Daniel Villares além do que se vê

foto por bruno lagrutta

Existem quatro segundos entre o início da faixa e quando a música começa de fato na abertura de Invisível, novo álbum do carioca Daniel Villares. Se por um lado pode parecer pouco tempo, já teria acontecido um corte na cena se fosse um programa de TV, ou estaríamos prestes a apertar o botão de “pular anúncio” no YouTube. Aqui, o som das ondas quebrando no mar faz parecer o início de uma respiração longa, como se o álbum tomasse fôlego para começar de fato. Sabemos ali que estamos diante de um trabalho de tempo próprio, que te convida a recebê-lo com calma.

É aí que começa o exercício ao qual um segundo disco inevitavelmente passa, o de comparações com seu antecessor (no caso, Catavento, de 2017). Com produção de André Whoong, a nova obra tem uma grande aura introspectiva desde seu início. Se no primeiro disco o autor parecia se conectar aos outros, neste ele retrata aquilo que nós, daqui de fora, não conseguimos ver – daí o nome Invisível.

“É uma boa maneira de definir os discos”, comentou ele ao Música Pavê por telefone”. “No primeiro, eu estava sempre falando de mim com outra pessoa, este é mais sobre eu mesmo. É um disco sobre meu inconsciente, sobre a forma com que eu me enxergo no mundo”.

Após a introdutória Deixa o Mar, vem a simpática Nina, candidata a queridinha dos ouvintes. O disco segue em suas baladas introspectivas até a quinta faixa, Areia, explosiva e catártica. Daniel não esconde que essa é, além de a mais autobiográfica, sua preferida no disco. “No lado A, até a quarta faixa, Invisível fala mais sobre pessoas, outros personagens”, comenta ele, “já as últimas três são totalmente eu”. Após Areia, a faixa-título oferece um respiro ao ouvinte, enquanto o encerramento chega justamente com uma música chamada Fim.

O compositor conta que essa narrativa surgiu muito naturalmente enquanto ele trabalhava o conceito da obra, com músicas que define como tristes. “Queria sair um pouco de uma estética mais bonitinha, queria alguma coisa mais suja”, revela Daniel, “tentei focar mais em texturas. Catavento é um disco mais pop, é mais pra cima também. Esse novo tem mais texturas, é mais de sentir o que está acontecendo”.

As canções de Invisível foram compostas principalmente durante a época de gravação do primeiro disco (que, por sua vez, tinha músicas de diversos outros períodos anteriores). Apesar de Catavento ser um álbum alegre, Daniel não estava tão bem durante sua produção. “Fui muito mais feliz gravando este novo”, conta ele, “minhas memórias daquele período são ruins, mas tudo foi necessário para eu chegar aonde estou hoje. E adorei ter gravado em São Paulo com o André, que era a pessoa certa para a estética que eu queria. Agora, eu tenho um disco carioca e um paulista (risos).

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