Cinco Músicas Muito Relevantes da Temporada 2015

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Todo produto cultural, de uma forma ou de outra, reflete a época que foi feito – esse é um conceito básico para analisar qualquer obra, desde uma peça de teatro até uma peça publicitária. Com música, é claro, não seria diferente.

Em meio a tantos ótimos lançamentos, de vez em quando uma faixa se destaca pela maneira com que seu conteúdo inspira-se e revela características muito próprias do período, seja com uma postura assumidamente crítica ou não. São músicas que cumprem seus papeis, seja lá quais sejam (emocionar, fazer dançar ou o que for), de uma maneira que, quando olharmos para elas no futuro, identificaremos a relevância de suas letras nessa época.

Dentre tudo o que ouvimos nos últimos meses, aqui vão cinco exemplos de faixas propriamente lançadas em 2015.

##Boa Esperança

Expor o racismo na sociedade brasileira não é novidade em nossa produção artística nem na discografia de Emicida. A música que antecede seu próximo álbum, entretanto, resume o clima de revolta compartilhado pela grande maioria das pessoas que possuem uma postura mais crítica quanto à própria cultura do nosso país. O rapper manda seu papo reto de uma maneira quase agressiva, cutucando as feridas com os verbetes necessários para chamar atenção a um problema vergonhoso que não pode ser ignorado por uma sociedade tão tomada por ódio.

##Legado

Scalene começou a mostrar o álbum Éter através de uma música que usa a jovialidade intrínseca ao rock para falar sobre um tema avesso a isso: O fim da vida. Isso vem, porém, a partir de um olhar crítico em relação às gerações de hoje, tomadas por puro egocentrismo. Vivendo de ilusão, as pessoas veem a si mesmas como os fins de tudo o que fazem e, com isso, estão sempre solitárias e sem maior rumo. A conclusão da música oferece então uma alternativa: “Só me sentirei pronto pra partir quando me doar, pelos outros ser”.

##Hate to Say I Told You So

Ainda no mesmo assunto, a faixa de estreia da banda Peartree faz uma crítica às mesmas gerações egocêntricas, só que puxando pro lado do narcisismo e a consequente “quebrada de cara” que qualquer um que foi criado se achando o máximo acaba enfrentando na vida – como a letra diz, sem perceber que o indivíduo é tão especial quanto mais um bilhão de outros. Não é algo agradável de dizer ou ouvir (daí também o título da música), mas altamente necessário que seja comunicado.

##Cause I’m a Man

Uma balada triste pós-fim de relacionamento – nenhuma novidade nisso, a não ser que seja nas mãos de Tame Impala. Kevin Parker propõe aqui um argumento no pedido de desculpas que reconhece suas falhas, baseadas em orgulho e fragilidade, justamente por ser homem. É um olhar sobre a masculinidade impossível de ser propagado em gerações passadas (ainda mais por homens, principalmente em um contexto heterossexual). “Porque sou homem, nunca serei tão forte quanto você”, o último refrão diz, pouco depois dos versos que dizem que sua “fraqueza é a fonte de todo meu orgulho”. Denso, honesto e altamente relevante.

##Proporcional

Diversidade e autoaceitação andam de mãos dadas nesta faixa de Tulipa Ruiz. “Cada um tem seu formato”, ela canta para contar de um relacionamento que “aconteceu de caber”. Tem a ver com admitir que os casais serão formados de maneira mais livre do que o convencionalmente esperado, além da felicidade de poder combinar com alguém com suas próprias características – no caso, usando a forma física como exemplo, mas é possível aplicar o raciocínio aos mais diversos aspectos. Merece todo nosso respeito.

Curta mais de: Emicida | Scalene | Peartree | Tame Impala | Tulipa Ruiz

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