Dicas de Discos do Mês: Abril/2023

Em um mês, uma grande quantidade de trabalhos musicais chegam ao mundo. Apesar de todo empenho da equipe do Música Pavê, nunca é possível contemplar tudo. A fim de chamar atenção para a impossibilidade de abraçar o mundo da música, fica aqui a seção Dicas de Discos do Mês, com álbuns que não deu tempo de comentar no momento exato de seu lançamento.

Os pavezeiros indicam obras que não podem ficar de fora dos seus dias. Se deparar com um trabalho musical que mexe com você é muito prazeroso, então fica o incentivo de experimentar esses sons e ir além, se atentando às recomendações de outros veículos e até mesmo às sugestões de algoritmos. Nunca se sabe de onde pode surgir seu próximo disco favorito.

Eis as dicas de abril de 2023.

Jessie Ware – That! Feels Good!

O quinto disco da cantora inglesa mostra sua evolução em um soul-pop sofisticado. O álbum apresenta vocais sensuais, sopros e metais energizantes e batidas dançantes enquanto aborda temas de satisfação pessoal e prazer, frequentemente sugerindo a dança como a resposta para tudo. Apesar de ter apenas dez faixas, esse lançamento consegue transmitir boas vibrações em todos os minutos, mostrando que dá pra reviver a disco music com classe. (Nathália Pandeló Corrêa)

Billie Marten – Drop Cherries

Billie Marten está apaixonada e quer compartilhar o quentinho no coração de estar em uma relação. Em seu quarto álbum de estúdio, aos 23 anos, a inglesa faz música que é melhor apreciada no fone de ouvido, em um lugar silencioso. Drop Cherries é um álbum conceitual detalhista, de um folk quase sussurrado. Os arranjos minimalistas estão em completa sintonia com o lirismo romântico, que brinca de tentar capturar e descrever a sensação de viver um romance. (Guilherme Gurgel)

Mateus Fazeno Rock – Jesus Ñ Voltará

Subvertendo o arquétipo do roqueiro brasileiro (branco, de classe média alta e fechado a outros ritmos), o compositor cearense expande no segundo álbum o que já era admirável na sua estreia (Rolê Nas Ruínas, de 2020): O tal “rock de favela” tem elementos da música urbana brasileira como o funk e o rap, é brutalmente consciente e traz poesia refinada. Mais do que a originalidade da proposta, Mateus entrega uma obra caprichadíssima e impactante, resgatando a essência marginal do estilo para muito além dos clichês. (Eduardo Yukio Araujo)

Daniel Caesar – NEVER ENOUGH

Mais recente trabalho do cantor canadense, Never Enough é um projeto harmonioso e conciso, com diferentes reflexões sobre amores e desamores. Combinando faixas com melodias típicas do R&B contemporâneo e baladas românticas, o álbum é sonoramente consistente, apesar de aparecerem experimentações em algumas canções. Em sua totalidade, a obra se apoia em uma atmosfera intimista, que Daniel Caesar usa para confessar seus sentimentos mais camuflados. Seus vocais potencializam a sentimentalidade e tornam Never Enough um disco excelente para não tirar do replay. (Isabela Guiduci)

Sabine Holler – Turning Into Myself

No início da década passada eu entrevistei uma jovenzinha que cantava em uma promissora banda independente de São Paulo. A jovem era Sabine, integrante do grupo Jennifer Lo-Fi. Desde então a compositora foi morar fora do país e esteve em diversos projetos, transitando entre o rock, a eletrônica e o indie. O novo álbum solo é um amálgama dessas referências, porém com uma visão amadurecida. Composições sólidas e repleta de arranjos ora delicados, ora mais abrasivos emoldurando uma ressonante força emocional. (Eduardo Yukio Araujo)

ÀIYÉ – Transes

Já na introdução, Larissa Conforto nos prepara ao que podemos esperar de Transes: “é um altar de todos os santos e uma mistura de Brasil com Egito”. Numa ótima mescla eletro orgânica, cada faixa do álbum carrega diversas camadas, mas sem perder a identidade da artista, neste que é seu segundo trabalho de estúdio. A temática de boa parte das canções tem como inspiração as religiões brasileiras com matriz africana, o que já se percebe nos títulos das faixas, como Exu (primeiro single), Cores de Oxum (dos pontos altos do disco) e Xangô, entre outras. Mas não espere algo regionalizado ou tradicional. A música de ÀIYÉ é plural e contemporânea.O próprio título do álbum traz essa referência, já que também pode se chamar de transe, o ato de incorporação. Falando nisso: já viram essa menina no palco tocando todos os instrumentos e soltando todas as programações? Recomendo! (Diego Tribuzy)

Indigo de Souza – All of This Will End

Com as mesmas figuras esqueléticas dos dois discos antecessores, a capa do terceiro álbum de Indigo de Souza já indica que devemos continuar esperando a mesma ironia autodepreciativa dos trabalhos anteriores. Em All of This Will End, unindo a morbidez e a indignação, a artista dá vazão a sentimentos de não pertencimento, traumas familiares e a impotência diante do abuso. As letras cruas e os vocais rasgados são acompanhados por um passeio entre gêneros, que vai do indie rock ao dream pop. (Guilherme Gurgel)

Kara Jackson – Why Does the Earth Give Us People to Love?

Tem disco que é uma verdadeira investigação da condição humana e seu conteúdo sensível fala ainda mais alto do que a qualidade das suas músicas. Não que o álbum de estreia da já conhecida poetisa estadunidense deixe a desejar em seu conteúdo musical – pelo contrário -, mas sua humanidade é palpável mesmo para quem não entende o que está sendo cantado. Kara questiona o que sentimos na relação entre amar, ter e perder e o que nos impele a continuar mesmo sabendo que a perda sempre vem. Impressionantemente belo, sensível e, é claro, humano. (André Felipe de Medeiros)

Jards Macalé – Coração Bifurcado

O novo álbum de inéditas do artista é sobre o amor e suas letras focam sobretudo na pluralidade que envolve esse sentimento – paz, dor, esperança, alegria e mistério são alguns dos temas que aparecem nas canções. Essa multiplicidade é reforçada também pela variedade sonora, com músicas que vão do samba ao rock, do ponto cantado ao jazz. A personalidade e o sentimento presentes na voz de Jards fazem o álbum valer a pena do começo ao fim, como de costume. (Marília Ferruzzi)

Julia Mestre – Arrepiada

Novo álbum da integrante do grupo Bala Desejo, Arrepiada dá andamento ao universo demonstrado anteriormente: Canções repletas de harmonias bonitas, cuidado melódico e uma busca pela perfeição pop de uma Rita Lee nos anos 80 (aliás, uma das referências marcantes). Sem receio de acenar para influências diferentes, o álbum poderia sofrer de falta de coesão, porém Júlia harmoniza tudo com sua voz delicadamente bela. (Eduardo Yukio Araujo)

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