Circuito Banco do Brasil 2014: São Paulo
Aconteceu nesse fim de semana, mais especificamente no sábado (01), a segunda edição do Circuito Banco do Brasil (CBB), festival itinerante presente em quatro cidades: Belo Horizonte, Brasília, São Paulo e Rio de Janeiro (no próximo fim de semana). E, mesmo com duas cidades a menos em relação à primeira edição em 2013 – que contou, também, com Curitiba e Salvador –, foi possível notar algumas melhorias, pelo menos na capital paulista.
O Campo de Marte, em Santana, foi mais uma vez o local escolhido pela organização (a Plan Music) para realização dos shows. Embora com muitas reclamações dos consumidores internautas contra a Tudus, empresa responsável por comercializar os ingressos, os 30 mil presentes – segundo divulgação oficial do evento – tiveram espaço de sobra para circular e assistir às apresentações sem grandes confusões e/ou apertos.
Os serviços de alimentação e bebida funcionaram razoavelmente bem, com guichês espalhados pelos dois extremos do festival. Embora com filas grandes, o atendimento foi rápido, levando mais tempo apenas nos intervalos de shows, quando a maioria seguia em direção dos guichês. Entretanto, a disponibilização de mais máquinas para o pagamento em forma de débito ou crédito ajudaria a diminuir as filas, já que alguns atendentes só aceitavam dinheiro em espécie.
A comercialização nos guichês funcionava através de fichas. Os preços estavam na média do que se vê em outros festivais, com a cerveja a R$ 8 (Budweiser), refrigerante a R$ 6, e alimentação entre R$ 6 a 12 – cachorro quente e porção de batata frita eram boas opções. Ponto positivo por colocar vendedores e ilhas espalhadas pelo Campo de Marte e que vendiam lanches e bebidas – apenas com dinheiro. Ponto negativo por não disponibilizar lixeiras suficientes para o tamanho do evento. As poucas que tinham ficavam apenas perto dos caixas.
Em relação ao som, a melhora foi nítida para quem compareceu às duas edições. No ano passado, o público sofreu com uma interferência de áudio no final do show de Criolo e no início da então grande atração, Stevie Wonder. Em alguns pontos, o incômodo foi grande. Desta vez, porém, o segundo palco foi retirado, concentrando todos os shows em apenas um lugar. Decisão acertada da organização.
A única banda que sofreu com o som foi o grupo carioca Helga, vencedora do concurso que escolhia uma banda independente para abrir o festival. A partir do primeiro show de verdade, com a cantora Pitty e, principalmente, no esperado headliner, os americanos Kings of Leon, o sistema de som do CBB atendeu as expectativas de quem pagou caro pelos ingressos.
A baiana Pitty mostrou uma apresentação sólida na tarde ensolarada de sábado. O repertório, de uma hora no total, teve os grandes hits da cantora e músicas do novo trabalho Setevidas, lançado há poucos meses. As faixas Setevidas e Serpente, que abriu e fechou o show, respectivamente, é uma prova de que Pitty continua com seu afiado poder de composição e consolida a artista como uma das maiores representantes do rock brasileiro dos anos 2000.
A banda, que conta com o trio Martin Mendonça na guitarra, Duda Machado na bateria e o recém-chegado baixista Guilherme Almeida, dá peso e segurança para que Pitty possa desfilar sua voz pelo palco. A cantora, por sinal, está em plena forma técnica e vocal, dosando a potência nos momentos em que é preciso dosar e soltando quando necessário. Destaque também para as velhas conhecidas Máscara, Na sua Estante e Me Adora, todas cantadas em alto volume pelos fãs que chegaram cedo para assistir ao show do grupo.
Com o sol escaldante dando lugar a uma chuva ininterrupta por cerca de uma hora, Skank teve a difícil missão de manter a animação da platéia, a essa altura, toda molhada. E, para os mineiros, parece ter sido fácil. O grupo detentor de grandes músicas que tocam sem parar nas rádios Brasil afora, mandou, logo no começo, as poderosas Uma Partida de Futebol, É Proibido Fumar e Uma Canção É pra Isso, em sequência, não deixando tempo para respiro.
