Cinco Músicas Brasileiras Mais Bonitas de 2018

Diferente do que foi publicado em todos os outros anos da lista de Cinco Músicas Brasileiras Mais Bonitas, a desta vez ruma em uma direção mais explícita, por mais que esse conceito já estivesse às vezes presente em todas as entrelinhas. Além da subjetividade do termo “bonitas”, vamos falar agora também em novidade e até mesmo em surpresa.

Novidade porque, em um ano com lançamentos de tantas figuras emblemáticas da nossa música que estão a uma, duas ou cinco décadas em atividade pelo país, esta lista faz questão de priorizar os nomes recentes do cenário musical brasileiro. Alguns deles já apareceram na seleção de “mais bonitas” de outros anos, mas seguem sendo novidade tanto em uma perspectiva de uma linha do tempo maior, quanto musicalmente falando.

E aí vem também o quesito “surpresa”. Foram selecionadas cinco músicas que, cada uma por seu motivo, tem o fugir do comum como natureza e o construir sua “beleza” a partir desse espírito. Pode ter a ver com sua estrutura ou mesmo com o contexto em que foi lançada, mas a audição de cada faixa – na primeira ou na enésima vez – não acontece sem despertar nossa curiosidade.

Dito isso, vamos às Cinco Músicas Brasileiras Mais Bonitas de 2018.

(Veja também as listas de 201720162015201420132012 e 2011)

Rubel – Cachorro

Liberdade é a palavra-chave para apreciar Cachorro. Tem a ver com seus versos, que citam cenas de poesias cotidianas que inspiram à leveza e ao movimento. Eles aparecem com aparência solta, saindo na voz de Rubel em um grau certeiro de contemplação e sentimentalismo, brincando com métricas e repetições. Antes do fim, a música se reconstrói com uma nova energia, como se estivesse satisfeita por ter chegado aonde queria. Dentro de Casas, um disco carregado de beleza, Cachorro é de um maravilhamento caloroso e amigável, fazendo jus ao título e ao sorriso que causa a cada audição.

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Duda Beat – Todo Carinho

O que marca a audição de Sinto Muito é a sinceridade expressada em faixas sobre o desapego, como Bixinho, e ambientação pop e eletrônica carregada de regionalismo. Daí também a comoção quando, ao chegarmos à última faixa, o disco apresentar uma sonoridade inesperada com cordas e piano que logo ligamos às grandes cantoras da MPB. Foi a escolha certa para, no mesmo grau de honestidade das músicas anteriores, os versos da cantora e compositora pernambucana, que relata aqui saudades e amores admitidos. Quem já foi ao show sabe o frio na barriga que é ouvir o verso “Todo carinho do mundo para mim é pouco” sendo repetido por toda a plateia. Uma grande faixa para encerrar um belo álbum.

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Jaloo + MC Tha – Céu Azul

Também foi inesperado ver o sentimentalismo que a união dos dois músicos trabalhou nessa parceria, com a estética eletrônica e cheia de brasilidade que ambos costumam trabalhar. Seu vídeo oficial, com cara de “clipe antigo do Fantástico“, ajuda a situar a canção de amor em um referencial MPB que legitima seu lançamento, como se tornasse o dueto incontestável. Tudo isso ampara muito bem a poesia construída em um espírito contemporâneo de experiências amorosas com ghosting (“Hoje, eu que finjo que você não existe”) e “cara enjoada de fotografia”. Mais um belo retrato de como toda uma geração se sente em busca “do tal do ego bom”.

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Tuyo – Cuidado

“Eu não preciso de você” é um dos versos mais empoderadores do ano, pelo menos no mais íntimo dos âmbitos. Mesmo com o dedo em riste, a frase chega sem ameaça, deboche ou qualquer outro aspecto que não a sanidade, entregando toda uma música que não precisa falar alto para ocupar todos os cantos do ouvido. Pelo contrário, a faixa faz questão de diminuir e sussurrar em um dos momentos mais orgânicos de um disco carregado em produção. Ao vivo, entretanto, a força da composição não pede licença e faz com que Cuidado seja um ponto alto não só do show, mas também entre todos os lançamentos recentes, reunindo em si todas as qualidades que nos fazem aplaudir Tuyo de pé sem medo de deixar as lágrimas saírem.

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João Capdeville + Caio Prado – Eu Não Te Escuto

Por falar em lágrimas, eis uma das músicas mais fortes que esta nova geração no Brasil lançou nos últimos anos. Assim como a parceria Tulipa Ruiz e Criolo fez em 2012 com VíboraEu Não Te Escuto alterna volumes e explosões no refrão para trazer uma melancolia crua, rasgada e insone com um impacto no ouvinte que beira a irresponsabilidade. Longe de ser uma simples canção triste, ela é um retrato de devastação emocional sem rodeios, rédeas ou medidas. Ouça na mais plena entrega – dói, mas vale a pena.

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(Veja também as listas de 201720162015201420132012 e 2011)

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