“CARISMA” é o Resultado de Anos e Anos de Salt Cathedral em Atividade

Dois colombianos em Nova York. É a partir desse referencial que começamos a descascar camada por camada o som que Salt Cathedral apresenta hoje, sete anos depois de seu surgimento e de uma jornada consideravelmente incomum. Tanto é que seu primeiro álbum, CARISMA, foi lançado só no último 1º de maio.

Em conversa com o Música Pavê poucos dias após o lançamento do disco, Juli e Nico se surpreenderam ao ouvir que acompanho seu trabalho desde o surgimento do grupo, em 2013. Na época, Salt Cathedral era um quinteto que trabalhava referências bastante diferentes de um indie pop e eletrônico como o apresentado hoje pelo duo.

As mudanças ao longo do tempo e a parceria com MC Bin Laden em How Beautiful (She Is) pautaram toda a entrevista, que você pode ler na íntegra abaixo.

Música Pavê: É indiscutível que muito aconteceu com Salt Cathedral desde sua criação em 2013. Mas queria ouvir de vocês como avaliam o passar do tempo e tudo o que levou os dois até CARISMA.

Nico: Sempre nos vimos como estudantes de música. É um processo de autodescoberta e de entender nossa relação com os diversos estilos de música e jeitos de pensar. Isso faz parte do nosso trabalho, nós nunca planejamos ser esse tipo de som ou de banda. É tudo descoberta e aprendizado: Estudamos música e, através disso, nos expressamos.

Juli: Concordo com Nico. Abraçamos as mudanças, gostamos de nos reinventar, de nos redescobrir e de quebrar os limites. Queremos colocar nas músicas aquilo que sentimos ou que acreditamos. Nossos corpos são meios para a música. Temos hoje o mesmo espírito do primeiro disco, com uma banda completa.

MP: Vocês conseguiriam naquele início imaginar que chegariam a 2020 fazendo uma música assim?

Nico: Não imaginávamos que faríamos exatamente o som que fazemos, mas sabíamos que ele mudaria. No início, éramos um quinteto que se inspirava no math rock e no jazz. Hoje, trabalhamos no eletrônico.

Juli: Estamos fazendo música dançante hoje, mas não sabemos o que acontecerá em dois anos.

MP: Uma coisa que eu acho que nunca mudou em seu som é uma espécie de curiosidade, uma certa vontade de fazer algo novo.

Nico: Essa é nossa força motora. Meus heróis na música brasileira, como Caetano, Milton e Verocai, estão sempre mudando também. A Tropicália foi um momento lindo de explorar mais da música brasileira. Por ser colombiano, tenho alguns poucos estereótipos para seguir: Ou faço reggaeton, ou faço música folclórica, ou um indie que ninguém vai ouvir. Ser colombiano significa ter essa fome de ir atrás de mais possibilidades.

MP: Já que você tocou no assunto de música brasileira, adoraria ouvir como foi ter MC Bin Laden e letras em português em How Beautiful (She Is).

Nico: Foi um processo muito longo. Acho que MC Bin Laden representa aqueles que vêm de de um lugar ainda não estabelecido, por isso a criatividade é tão alta. É como o dancehall na Jamaica, com o qual a produção é livre para fazer o que quiser. Você pode ser agressivo ou não, ninguém liga para as paradas de sucesso, por isso é algo puro. Nós ouvimos muita coisa. Eu fui infectado pelo funk carioca há uns cinco anos (risos). Estava obcecado com as festas brasileiras que aconteciam em Nova York. Eu adoro a produção e o flow do funk. Para mim, ouvir MC Bin Laden é como ouvir Björk: É outro nível, é vanguardista e muito criativo.

MP: Juli, você também tem uma conexão com a música brasileira?

Juli: Totalmente! Quando comecei na música, eu era apaixonada por discos de jazz e decidi que era isso que eu queria fazer. Todos falavam que eu era louca, e eu hoje concordo. Comecei a estudar o repertório de jazz e me ensinaram muita coisa brasileira, então logo me apaixonei por bossa nova e samba. Por muito tempo, eu ouvia só isso, lembro de ficar traduzindo as letras. Nico me apresentou o baile funk e nós íamos para as festas dançar, eu ouço MC Bin Laden já há muito tempo. Eu sempre fui fascinada com o Brasil e, por muito tempo, meus planos eram me mudar para aí depois da faculdade. É interessante como o país faz parte da América Latina, mas parece um outro mundo.

MP: Como vocês enxergam essa liberdade de cantar em inglês, espanhol e português? Sua intenção sempre foi essa mistura?

Juli: Depois de terminar a faculdade, tínhamos visto para mais um ano de residência nos EUA, e começamos a tocar para nos integrarmos àquele mercado. Naquela época, não era legal ser colombiano ou latino na música, não tinha cena nenhuma para nós.

Nico: Nós experimentamos a mudança de clima em Nova York e nos EUA. Hoje, é natural cantarmos também em espanhol. Não precisamos mais tentar nos misturar, podemos fazer o que quisermos. E entendemos que parte da beleza que experimentamos é poder abraçar nossos diferentes idiomas na música.

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