André Felipe de Medeiros)

Elvis Costello – The Boy Named If

Aos 67 anos, Elvis Costello (para alguns, o Elvis mais legal da história) acaba de lançar seu 32º álbum de estúdio! Um capítulo à parte no mundo da música, sua discografia já foi do punk ao jazz. Mas, em The Boy Named If, Costello, acompanhado pela afinadíssima banda The Imposters, apresenta um rock tradicional, conciso e vibrante. O disco traz canções divertidamente agressivas (Farewell, OK), baladas cadenciadas (Paint The Red Rose Blue) e momentos bem dançantes (Mistook Me For a Friend). (Bruno Maroni)

Odezenne – 200 Mètres En Tout

Para quem não conhece a banda Odezenne, este é um álbum do tipo “por onde começar”. Apesar de ser o quinto disco de estúdio dos franceses, aqui o trio entrega o seu trabalho mais refinado e conciso. 1200 Mètres En Tout reúne o que Odezenne faz de melhor: misturar elementos que não são frequentemente combinados, como o synthpop e o hip hop, e que juntos carregam a surpresa de uma comida agridoce. (por Thaís Ferreira)

Lilblackkids – The Planet of The Blues: Part One

Uma das artistas mais incansáveis na cena underground negra estadunidense é Georgia Anne Muldrow, que dessa vez se junta ao produtor Keith Rice e lança esse projeto de neo-soul cheio de suíngue e estilo, que dão a impressão de que a vida é uma eterna volta de skate num fim de tarde e às vezes é exatamente nisso que a gente precisa acreditar. (Vítor Henrique Guimarães)

FKA twigs – Caprisongs

Com um trabalho diferente do anterior, FKA twigs lançou a mixtape Caprisongs, referenciando seu signo Capricórnio. Com participações de peso, como The Weeknd e Daniel Caesar, o álbum surpreende, com ritmos gostosinhos (para dançar no banho) como os africanos e ao mesmo tempo tão pop e com letras que fazem lembrar as divas musicais de décadas anteriores, confirmando que elas ainda inspiram – e muito bem. (Rafaela Valverde)

Skit & Kamau & Slim Rimografia – Isso

O mundo do hip hop vai além do onipresente trap, e é possível entregar um trabalho original, de qualidade e perfeitamente atual dentro do gênero. O EP da colaboração entre Kamau e Slim Rimografia é prova disso: batidas de timbres diferenciados, samples e lírica inteligente ao longo de sete músicas bem construídas. Ambos são MCs e produtores de carreira sólida, e a união de forças aqui é uma vitória. (Eduardo Yukio Araújo)

Urias – Fúria

Precedido por um EP e alguns singles, finalmente temos o álbum de estreia da cantora Urias. A espera valeu a pena: coeso, bem produzido e com intenções claras, a compositora mostra versatilidade ao alternar canções mais cruas e diretas (Racha, Cadela) com momentos mais introspectivos e reflexivos (Foi Mal, Tanto Faz). Pop brasileiro contemporâneo (sim, isso existe!) de primeira. Ela quer tudo e quer agora – e, se depender dessa bela estreia, terá. (Eduardo Yukio Araújo)

Amber Mark – Three Dimensions Deep

Eis um disco para virar fã da cantora. Em seu segundo álbum, Amber transita com impressionante fluidez entre o pop e o alternativo, o novo e o de sempre, a dança e o som para ouvir deitado no chão com fones de ouvido. Mais impressionante que seu belíssimo vocal é seu bom gosto para as composições e os arranjos, que fazem com que uma artista ainda em início de carreira já ostente status de veterana. (André Felipe de Medeiros)

Bala Desejo – SIM SIM SIM

Bala Desejo é uma das novidades mais interessantes dos últimos tempos. Quatro amigos com trabalhos individuais bem distintos, mas que unidos nem se percebe quem é quem. Um grupo, verdadeiramente grupo. Bala tem uma brasilidade que relembra os tempos áureos do tropicalismo, mas traz consigo um ar de modernidade, com guitarras distorcidas e vozes estranhas. O lançamento foi apenas do lado A do disco, ainda tem muito por vir. (Lili Buarque)

Nicfit – Fuse

Diretamente de Nagoya, no Japão, vem o primeiro álbum do quarteto que já está junto há doze anos. O punk pegado e cheio de headbang cruza as onze faixas do disco, que é conduzido por linhas de baixo vibrantes e pela entrega estonteante da vocalista Hiromi Inada. Uma mistura de Thee Oh Sees com Yeah Yeah Yeahs que agrada qualquer um mais dado ao rock. (Vítor Henrique Guimarães)

Orlando Weeks – Hop Up

A jornada de Orlando Weeks como músico solo se entrelaça com a sua experiência como pai. Se o seu álbum de estreia, A Quickening, falava sobre a ansiedade e expectativa de trazer uma nova vida ao mundo, Hop Up captura toda a alegria deste momento, a partir de uma perspectiva leve e otimista. Durante onze faixas de um indie pop sensível, Weeks cria uma carta de amor, capaz de encher nossos corações com a esperança de que tudo ficará bem. (Geovana Diniz)

The Weeknd – Dawn FM

Dawn FM é musicalmente mais acessível, mas conceitualmente mais carregado que seu aclamado antecessor, After Hours (2020). As batidas e sintetizadores dançantes puxam reflexões melancólicas existenciais (sobre medos, culpas e arrependimentos). Somos conduzidos por Abel Tesfaye a uma jornada pelo pós-vida, por isso a estética soturna. É um disco com seus brilhos precisamente distribuídos pela atmosfera escura. Vale ouvir Take My Breath, Gasoline, Less Than Zero. (Bruno Maroni)

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