De Olho no Amanhã, SIM SP 2019 Misturou Legados e Novas Gerações
Como BaianaSystem nos lembrou, “o futuro não demora”. Sabendo disso, a edição 2019 da Semana Internacional de Música de São Paulo (SIM SP) trouxe como tema “O mundo discutindo o futuro da música, a música discutindo o futuro do mundo”. Foram reunidas novas gerações com a memória de heranças recentes na produção musical, em paralelo aos assuntos que permeiam o setor fonográfico para além do som.
É de praxe que a programação aberta ao público na conferência – os chamados showcases (“vitrines”) – traga nomes recentes em apresentações ao vivo e gratuitas no Centro Cultural São Paulo (CCSP). Em 2019, ficou a sensação de que a curadoria apostou ainda mais em novidades do que nos anos anteriores, quando vimos ali vários nomes que já acompanhávamos há tantos anos. Vimos Luedji Luna e Terno Rei, mas também Glue Trip, Saskia, Romero Ferro e MC Tha, que despontaram mais recentemente. Ao lado deles, vimos bandas trazidas pelas delegações de outros países parceiras do evento, como Julieta Laso (Argentina), Aiza (Canadá) e Throes + The Shine (de Portugal, uma das maiores surpresas da semana).
As novidades estavam também nos painéis com profissionais da indústria, que também montaram um panorama da música hoje e para os próximos anos. Teve, por exemplo, um “estudo de caso” da carreira de Jão, com o artista e dois executivos da Universal Music respondendo perguntas da plateia. Outro painel discutia hits “do k-pop ao sertanejo”, enquanto outro comentava os desafios da música latino-americana, horas antes de uma conversa sobre diáspora negra e afrofuturismo mediada por Fióti. Uma entrevista com Kondzilla foi um dos eventos mais disputados da conferência.
O passado esteve presente na SIM de diversas maneiras. Lorena Calábria mediou painel sobre Da Lama Ao Caos – álbum de 1994 que colocou Nação Zumbi no Olimpo da música brasileira, tema sobre o qual a jornalista discursou em um recente livro -, enquanto os 30 anos do funk foi comentado em uma sala com especialistas. Manoel Cordeiro e Alceu Valença foram dois dos nomes de uma geração anterior presentes na programação da SIM, devidamente tietados pelos corredores do evento.
Entre a novidade e o legado, temas para além da música foram trazidos para o centro das conversas para que o futuro fosse discutido. Não só leis de incentivo e novas tecnologias foram debatidos, mas também assuntos como saúde mental, impactos sociais nas minorias e assédio no ambiente de trabalho foram levados à conferência. Um dos painéis mais ricos em conteúdo foi um sobre maternidade na música, no qual a jornalista Claudia Assef entrevistou uma psicanalista para uma plateia formada por cerca de dez pessoas.
E é aí que a mesma crítica feita todo ano se repete. Enquanto a programação megalomaníaca aposta em unir o maior número de atrações possível em um mesmo painel, as conversas se esvaziam de significado pelo tempo curto e o embate de egos entre quem está no palco e membros da plateia, que disputam para ver quem consegue se autopromover mais assim que segura o microfone. Enquanto isso, atrações que levam muito menos público às salas e auditórios conseguem levar conceitos, experiências e reflexões transformadoras para os poucos ali presentes. Da mesma forma, os conflitos de horário – houve dois painéis sobre realização de shows ao mesmo tempo, por exemplo – faz com que muitos vejam apenas o início de um debate para sair e ver a conclusão de outro, o que gera a sensação de que, de pouco em pouco, o frequentador acabe não aproveitando muito (uma conversa frequente também em todas as edições da conferência).
Fica difícil concorrer também com os coquetéis oferecidos pelas empresas parceiras, todos com bebidas de graça para os credenciados. Mas, se eles retiram pessoas dos debates, esses momentos ajudam a promover mais dos encontros que a SIM SP oferece. É lá onde pessoas que já trocaram tantas mensagens antes se conhecem pessoalmente e que algumas conversas têm início, para serem desenvolvidas nas salas de reunião da conferência.
É aí onde fica comprovado mais uma vez o maior ganho que os frequentadores têm na SIM: A oportunidade de encontrar pessoalmente quem, por limitações geográficas ou de agenda, nunca seria possível apertar as mãos. Melhor ainda é, no mesmo dia, poder conhecer bandas novas ao vivo e rever os amigos. Incomoda, porém, perceber que os temas tão relevantes propostos nos debates dificilmente são mencionados como o principal destaque na experiência de quem viveu o evento.
Mas fica a “missão cumprida” desses assuntos terem sido oferecidos aos conferencistas. No show de encerramento – também aberto ao público -, ver Drik Barbosa, a já mencionada Throes + The Shine e Emicida cantarem ao vivo, ocupando as ruas de São Paulo, comunica a mensagem de que o futuro, ao menos na música, começou muito bem.