Caroline Rose e o Processo de Cura no Disco “The Art of Forgetting”

foto por cristina fisher

Dez anos separam os primeiros trabalhos de Caroline Rose e seu mais recente álbum, The Art of Forgetting, lançado em março. Ao ser perguntada sobre a diferença entre este lançamento e aqueles de uma década atrás, a artista estadunidense brinca: “Eu espero estar hoje um pouquinho melhor”.

Falando ao Música Pavê, ela diz que ainda se reconhece nas músicas antigas sempre que as escuta. “Eu hoje entendo que eu estava muito no comecinho da estrada, ainda tinha muito o que percorrer, mas as inspirações ainda são as mesmas. Acho que, na minha vida e na minha carreira, eu sou uma esponja que está sempre absorvendo novas fontes de inspiração. Não deixei nada para trás, sigo construindo com base em tudo o que tenho. E eu absorvo cada vez mais informações para utilizar na minha criatividade”.

The Art of Forgetting faz justamente isso: Permite com que a artista mergulhe fundo em seu repertório emocional para compor músicas que investigam vivências que ela teve ao longo da vida, até um término de relacionamento recente. “Sempre que expresso minhas emoções é também um processo de cura”, conta Caroline.

“Algo muito importante ao fazer esse álbum é que, quando eu estava compondo, me sentia da mesma forma que quando eu comecei a fazer música. Era algo para mim mesma, como uma maneira de expressar minhas emoções e registrar meus pensamentos de uma maneira natural. Foi assim desta vez também, eu nem tinha a intenção de realizar um álbum, só estava escrevendo sobre aquilo que eu passava. No fim das contas, [meu trabalho] é expressão de sentimentos. Honestamente, nada mais do que isso”.

Dá para notar também que, junto de toda a sensibilidade presente nas letras, há também um certo bom humor em muitas de suas músicas. Ao ser perguntada sobre isso, ela explica que “é uma parte tão natural da minha vida que acaba aparecendo nas músicas. Minha família tem um senso de humor um tanto dark, e a maneira como expressamos amor é zoando uns aos outros. E mesmo quando estou nos tempos mais escuros, consigo ainda assim encontrar algum humor naquela situação”.

É por isso também que The Art of Forgetting, mesmo em seus momentos mais intensos, permite uma certa leveza na experiência da audição. Com produção assinada pela própria Caroline, o álbum traz uma variação sônica interessante, com sempre algum novo detalhe que surpreende o ouvinte ao longo das músicas.

“A sonoridade do álbum apareceu assim que as músicas foram compostas e eu entendi que tinha um disco completo”, conta ela, “eu ia chamar outra pessoa para produzir, mas eu enxergava muito especificamente uma imagem de uma pessoa em um palquinho, uma aura lo-fi, com um holofote em cima dela. E quando os momentos mais intensos das músicas surgem, é como se eles viessem das profundezas e cercassem a cena com muitas cores. Eu via essa cena em todas as músicas, uma narrativa pequenininha que se tornava uma paisagem sonora enorme. Acho que essa figura de linguagem reflete a sensação de isolamento e solidão que está nas composições, mas também a beleza que há nos processos de cura”.

Junto ao disco, Caroline Rose produziu um filme para a obra (os clipes de Miami e Tell Me What You Want servem como os dois primeiros capítulos da história). “É algo que sempre quis fazer, até pela maneira que eu componho minhas músicas – cada faixa é como um filmezinho particular”, diz a artista. Com direção de Sam Bennett, o curta traz mais uma oportunidade da cantora reviver seus traumas, agora atuando. “Eu sempre fui uma nerdzinha de musicais (risos), é algo divertido para mim”, explica ela, “gosto de me fantasiar e subir no palco para atuar. É mais uma forma de me expressar, e uma forma bem divertida”.

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