Cinco Músicas para Escutar no Mínimo Cinco Vezes

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Existe uma tendência na Internet que, apesar de não muito recente, ganhou espaço para discussão e evidência nos últimos meses: a buzzfeedização. Criar listas para facilitar o entendimento do leitor sobre determinado assunto é um recurso que vem sendo utilizado, inclusive, por grandes jornais online. Para um site de música, as listas funcionam como ferramentas de indicar bons sons e fazer com que os redatores possam praticar, ainda mais, o lado crítico disso tudo.

Quem escreve ou trabalha com isso de alguma forma conhece a dificuldade de falar em favoritos. Portanto, para facilitar, esta lista é a reunião de cinco faixas que, simplesmente, vão fazer levantar você do sofá, seja pela animação, pela inquietude ou pela vontade de ir ao banheiro para chorar. Nada de favoritismos.

##Laura Wrona – Ocupado Tem Gente

Se você ainda não conhece Laura, conheça. Ocupado Tem Gente é a música mais pop da cantora paulista que, no seu primeiro álbum, RH Volcano, deixou transparecer todo seu talento vocal e a melancolia das letras, inteligentes e cheias de jogos de palavras, como o “Desesperar – De se esperar”, no final da faixa É Tarde.

Composta por Laura e produzida por Thiago Nassif e Andre Ferraz, Ocupado Tem Gente é repleta de ironias e mensagens de positividade como, por exemplo, “Pra quê deixar entrar tanta interferência? Não é mais fácil relaxar e gozar da sua própria existência?”. No videoclipe, todas as cores fortes dos objetos e do figurino são atenuadas pelo fundo preto do cenário. É um daqueles trabalhos que dão prazer de digerir, devagar e repetidamente.

##Charme Chulo – Fuzarca (part. Vanguart)

Charme Chulo é de Curitiba e toca rock caipira. Igor Fillus (voz), Leandro Delmonico (guitarra e viola caipira), Hudson Antunes (baixo) e Douglas Vicente (bateria) misturam ironia, opinião e sonoridade em contextos surpreendentes. A faixa Multi Stillus, por exemplo, ousa ao misturar eletrônico e o som que eles já estão acostumados a produzir. Crucificados pelo Sistema Bruto é o álbum mais recente da banda, que conta com uma faixa em parceria com Helio Flanders, vocalista da banda Vanguart.

Fuzarca é a união de dois extremos: a voz aguda de Igor funciona muito bem com a mansidão e calmaria de Helio. A letra abusa de referências caipiras (até para honrar o estilo que a banda se denomina), como a palavra “estrebuchou”. A curta duração também é um dos motivos de escutar mais de cinco vezes: são dois minutos e 19 segundos de uma experiência sonora incrível.

##Ledjembergs – Olho Mágico e o Décimo Girassol

A belorizontina Ledjembergs já ganhou repercussão nacional pela versão livre, em vídeo, de Deus lhe pague e Construção, de Chico Buarque. Mas, apesar de fazer versões, como Quem Sabe Isso Quer Dizer Amor (Milton Nascimento) e Admirável Gado Novo (Zé Ramalho), a banda tem uma carreira autoral forte e consolidada. Adriano Queiroga, Lucas Ucá e Rafael Costa Val já lançaram dois álbuns, Amanhecei-vos e Pré.

Olho Mágico e o Décimo Girassol faz parte do Amanhecei-vos e merece atenção. Existem momentos, bem demarcados, que sinalizam mudanças de ritmo e, até, de emoção. O início instrumental é sombrio, seguido de uma introdução suave. No ¼ da faixa, a “pegada” muda novamente e, logo após, o sombrio retorna. Para finalizar, uma guitarra afiada e a melhor parte da letra chegam para dar tom psicodélico – “Pr’um girassol que assim como eu procura sol, assim como os nossos filhos”.

##Djalma Não Entende de Política – A DP da DP

Também de Belo Horizonte, Djalma Não Entende de Política é uma mistura só: Brega, rock, samba, etc. Ao final, o público é presenteado com músicas que funcionam em um contexto EP mas, também, têm identidade e caminham com as próprias pernas. Cada trabalho da Djalma é um beliscão, no bom sentido, que quer dizer “Ei, o som vai muito além do que você imagina, tá?”. “[…] Djalma não entende de política, mas tem princípios: jamais contratará advogados ou assessores de imprensa (até a segunda ou terceira ordem). […]Uma banda que é até jeitosinha, mas não tem a menor noção de viabilidade mercadológica. O que logo se vê pelo nome: Djalma não entende de Política”.

A DP da DP… Se você enxergou duplo sentido no nome da música, você está certo. A faixa estabelece uma relação entre dupla penetração e Delegacia de Polícia que, coincidentemente, tem a mesma sigla, “DP”. O duplo sentido é suficiente para uma letra perspicaz e crítica, além de resultar em um clipe exageradamente divertido e intimidador: “A DP pode ser um sexo danadinho, mas na DP o cacete desce sem carinho. É porque fazer uma DP não pode ser a mesma coisa que parar na DP…”.

##Filarmônica de Pasárgada – Fiu Fiu

Filarmônica de Pasárgada existe desde 2008 e surgiu no curso de Música da USP. Os portões da universidade logo se abriram e, hoje, a banda representa uma das faces da nova música brasileira. As letras questionadoras merecem reverências e a capacidade que o grupo de amigos tem de transitar entre estilos diferentes, idem. De O seu tipo a Fiu Fiu, passando por Saudadeando, os músicos provam que levam a sério o que fazem e que não estão de brincadeira.

Fiu Fiu, por sinal, é um espetáculo à parte. Primeiro pelo funk. Segundo, pela narrativa cinematográfica do clipe. Terceiro, pela incrível participação da artista Laerte, que se “assumiu” transexual aos 57 anos  e, também pela ponta que Tom Zé faz no fim do filme. Final, aliás, que é um verdadeiro puxão de orelha. Em determinado momento, a câmera enquadra Laerte de costas encarando um banheiro. No plano detalhe da placa, no lugar onde deveria estar escrito “feminino” aparece “minino”, devido à deterioração do material. Ela tenta abrir e, vendo que suas tentativas são inúteis, começa a bater e esmurrar a porta até que Tom Zé surge em cena e dá espaço para a utilização do banheiro. Além de toda essa mensagem contra os esteriótipos de gênero, o plano principal surge da ideia de combater os abusos que as mulheres sofrem, como cantadas na rua. A ambientação em um açougue deixa tudo ainda mais contundente.

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