Com “RASGACABEZA”, francisco, el hombre faz “show de resistência”

foto por rodrigo gianesi

Quando francisco, el hombre lançou seu soltasbruxa em 2016, o álbum veio acompanhado da narrativa de que a banda havia entrado no estúdio pensando em trabalhar como se estivesse fazendo seu último disco. É possível notar uma grande urgência na mensagem e na estética como um todo ao longo das faixas, o que certamente impulsionou a banda ao status que possui hoje. E o que você faz depois de já ter dado tudo de si? Foi essa a história que Mateo Piracés-Ugarte contou ao Música Pavê por telefone ao explicar o lançamento mais recente do quinteto, RASGACABEZA.

“Foi bem louco fazer o soltasbruxa porque era importantíssimo que tudo estivesse lá. Neste, foi o contrário”, explica o vocalista, “a gente quis aprender como se faz um disco. Pra isso, a gente gravou em casa, transformando quarto e cozinha em estúdios. Se a gente é músico independente, como trabalhador, tem que se apropriar dos meios de produção”.

Uma figura importante para o desenvolvimento da obra foi Carlos Eduardo Miranda, a quem a obra foi dedicada, que estava fazendo a direção artística do álbum quando faleceu. “Ele deixou claro que não gostava do soltasbruxa porque, para ele, o disco não era uma coisa nem outra, a gente tinha receio de chegar até certo lugar e dava um passo para trás”, conta Mateo, “ele nos ensinou a não encarar o disco como uma carreira toda, não depender dele, que é só uma fase. A gente quis tratar esse lançamento com mais leveza”.

Se a postura da banda foi mais tranquila em relação à pressão de produzir novo material, não há nada leve no seu som. “O show do soltasbruxa era puro fogo, pura catarse. Como a gente não tinha nenhum material que mostrasse isso no show, a gente quis trazer essa porra toda pro disco”, explica o músico, “tem uma ordem de movimento nas letras – dizendo para o povo ir para a frente, ir para o lado – que é o que a gente curtia fazer nos shows. O que a gente queria era pegar isso sem medo e levar até o final”.

É inegável que francisco, el hombre sempre quis trabalhar um conteúdo relevante para o tempo e a sociedade em suas letras, mas isso também se desenvolveu em RASGACABEZA. Como Mateo comenta: “A gente fez o soltasbruxa muito carregado de política, mas ao mesmo tempo muito carregado de jargões políticos. Isso é legal, mas a gente tem que fazer uma autocrítica. Bolso ou Nada é muito legal, mas quem gosta dele vai ouvir e não vai querer gostar da banda. A gente quis entrar em pontos em comum que na perdessem o tom crítico. Foi aí que a gente decidiu falar de saúde, de educação e da nossa vontade canalizada de fogo. E quis explicar a cidade latinoamericana, onde você vive pra trabalhar e não trabalha pra viver. Essa posição de submissão que nos é exigida é a politica do dia dia. O disco foi nessa direção”.

Sobre as apresentações ao vivo – como a do Festival CoMA (Brasília), onde a banda toca neste domingo, 4 de agosto -, Mateo conta que francisco, el hombre quis mudar também a estética no palco: “Antes, a gente queria muito trazer a individualidade de cada um, mas quis agora que a gente é unidade, e que a gente é trabalhador. A gente trouxe a cidade para o palco, todos estamos usando macacões como uniformes de trabalho. É um show de resistência, tem muita gente que chega se sentindo sozinho e se encontra nessa unidade”.

“Eu sempre digo que a minha maior referência é os shows com quem a gente toca. Querendo ou não, o mais foda é quando você vê uma banda próxima de você que no festival faz um puta show, e você fala ‘caralho, eu também quero fazer isso, eu quero fazer o meu melhor’. A gente rodou muito com o soltasbruxa e, desde antes, a gente foi obrigado a improvisar em cada show para se comunicar com cada público. Com esse espírito de muito improviso, zoeira, e participação, a gente fez o novo disco”.

Curta mais de francisco, el hombre e de outras entrevistas no Música Pavê

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