Castello: “Sou muito aberto ao novo, às coisas que estou sentindo”
“A vida é uma história, né?” – a gente sempre sabe que uma conversa com Castello vai ser boa, daí ele vem e, com aquele jeitinho coloquial e afetuoso que marcou seu trabalho, abre o papo com uma frase dessas. O sorriso é certo, assim como anima qualquer entrevistador para continuar o papo satisfeito.
Esse encontro por telefone surgiu pelo anúncio de uma nova fase em sua carreira. Após ter lançado dois discos como Castello Branco, ele agora encontra-se em estúdio trabalhando em um terceiro apenas com a alcunha Castello. Foi na vontade de investigar esse novo momento em sua vida artística que fomos conversar, enquanto ele se preparava também para sua apresentação no MECAInhotim (em Brumadinho, MG), no próximo 17 de maio.
“Eu não acredito em recomeço, assim como eu não acredito em desconstrução”, sentencia Castello ao ser perguntado sobre este novo momento, “não acredito em recomeço, porque a pausa faz parte do texto. Existem capítulos. E não acredito em desconstrução porque é uma construção só que você vai lapidando. Eu acredito em lapidação. Eu não acho que são vários recomeços, sempre vai ser uma coisa só em sintonia com o ciclo atual, com o capítulo. E esse terceiro capítulo é um resgate, é uma mistura dos dois anteriores”.
Conversando com ele, fica mais claro que entrar em uma nova fase e apresentar as mudanças que ela traz são processos muito naturais para ele. Faz ainda mais sentido seu último projeto ter sido Castello Dança -Sintoma, com show e disco que remixava as músicas de seu álbum mais recente.
“Eu não me apego muito às coisas não, sabe? Acho que isso vem da minha criação. Nunca tive foto, as coisas eram deixadas para trás, se olhava muito para o presente e para frente. Então, eu acho que acabo me vendo assim hoje em dia. Não tenho apego a nada que eu faço e sou muito aberto ao novo, às coisas que estou sentindo no momento, no ciclo da vida”.
Sabendo também que toda mudança acontece na hora certa, conversamos sobre como este momento é diferente daquele em que conhecemos seu trabalho solo – embora ele já fosse familiar dos tempos de R Sigma -, quando Serviço chegou em 2013: “Tô menos desesperado, tô mais maduro e tô me conhecendo mais. Passei por muitos processos de amadurecimento, então me sinto mais confiante para muita coisa”.
Sobre a turnê de Sintoma (2017), ele brinca que aprendeu “que o disco é muito difícil de tocar (risos), porque ele é muito introspectivo, ele é muito interno, as coisas são muito delicadas. Eu sinto que, num futuro não muito distante, eu tenha mais recursos para apresentar tanto o Sintoma quanto o Serviço da maneira que eu acho que eles têm que ser apresentados. Eu não consegui fazer isso, mas acho que vai chegar esse momento”.
Por fim, era inevitável perguntar sobre como suas mensagens se tornaram cada vez mais urgentes em um Brasil como este que a gente vive, tão violento, intolerante e fechado ao outro, e se olhar para o lado e ver essas tem algum impacto direto em suas composições ou no senso de ter que fazer mais música. Na resposta, ele foi breve, enfático e – como sempre – sensível: “Faço disco porque devo fazer. O sentimento é exatamente como você descreveu”.
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