Também com trabalho novo, o álbum Velocia, lançado em junho, a atual música de trabalho da banda, Ela Me Deixou, já caiu no gosto popular dos fãs do quarteto formado por Samuel Rosa (guitarra e voz), Lelo Zaneti (baixo), Henrique Portugal (teclados) e Haroldo Ferretti (bateria). Destaque para a última canção do show, a pesada Helter Skelter (The Beatles), na qual Skank recebeu os gaúchos do grupo Cachorro Grande no palco.
A terceira atração foi MGMT, grupo com forte influência psicodélica e eletrônica que esteve no Brasil no ano retrasado, durante o festival Lollapalooza. A dupla Ben Goldwasser e Andrew VanWyngarden parece não se importar muito com o público que está assistindo à apresentação, já que a interação foi bem pequena, quase inexistente. Os grandes sucessos, Kids e Electric Feel, no entanto, fizeram a alegria de quem prestigiava os americanos.
Os dois grandes nomes do CBB em São Paulo este ano foram Paramore e Kings of Leon. Era notável que as duas bandas dividiram o público no sábado. Os fãs mais jovens – muitas meninas com o cabelo colorido, igual o da cantora Hayley Williams – se misturavam com os mais velhos, que esperavam o quarteto de Nashville.
Paramore, banda que acumula sucessos radiofônicos na sua, ainda, curta carreira, mostrou que gosta de músicas rápidas e com guitarras e baterias altas, como sua própria vocalista disse no meio do show. Show, aliás, é a performance Hayley no palco. A todo o momento, a vocalista de cabelos vermelhos interage com a platéia, apresentando cada uma das músicas, agradecendo o carinho dos brasileiros e correndo de um lado para o outro.
As conhecidas Misery Business, The Only Exception e Decode provam que Paramore conquistou seu espaço entre as atuais bandas preferidas dos mais jovens. O grande destaque, porém, foi quando a cantora escolheu Aline, uma jovem espremida na frente do palco – na enorme pista premium – para subir ao palco e ser a vocalista, por pelo menos alguns refrões, da sua banda predileta. Aline, por sua vez, retribuiu e mostrou que conhecia cada passo da cantora, que se surpreendeu com a performance da fã.
Por fim, às 21h50, a família Followill – os irmãos Caleb (guitarra e voz), Jared (baixo), Nathan (bateria) e o primo, Matthew (guitarra) – chegou para apresentar a turnê do mais recente álbum, Mechanical Bull, de 2013. As músicas Supersoaker, Don’t Matter, Family Tree e Temple, todas do último registro e executadas ao vivo, não ficam atrás de grandes sucessos como Molly’s Chambers, The Bucket, Use Somebody e Pyro, comprovando que Kings of Leon está de volta ao caminho certo.
A banda, pelo visto, recompensou a criticada apresentação no festival Planeta Terra, em 2012. Caleb dá sinais de que superou seus problemas alcoólicos, que prejudicaram sua voz e fez a banda cancelar uma extensa turnê nos EUA. O vocalista fez um show compenetrado, mostrando todo o seu alcance vocal com os timbres tão característicos que tornaram Kings of Leon em um dos grandes do rock moderno.
O jogo de luzes e as animações que intercalam com imagens do show no telão ajudam a compor o cenário da turnê de Mechanical Bull, que utiliza cores escuras e cortes rápidos de imagens. A dinâmica também é assim com o repertório, que tem poucas brechas entre uma música e outra. A banda emenda canções e, só em alguns momentos, Caleb troca, timidamente, palavras com o público brasileiro.
Após 1h20 de apresentação, Kings of Leon se despediu com a grandiosa Sex on Fire – talvez a música mais aguardada de todo o festival – de um público claramente satisfeito com o que viu. O Circuito Banco do Brasil, por sua vez, vai para o Rio de Janeiro no próximo fim de semana e, após o sucesso deste ano, deve garantir sua presença para 2015.
(*William Nunes é colaborador convidado do Música Pavê)
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