Daparte É “Banda Pop com Ousadia”

Daparte está hoje na estrada que levará a banda mineira ao seu segundo álbum – o sucessor de Charles (2019) -, com lançamento previsto para o próximo semestre. No caminho, algumas músicas já foram reveladas, como Calma e 3 da Manhã, e agora conhecemos um lançamento em dose dupla, que formam lados A e B de um single.

Pescador, com participação de Zé Ibarra (ex-Dônica), e Acrobata trabalham um lado mais sensível do quinteto, talvez até mais maduro, e chegaram ao público acompanhadas de videoclipes em animação.

Foi nesse contexto que dois de seus membros – Juliano Alvarenga e João Ferreira – sentaram com o Música Pavê para contar sobre essa fase da banda, os lançamentos e o lugar que Daparte ocupa no panorama musical contemporâneo do Brasil.

Música Pavê: Pra começar, vamos falar sobre o lançamento dos singles em dose dupla, com lados A e B. De onde veio essa ideia?

Juliano Alvarenga: Estamos lançando os singles desse disco, que vai sair ainda neste ano, de tempos e tempos desde o começo de 2020. Resolvemos lançar essas duas músicas porque achamos que elas juntas vão fazer o papel de um single, como lado A e lado B mesmo, elas conversam uma com a outra, foram feitas no mesmo momento. E achamos que quem gostar de uma vai gostar da outra, porque as duas são bem sensíveis, falando de coisas mais pessoais e sentimentais. É o formato de antigamente, que as bandas lançavam [compactos com] lado A e lado B.

MP: Essas duas ganharam clipes em animação. Achei essa ideia muito boa, porque ambas me parecem bastante contemplativas, e esse formato tem um lado subjetivo bem legal. Essa é a minha interpretação, mas e vocês, por que quiseram trabalhar com animação?

João Ferreira: Cara, essa é uma das coisas mesmo, a animação abre muito espaço para criar porque você tem recursos ilimitados, em termos de criatividade. Não tem a limitação do espaço, da quantidade de pessoas… Como faríamos um clipe como esse, com um barco no meio do mar e alguém voando? Não daria para fazer nada disso, porque não temos um trilhão de dólares (risos). Vimos na animação essa liberdade de exercitar nossa criatividade. E isso também abre o espaço pra subjetividade de quem está consumindo – como você talou, tem um caráter meio abstrato por natureza. Mas tem a questão logística também, de não ter que ficar saindo de casa durante a pandemia para produzir, não ter que ficar fazendo teste para poder gravar… Vimos que fazer animações nesse momento era uma ótima opção.

MP: Pescador é uma parceria com Zé Ibarra. Como foi tanto e escolha de chamá-lo pra música e, também, como foi tê-lo na faixa com vocês?

Juliano: Zé sempre foi nosso amigo, desde a época da Dônica, uma amizade bem legal que construímos. Eles vinham pra cá e ficavam lá em casa, encontrávamos eles quando íamos pro Rio. E sempre tivemos em comum isso de gostar de Clube da Esquina, Milton Nascimento, Caetano Veloso – referências que também estão no nosso som. E quando estávamos ouvindo Pescador, pensamos que ficaria muito legal com a voz dele. Ele pirou na ideia, gostou da música, disse que achou o arranjo “muito Beatles” (risos).

João: Ele trouxe umas pirações dele pro arranjo também. Foi uma interpretação, mas ele também criou, deu a cara dele. E também tem outra coisa, ele estava passando por um momento muito parecido com o que eu estava quando compus a música. Conversamos bastante sobre isso, foi uma ligação legal que tivemos ali.

MP: Além do Zé, vocês já gravaram com Lagum e Melim, por exemplo. Como tem sido essa troca com outros músicos no estúdio? O que vocês levam desses encontros, dessas experiências?

Juliano: Acho uma troca muito legal. Quando vi Zé gravando, percebi nele algumas coisas e aprendi com ele. O cara estava gravando a voz dele, mas já pensando em um vocal que faria depois, que ia somar com outra voz – tendo várias ideias de adicionar várias camadas para a música que não seja a voz principal. Ele também colocou um piano no final, que foi bem legal. Com Lagum também, eu reparei no Pedro um jeito muito legal de cantar, com muita potência e um drive na voz que me abriram um leque. São aprendizados que a música te dá a oportunidade de ter. Estamos sempre nós cinco, então, quando vem outra pessoa, trocamos bastante.

MP: Quando vocês observam o panorama da música feita no Brasil hoje, onde vocês acham que Daparte está – entre bandas alternativas, artistas do mainstream etc.?

João: Nos perguntamos isso às vezes. Para nossos amigos do mainstream – Lagum, Anavitória e tal -, somos uma banda alternativa. E para nossos amigos do alternativo, somos uma banda super pop. Então, ficamos nesse limbo (risos), conversamos muito com todos. Isso é muito bom, né? Porque podemos estar em um festival com Anavitória e Melim, mas também com Devise, Boogarins e O Terno, sons que curtimos muito, e acho que ganhamos o respeito dessa galera toda. Estamos nesse meio do caminho.

Juliano: Acho que a música brasileira de hoje também está muito preto no branco, no sentido de “se você é pop, você tem que ser assim”, “se você é mais alternativo, tem que cantar tipo Los Hermanos e pirar na psicodelia”. Antigamente, não era assim. As bandas eram tão pop quanto alternativas – Charlie Brown Jr. tinha coisas do alternativo, Skank tocava dancehall, depois misturou com aquela dança do Calango maluca deles, você pega o Samba Poconé e é um disco que tem várias [misturas], Paralamos do Sucesso também… Acho que Daparte resgata um pouco dessa coisa de ser uma banda pop que tem uma ousadia, que não é “água com açúcar”. Hoje em dia, é tudo muito separado assim, mas eu já me peguei observando bandas tipo Boogarins fazendo uns sons mais pop, como Benzim e Doce, e eu acho tão foda, eles poderiam fazer mais coisa assim também. Tem que achar um meio termo que seja interessante pras bandas, e eu acho que estamos encontrando o nosso.

MP: E quando vocês ouvem Charles (2019) hoje, como vocês novam seu próximo crescimento e desenvolvimento estético?

João: Charles nasceu de uma bagunça, né? (Risos) cada um levou uma música, juntamos todas e falamos “vamos fazer um disco”. Toda banda meio que tem isso no primeiro álbum, né? E éramos muito novos, compusemos aquelas músicas com 16, 17 anos. De lá pra cá, toda a questão de gravar, fazer show e ter fãs se tornaram mais cotidianas. Fomos vendo também que poderíamos chegar mais longe e a ver o caminho que poderíamos trilhar. Para o segundo disco, já chegamos com um filtro diferente para escolher as músicas, sabendo como queremos nos portar enquanto artistas, qual vai ser a nossa imagem – o que não estava muito definido no primeiro disco. Sem contar a maturidade que acontece naturalmente quando você vive dos 17 aos 22, que é a idade que temos hoje. Muita coisa aconteceu na nossa vida pessoal, e isso influencia muito nossa música.

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